No dia 19 de dezembro de 2025, uma sexta-feira que se tingia de dourado no entardecer de Niterói, a Sociedade Fluminense de Fotografia abriu suas portas para um encontro raro: palavra e imagem, silêncio e música, o mínimo e o imenso. Entre 16h e 20h, o espaço presidido pelo acadêmico Antônio Machado tornou-se palco de uma celebração que não era apenas literária, mas também humana. Ali, sob a curadoria da Parthenon Centro de Arte e Cultura e autores, quatro escritores se reuniram para lançar Quarteto Fora De Si, obra que condensa mundos em partículas narrativas, minicontos que são centelhas de vida.
Às 16 horas, os escritores já aguardavam seus admiradores, sentados à mesa iluminada por holofotes que pareciam sublinhar a importância daquele instante. À frente deles, uma fotografia monumental de Villa-Lobos lembrava que a arte, em todas as suas formas, é sempre música. E como se fosse um prolongamento dessa imagem, o ambiente se preenchia com sons escolhidos a dedo: Djavan, Chico Buarque, Adriana Calcanhoto, Jorge Vercilo e outros nomes da MPB que, como os minicontos, sabem dizer muito em poucas notas.
Os convidados chegavam um a um, trazendo consigo o calor da amizade, o respeito acadêmico, a curiosidade literária, o afeto familiar. Cada autógrafo era mais que uma assinatura: era um gesto de partilha, um pacto silencioso entre autor e leitor. E quando o relógio já se aproximava das 20h, ainda havia mãos estendidas, livros abertos, olhares atentos. A festa se prolongava, como se o tempo também tivesse decidido se perder nos interstícios da literatura.
Quarteto Fora De Si é mais que um título: é uma provocação, um convite a sair de si para habitar o outro, o instante, o silêncio. Os minicontos que compõem a obra são como fagulhas que iluminam o cotidiano. Breves, mas jamais superficiais. Eles não explicam, insinuam. Não se impõem, oferecem. O leitor é chamado a preencher os vazios, a interpretar os silêncios, a habitar os interstícios. É uma literatura que respeita a inteligência e a sensibilidade de quem lê.
Cada texto é uma fotografia literária: captura o instante, congela o gesto, revela o invisível. Como num mosaico vibrante, o livro se apresenta múltiplo, pulsante, livre. É um caldeirão de pequenas histórias que, juntas, compõem uma sinfonia de brevidades. E se a fotografia congela o olhar, o miniconto congela o pensamento e ambos eternizam o efêmero.
O Parthenon Centro de Arte e Cultura ao lançar Quarteto Fora De Si, reafirma seu compromisso com uma literatura que não se curva ao mercado, mas se ergue como expressão legítima da alma humana. Sob a presidência de Mauro Carreiro Nolasco, o Parthenon se consolida como holofote para autores que desejam mais que publicar: desejam partilhar, dialogar, provocar. Cada livro editado é tratado como obra de arte, gesto polido, ato de amor.
O lançamento na Sociedade Fluminense de Fotografia, na Rua Doutor Celestino, 115, no Centro de Niterói. Que é um espaço que, como o livro, valoriza o instante, o detalhe, o olhar foi meramente inspirador. A fotografia e a literatura se uniram para celebrar o humano em suas múltiplas expressões. O ambiente era uma metáfora viva: imagens nas paredes, palavras nos livros, música no ar. Tudo conspirava para que o evento fosse mais que um lançamento: fosse uma celebração da arte e da vida.
A Chef Valéria Gervásio foi responsável pelo coquetel, que apresentou iguarias deliciosas, regadas a vinho de safra generosa. Cada sabor era também narrativa, cada taça um brinde à palavra. O paladar se somava à visão, ao ouvido, ao tato, compondo uma experiência sensorial completa. Porque literatura também se celebra com o corpo, com os sentidos, com a presença.
Participar do lançamento de Quarteto Fora De Si foi mais que assistir a um evento: foi mergulhar em um universo de brevidades que se tornam eternas. Foi reconhecer que a literatura não precisa de longas páginas para ser profunda. Que o instante pode conter o infinito. Que quatro vozes distintas podem se unir em uma sinfonia única. Que estar fora de si é, muitas vezes, a melhor forma de estar dentro da arte. Afinal, o livro é também sobre você. Sobre todos nós que, em algum momento, já estivemos fora de si e encontramos na literatura um caminho de volta. Um caminho feito de palavras breves, mas intensas. De silêncios que falam. De gestos que revelam. Quarteto Fora De Si é uma celebração da palavra, da arte e da vida. E como toda celebração verdadeira, não termina quando o evento acaba: continua em cada leitura, em cada reflexão, em cada coração que se deixa tocar.
A força de Quarteto Fora De Si reside na pluralidade de seus criadores. São
quatro vozes distintas, quatro universos singulares que, ao se entrelaçarem,
compuseram uma constelação de sentidos. Cada autor é um quadro, uma fotografia,
uma paisagem interior. Juntos, formaram uma galeria viva de brevidades.
LEONILA MURINELLY – A PINTORA DO COTIDIANO
Leonila é a terra fértil do quarteto,
aquela que acolhe e faz germinar sentidos escondidos nas pequenas coisas.
Professora, contista e cronista, sua escrita nasce da observação minuciosa dos
gestos mínimos, dos silêncios que passam despercebidos, das sutilezas que
moldam o dia a dia. Cada palavra é pincelada suave, mas firme, que revela o
extraordinário escondido nas dobras do trivial, como se a vida fosse uma tela
em constante movimento. Seus minicontos são retratos impressionistas: capturam
a luz fugidia de um instante, ampliam o invisível e devolvem ao leitor a beleza
oculta no simples. Ler Leonila é como contemplar uma tela de Monet: o banal se
dissolve em cores, o silêncio se torna música, e o instante ganha permanência.
Sua literatura é chão, raiz, permanência, mas também horizonte aberto, capaz de
transformar o cotidiano em paisagem poética, onde cada detalhe floresce e se
eterniza no olhar de quem lê.
IRAN PITTHAN – O ESCULTOR DO PENSAMENTO
Iran é o fogo do quarteto, a energia
que incendeia ideias e transforma o pensamento em matéria palpável. Com
formação filosófica, sua palavra é enxuta, densa, precisa, como se cada frase
fosse talhada na pedra da linguagem. Cada sentença é golpe de cinzel, cada
silêncio é polimento que dá forma ao invisível. Seus minicontos suspendem o
tempo: o instante se alonga, o efêmero se torna eterno, e o leitor é convidado
a permanecer diante da obra como quem contempla uma escultura rara. São
esculturas mínimas que instigam a reflexão, provocam o desvio, e abrem caminho
para o mergulho no abismo da consciência. Ler Iran é como caminhar por um museu
de formas abstratas: cada peça é pergunta, cada vazio é resposta, cada fissura
é revelação. Sua literatura é chama que ilumina e consome, revelando a essência
oculta da existência, e deixando no leitor a marca de uma experiência estética
e filosófica que transcende o cotidiano.
MÁRCIA PESSANHA – A FOTÓGRAFA DO INVISÍVEL
Márcia é a água do quarteto, fluida e essencial, capaz de se infiltrar nas frestas da vida cotidiana e revelar o que muitos não percebem. Sua escrita transforma o banal em sublime, convertendo gestos simples em epifanias e silêncios em melodias. Nos minicontos que cria, há a precisão de um haicai urbano: breves, intensos, memoráveis, como flashes que iluminam a escuridão da rotina. Cada texto é uma fotografia em preto e branco, aparentemente despojada, mas carregada de profundidade simbólica, onde o contraste entre luz e sombra revela camadas ocultas da experiência humana. Ler Márcia é como folhear um álbum íntimo: cada cena guarda uma revelação, cada detalhe é flor que desabrocha no concreto da cidade. Sua literatura é correnteza que desliza suave, mas abre caminhos profundos, convidando o leitor a mergulhar em águas invisíveis, onde o real se encontra com o poético e o efêmero se torna eterno.
MAURO CARREIRO NOLASCO – O MAESTRO SILENCIOSO
Mauro é o ar do quarteto, presença sutil e indispensável, que circula entre os demais e dá fôlego às palavras. Editor e autor, é o elo que costura as vozes do livro com precisão e afeto, criando uma tessitura literária que se sustenta pela harmonia entre diferenças. Sua atuação editorial é marcada pela escuta atenta, pela curadoria sensível e pela visão artística que transforma cada obra em gesto político e ato de amor, revelando o poder da literatura como espaço de resistência e encontro. Como escritor, transita entre o poético e o filosófico, criando textos que provocam e acolhem, que desafiam o pensamento e, ao mesmo tempo, oferecem abrigo ao leitor. Em Quarteto Fora De Si, Mauro é maestro invisível: orquestra uma sinfonia de brevidades que ressoam fundo, conduzindo cada voz sem jamais se sobrepor a elas. Ler Mauro é como ouvir uma peça de Villa-Lobos: múltipla, intensa, capaz de unir o íntimo e o universal, o silêncio e o clamor. Sua literatura é sopro, travessia, horizonte, um convite a respirar mais fundo e a enxergar além.
QUATRO ELEMENTOS, UMA SINFONIA
Leonila é a terra que sustenta, Iran é o fogo que incendeia, Márcia é a água que flui, Mauro é o ar que conecta. Juntos, formam um quarteto elemental, uma sinfonia de brevidades que se equilibram e se completam. Cada um traz sua força singular, mas é no encontro que se revela a potência maior: a literatura como espaço de diálogo, como território de múltiplas vozes que se entrelaçam sem se anularem.
Leonila, com sua escrita enraizada no cotidiano, oferece o chão firme, a base fértil onde germinam os sentidos ocultos. Iran, com sua palavra filosófica e precisa, é a chama que ilumina e consome, abrindo clareiras no pensamento. Márcia, com sua delicadeza poética, é correnteza que desliza e revela epifanias escondidas nos gestos mínimos. Mauro, com sua escuta e sua visão editorial, é o sopro que conecta, que dá fôlego e ritmo à sinfonia.
Quarteto Fora de Si é mosaico e concerto, fotografia e escultura, pintura e música. É o encontro de formas artísticas que se traduzem em literatura breve, mas intensa, capaz de condensar mundos em poucas linhas. Cada texto é fragmento e totalidade, instante e eternidade. O livro mostra que a pluralidade não fragmenta: ela amplia, enriquece, transforma. O quarteto não é apenas soma de quatro vozes, mas criação de uma linguagem comum, feita de diferenças que se harmonizam.
Essa obra é também um gesto político e afetivo: afirma que a literatura pode ser simultaneamente íntima e coletiva, pessoal e universal. Ao reunir terra, fogo, água e ar, o quarteto constrói uma paisagem simbólica que transcende o individual e se abre para o leitor como convite à contemplação e ao mergulho. Ler Quarteto Fora De Si é participar de uma sinfonia de brevidades, onde cada nota ressoa fundo e cada silêncio é parte essencial da música. É testemunhar como a arte, quando plural, se torna infinita.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
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