domingo, 23 de março de 2025

O ENCONTRO DAS ÁGUAS E DOS CORAÇÕES UM CONTO DO BOTO COR-DE-ROSA. UMA CRIAÇÃO DE ALBERTO ARAÚJO


No mais íntimo do rio Amazonas, onde o sol beija a água e a lua tece véus de prata, vivia um boto cor-de-rosa chamado Igarapé. Ele era diferente dos outros botos, pois carregava em seu coração um anseio profundo por conhecer o amor humano. 

Em noites de lua cheia, quando o rio se tornava um espelho mágico, Igarapé emergia das águas e se transformava em um belo homem de olhos negros e sorriso cativante. Vestido com um terno branco que brilhava como a neve, ele se aventurava pelas comunidades ribeirinhas, em busca de um amor que transcendesse as barreiras entre os mundos. 

Em uma dessas noites, Igarapé encontrou Jurema, uma cabocla de beleza singular, com cabelos negros como a noite e olhos que refletiam a luz das estrelas. Ela era a mais bela dançarina da aldeia, e seu ritmo contagiante encantava a todos.

Igarapé a convidou para dançar, e seus corpos se moviam em perfeita harmonia, como se fossem um só. A música os envolvia em um turbilhão de emoções, e seus corações batiam em uníssono. Jurema se sentia enfeitiçada pelo charme e pela gentileza de Igarapé, e ele se perdia na beleza e na doçura dela. 

Naquela noite, o amor floresceu entre eles, puro e intenso como as águas do rio. Eles dançaram sob a luz da lua, trocaram juras de amor eterno e se entregaram à paixão que os consumia. 

Mas o tempo, implacável, não perdoava. Com o primeiro raio de sol, Igarapé sentiu o chamado das águas e precisou se despedir de Jurema. Com o coração apertado, ele a beijou e prometeu retornar em breve. 

Jurema, com lágrimas nos olhos, viu seu amado se afastar, transformando-se em um boto cor-de-rosa que mergulhou nas profundezas do rio. A tristeza invadiu seu coração, mas a lembrança daquela noite mágica a confortava. 

A lenda do boto namorador se espalhou pelas comunidades ribeirinhas, e muitas moças sonhavam com o dia em que encontrariam seu próprio Igarapé.

Mas Jurema sabia que o amor que compartilhou com ele era único e especial, um encontro de almas que transcendeu os limites entre os mundos. 

E assim, a lenda do boto namorador e da cabocla Jurema se tornou um símbolo do amor que desafia as barreiras, um conto que ecoa nas noites de lua cheia, lembrando a todos que o amor pode florescer nos lugares mais inesperados, unindo mundos e corações em um encontro eterno.

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Homenagem ao Bernardo Pessanha, que interpretou o Boto Cor-De-Rosa durante a apresentação: A Floresta Amazônia, no aniversário de Márcia Pessanha, em 15 de março de 2025. 

Uma criação de © Alberto Araújo

 




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