Na penumbra dos dias que se arrastam
entre o concreto e o digital, o nome de Adônis ressurge como uma brisa antiga,
soprada pelas palavras do professor Marco Antônio Martins Pereira. Não é apenas
uma evocação mitológica, mas um convite ao mergulho lírico na essência da
beleza, do amor e da natureza que morre para renascer.
Adônis, figura mitológica grega, é
mais do que um jovem de beleza extraordinária. Ele é o arquétipo do efêmero, do
que encanta e escapa, do que floresce e fenece. Amado por Afrodite, deusa do
amor e da beleza, e por Perséfone, senhora do submundo e dos mistérios da
terra, Adônis é disputado entre o céu e o inferno, entre o desejo e a morte.
Seu mito é um poema trágico que atravessa os séculos, simbolizando o ciclo
eterno da vida que se desfaz para se refazer.
Mas antes de ser grego, Adônis foi
fenício. Seu nome, derivado de "Adon", significa "Senhor".
Um título que carrega reverência e poder, mas que, na boca dos poetas, se
transforma em lamento e saudade. A mitologia fenícia, rica em simbolismos
solares e vegetais, já desenhava em Adônis a imagem do deus que morre com o
inverno e renasce com a primavera. Um deus vegetal, cuja morte é chorada pelas
mulheres e cuja volta é celebrada com flores.
E é justamente uma flor que perpetua
seu nome na botânica: a flor de Adônis. Pequena, delicada, de cores vibrantes,
ela brota como lembrança viva do mito. Cada pétala é uma página do drama
antigo, cada caule uma linha do poema que a natureza escreve em silêncio. A
flor de Adônis não é apenas uma planta; é um símbolo da beleza que resiste ao
tempo, da memória que floresce mesmo entre ruínas.
Na linguagem comum, Adônis virou
sinônimo de beleza masculina. Um elogio que carrega ecos de um passado
mitológico, como se cada rosto belo fosse uma reencarnação do jovem amado por
deusas. Mas há algo de melancólico nesse elogio. Porque a beleza de Adônis não
é apenas estética; é trágica. É a beleza que sabe que vai morrer, que carrega
em si o presságio da queda.
E como se não bastasse, Adônis é
também o pseudônimo de um famoso poeta sírio. Um homem que, com palavras,
recria o mundo, que transforma dor em verso, que faz da língua árabe um templo
de beleza e resistência. O poeta Adônis é herdeiro do mito, não por sua
aparência, mas por sua capacidade de renascer em cada poema, de fazer da arte
um campo de flores que desafia a morte.
A postagem do professor Marco Antônio
é, portanto, uma oferenda. Uma oferenda ao mito, à cultura, à beleza que não se
explica, mas se sente. É certamente, uma crônica imagética que não apenas
informa, mas transforma. Que nos faz olhar para o mundo com olhos de quem sabe
que tudo é passagem, mas que há passagens que florescem.
Adônis é o jovem que morre e volta. É
a flor que brota no inverno. É o poema que resiste ao silêncio. É o senhor da
beleza que não se prende ao espelho, mas se espalha na memória dos que sabem
ver. E ao lembrarmos-nos de Adônis, lembramos-nos de nós mesmos: seres que
amam, que perdem, que renascem.
E assim, entre o mito e o cotidiano,
entre a aula e o sonho, entre o Facebook e a eternidade, Adônis caminha. E nós,
leitores, seguimos seus passos, guiados pela voz do professor que, como um
jardineiro de ideias, nos oferece essa flor rara chamada conhecimento.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
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