Na manhã de 13 de dezembro de 2025, o Salão Nobre da Academia Fluminense de Letras se iluminou não apenas com a claridade do dia, mas com a aura de uma celebração que ultrapassou todo o protocolo. Ali, entre colunas imponentes e o murmúrio expectante de uma plateia concorrida, a cidade de Niterói testemunhou um ato que se inscreve na história cultural fluminense: a entrega do título de Intelectual do Ano a Célio Erthal Rocha, advogado, jornalista, defensor público e, sobretudo, homem de palavra e de memória.
A consagração, presidida por Márcia Pessanha, não foi apenas uma homenagem. Foi um cerimonial de louvor. Aos 94 anos, Erthal permanece lúcido, ativo, profissional, como se o tempo fosse apenas mais um interlocutor a ser vencido pela força de sua inteligência. Sua presença no salão não era a de um homenageado passivo, mas a de um protagonista que, ao longo de décadas, construiu pontes entre o Direito, o jornalismo e a cultura, tornando-se referência incontornável da vida intelectual fluminense.
O primeiro gesto da solenidade foi carregado de simbolismo. A presidente Márcia Pessanha convidou os acadêmicos Eneida Fortuna Barros e Joaquim Eloy Duarte dos Santos para acompanharem Célio Erthal Rocha em sua entrada triunfal ao Salão Nobre. O público, em silêncio reverente, reconhecia naquele caminhar lento e firme a síntese de uma vida dedicada ao saber.
Logo após, os acordes do Hino Nacional, executados por instrumentos eletrônicos sob a responsabilidade técnica de Carlinhos, preencheram o espaço com solenidade. Era como se a pátria, em música, saudasse um de seus filhos mais ilustres.
A mesa presidencial foi composta por personalidades que representam o mosaico cultural e intelectual da cidade: A presidente da Academia Fluminense de Letras, Márcia Pessanha; Matilde Slaibi Conti, presidente do Elos Internacional; o desembargador Nagib Slaibi Filho, presidente da Academia Niteroiense de Letras e recém-eleito presidente da Academia Brasileira de Letras da Magistratura; o historiador Ismail Vicente Ferreira, representando o Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, a trovadora Beatriz Vasconcellos a Associação Niteroiense de Escritores, a trovadora Dulce Mattos representando a União Brasileira de Trovadores – seção Niterói, o livreiro Carlos Mônaco, criador do título Intelectual do Ano e, ao centro, o homenageado.
Cada presença na mesa era um elo de reconhecimento, um testemunho da pluralidade de áreas que se encontram na personalidade de Erthal: o Direito, a História, a Literatura, a jornalística, a memória coletiva.
Coube ao acadêmico Cleber Francisco Alves, da Cadeira 12, patronímica de Tomé Guimarães, a saudação oficial. Com palavras suaves e firmes, Cleber traçou o perfil do homenageado, desde sua vinda a Niterói até os dias atuais. Evocou sua atuação como jornalista nos jornais Correio Fluminense e O Fluminense, sua carreira na Defensoria Pública, sua liderança no Departamento de Comunicação Social do Estado durante o governo de Paulo Torres.
Mas não se limitou a fatos. Cleber enlevou seu discurso com a enumeração das honrarias recebidas por Erthal ao longo da vida: Medalha do Mérito da Escola da Magistratura, Colar do Mérito do Ministério Público, Medalha Comemorativa dos 60 anos da Defensoria Pública. E, em tom de reverência, chamou-o de “Baluarte da Academia Fluminense de Letras”, expressão que ecoou no salão como síntese de sua importância.
Chegou então a hora da entrega do título. A presidente Márcia Pessanha, visivelmente emocionada, leu os escritos da placa diante da presença de três personalidades que simbolizam a continuidade da honraria: Nagib Slaibi Filho, Intelectual do Ano 2024, Matilde Slaibi Conti, Intelectual do Ano 2016 e Carlos Mônaco, o livreiro que idealizou a distinção.
A placa dizia: "A Academia Fluminense de Letras outorga o título de Intelectual do Ano 2025 a Célio Erthal Rocha por sua relevante atuação no cenário cultural da cidade” perante os presentes e representantes das Instituições.
O gesto foi acompanhado por aplausos calorosos, que não eram apenas cortesia, mas reconhecimento coletivo.
Marcelo Amim, genro de Erthal, subiu ao púlpito para prestar homenagem ao sogro. Suas palavras afetivas e emocionadas contagiaram a plateia, que respondeu com aplausos entusiasmados. Era o testemunho íntimo que complementava o reconhecimento institucional: a presença pública se revelava também no afeto familiar, no homem que inspira não apenas colegas, mas gerações.
Quando chegou a vez de Célio Erthal Rocha falar, o salão se preparou para ouvir não apenas um discurso, mas uma lição. Como em todas as suas intervenções, Erthal falou firme, decidido, com a cadência de quem domina a palavra. Agradeceu aos familiares, aos amigos, às instituições presentes. Mas foi além: discorreu sobre sua alegria de pertencer ao mundo jurídico e cultural, reafirmando sua crença na palavra como instrumento de transformação. Mencionou suas obras, entre elas: “Jornalismo, Política e Outras Paragens” e “Um Olhar sobre o Ministério Público Fluminense”, lembrando que cada livro é uma tentativa de compreender e registrar o tempo vivido. Sua fala não foi apenas agradecimento: foi um manifesto de continuidade, a reafirmação de que, mesmo aos 94 anos, permanece ativo, inquieto, criador.
Como em toda celebração que se quer completa, a música coroou o evento. A soprano Magda Belloti, integrante do corpo estável do Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e solista de destaque na cena lírica carioca, interpretou clássicos da MPB; Modinha de Sérgio Bittencourt; Carinhoso de Pixinguinha e Braguinha e fechou com chave de ouro com My Way "Compositor: Claude François, Jacques Revaux, com a letra em inglês sendo adaptada por Paul Anka, que a reescreveu para Frank Sinatra e Aquarela do Brasil, composta por Ary Barroso. Sua voz, cristalina e poderosa, transformou o salão em palco de emoção. Cada nota parecia dialogar com a trajetória do homenageado, como se a música fosse a tradução estética de sua vida. Magda Muito emocionada também discorreu que o primeiro a contribuir em sua trajetória cultural foi o livreiro Carlos Mônaco e a saudosa artista Angela Gemesio. Afirmou que Carlos Mônaco pegou a sua mão e disse: eu acredito em você, na sua potência, que você tem o brilho de cantar no teatro, em 18 de novembro de 1994 ele a apresentou no Theatro Municipal de Niterói.
Ao final, os presentes foram convidados a saborear guloseimas preparadas pela Chef Valéria Gervásio e sua equipe. Pratos deliciosos, bolo e pudim de receitas ancestrais encerraram a solenidade com sabor de memória e tradição.
A solenidade de 13 de dezembro não foi apenas um evento. Foi a celebração de um legado. Célio Erthal Rocha, pertencente à tradicional família Erthal, é mais do que um nome inscrito em placas e livros. É um símbolo de resistência cultural, de compromisso ético, de paixão pela palavra.
Sua trajetória, que começou em Bom Jardim e se consolidou em Niterói, é a prova de que o intelectual não é apenas aquele que escreve ou fala, mas aquele que vive intensamente a cultura, que se coloca como ponte entre gerações, que inspira pelo exemplo.
Naquele salão, entre discursos, música e sabores, ficou claro que Erthal não é apenas o Intelectual do Ano de 2025. Ele é o intelectual de uma era, de uma cidade, de uma comunidade que reconhece nele a síntese de sua própria história.
Ao deixar o Salão Nobre, cada convidado levava consigo mais do que lembranças. Levava a certeza de ter participado de um momento histórico. A consagração de Célio Erthal Rocha não é apenas a celebração de um homem, mas a reafirmação de que a cultura, a justiça e a memória continuam vivas quando encontram intérpretes à altura.
E Célio Erthal Rocha, com sua vida
dedicada à palavra e ao direito, é esse intérprete. Um homem que, aos 94 anos,
permanece como um baluarte, como falou Cléber, iluminando caminhos e inspirando
gerações.
Créditos das fotos dessa primeira leva
Alberto Araújo
Aldo da Silva Pessanha
Maria Otília Camillo
Editorial
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural

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