quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

NATAL - O AMOR QUE SE DEITA NA MANJEDOURA DO CORAÇÃO. REFLEXÃO DE © ALBERTO ARAÚJO

Não foi em palácios, nem em grandes avenidas enfeitadas de luzes. Não houve tapete vermelho, nem discursos pomposos. O Deus que caberia no universo inteiro escolheu caber primeiro numa estreita faixa de pano, deitado sobre palha, acolhido por um estábulo improvisado. É assim que o Natal se revela: não no excesso, mas no essencial; não no brilho de fora, mas na luz que acende por dentro. 

Enquanto muitos esperavam um rei poderoso, cercado de exércitos e riquezas, Deus veio como Menino. Frágil, pequeno, dependente de um colo. Veio lembrar ao mundo que o caminho para o alto começa, misteriosamente, pelo chão. Que a grandeza verdadeira não precisa de palco, holofote ou aplauso. Bastam um coração aberto, um pouco de silêncio e um gesto de acolhida. 

O Natal é do Menino Jesus. É d’Ele, antes de ser nosso. É da Sua história, antes de ser do nosso consumo. É do Seu coração humilde, antes de ser da nossa pressa e da nossa correria. Por isso, celebrar o Natal é, antes de tudo, voltar à manjedoura: ajoelhar-se diante do mistério de um Deus que se faz criança para nos ensinar, de novo, a recomeçar.

Naquela noite em Belém, não havia luxo, mas havia presença. Não havia fartura, mas havia cuidado. Maria e José, cansados da viagem, encontram apenas um canto simples, e ali Deus escreve a página mais bonita da história humana. Quando faltam recursos, Ele cria caminhos. Quando as portas se fecham, Ele abre janelas de graça. Quando tudo parece pequeno demais, Ele mostra que é justamente aí que o milagre prefere acontecer. 

O Natal se revela assim: nos detalhes que passam despercebidos; num abraço que chega na hora certa; numa palavra de perdão que rompe o silêncio de anos; num prato a mais na mesa para acolher quem está só; num telefonema inesperado; num sorriso que insiste, mesmo quando o mundo parece pesado. Cada gesto de amor é como um pouco de palha limpa, preparada para que o Menino possa deitar-se também em nosso coração. 

Talvez, neste ano, a sua “manjedoura” seja a casa simples, o coração cansado, a família ferida, o luto recente, o medo do amanhã. Talvez você ache que não tem nada para oferecer, que a sua vida é desorganizada demais, pobre demais, pequena demais para ser lugar de Deus. Mas o Natal veio para desmentir esse engano: foi justamente na pobreza de um estábulo que o Céu escolheu tocar a Terra. Se você se sente pouco, saiba que é exatamente aí que Ele deseja nascer. 

O Menino Jesus não tem medo da nossa desordem, das nossas dúvidas, das nossas lágrimas. Ele não exige cenários perfeitos; Ele procura espaços verdadeiros. Entra onde há brechas, pousa onde há sinceridade, faz-se morada onde encontra, ainda que mínima, uma vontade de acolhê-Lo. A única preparação indispensável para o Natal é essa: abrir o coração, como está, e dizer: “Entra, Senhor. A casa é simples, mas é Tua.” 

Neste Natal, talvez não consigamos mudar o mundo. Mas podemos mudar o mundo de alguém. Podemos ser presença para quem anda se sentindo invisível. Podemos ser voz amiga para quem está sufocado em silêncio. Podemos ser mãos estendidas para quem já não tem forças para levantar. Cada vez que escolhemos amar, mesmo quando é difícil, a manjedoura se repete, e o Menino volta a nascer, discretamente, no meio de nós. 

Que a nossa ceia não seja apenas fartura de pratos, mas abundância de partilha. Que os presentes não sejam apenas pacotes bem embrulhados, mas sinais concretos de cuidado. Que as luzes não brilhem apenas nas ruas, mas se acendam, mansas, nos gestos de bondade que devolvem esperança. E que, ao olharmos para o presépio, não vejamos apenas uma lembrança distante, mas um convite atual: “deixa-Me nascer na tua vida hoje”.

O Natal é do Menino Jesus. Dele vem a alegria que não depende de circunstâncias, a paz que não se explica, a esperança que insiste em ressurgir, mesmo entre ruínas. Quando o acolhemos, o frio por dentro começa a se aquecer, e aquilo que parecia sem sentido ganha nova cor. Não porque os problemas desaparecem, mas porque já não estamos sozinhos para enfrentá-los.

Que, neste Natal, você possa experimentar a delicadeza desse Deus que se faz pequeno para nos aproximar. Que Ele visite a sua casa, toque a sua história, abrace suas memórias, cure o que dói, fortaleça o que desanima e renove aquilo que já parecia sem vida. Que o Menino da manjedoura faça morada em você, hoje e em cada dia do novo ano que se aproxima. 

E que, na simplicidade de cada amanhecer, você descubra de novo: quando o amor faz morada, o Natal nunca termina. 

Um Santo e abençoado Natal, na doce companhia do Menino Jesus.


© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural




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