sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

148 ANOS DA MORTE DE JOSÉ DE ALENCAR - EFEMÉRIDES DO FOCUS PORTAL CULTURAL

 


No dia 12 de dezembro de 1877, o Brasil perdeu uma das vozes mais marcantes de sua literatura: José Martiniano de Alencar. Passados 148 anos de sua morte, sua presença continua viva, não apenas nas páginas que escreveu, mas na própria ideia de uma literatura nacional que ajudou a moldar. 

Nascido em Fortaleza, em 01 de maio de 1829, Alencar cresceu em meio a um país que ainda buscava consolidar sua identidade após a Independência. Filho de uma família profundamente ligada às lutas políticas e sociais do início do século XIX, carregava no sangue a herança da resistência e da inquietação. Essa energia se transformaria em palavras, em romances que deram ao Brasil uma narrativa própria, capaz de traduzir o imaginário coletivo em histórias que misturavam mito, história e poesia.

Alencar não foi apenas escritor. Foi advogado, jornalista, parlamentar, ministro. Mas é como romancista que seu nome se eternizou. Obras como O Guarani, Iracema e Senhora não são apenas ficções: são símbolos de um Brasil que buscava se reconhecer em sua diversidade cultural, em seus povos originários, em suas cidades em transformação. Ele inaugurou o romance indianista, que deu protagonismo ao indígena como figura heroica, e também retratou a vida urbana, expondo os dilemas da sociedade imperial. Sua pena transitava entre o épico e o íntimo, entre o mito fundador e o cotidiano burguês. 

A crítica, desde seu tempo, não foi unânime. Muitos o acusaram de idealizar excessivamente o indígena ou de exagerar nos floreios românticos. Outros, porém, reconheceram nele o pioneiro que ousou dar ao Brasil uma literatura própria, sem depender apenas dos modelos europeus. Machado de Assis, que lhe dedicou a Cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras, sintetizou esse reconhecimento. Alencar tornou-se patrono, não por acaso, mas por ter sido o primeiro a dar forma literária ao espírito nacional. 

Sua atuação política também merece lembrança. Como deputado, defendeu ideias que, para sua época, eram ousadas: o voto feminino, a abolição gradual da escravidão, a criação de instrumentos jurídicos de proteção individual. Foi ministro da Justiça, mas nunca deixou de ser polemista, escrevendo artigos que agitavam os jornais da Corte. Sua vida pública refletia a mesma intensidade que se via em seus romances: uma busca constante por dar voz ao Brasil. 

A morte de José de Alencar, em 1877, no Rio de Janeiro, encerrou uma trajetória curta, apenas 48 anos, mas profundamente fecunda. Do Ceará ao Rio, das salas da Faculdade de Direito de São Paulo às tribunas parlamentares, das páginas dos jornais às páginas dos romances, sua vida foi marcada pela palavra. Palavra que defendia, que narrava, que criava.

Hoje, ao lembrarmos os 148 anos de sua partida, não celebramos apenas um escritor. Celebramos um fundador. Alencar foi o arquiteto de uma literatura que se queria nacional, que buscava raízes próprias. Sua obra permanece como testemunho de um Brasil em formação, mas também como convite à reflexão sobre quem somos e como nos narramos. 

Seus personagens, Peri, Iracema, Aurélia, continuam vivos, não apenas como figuras literárias, mas como símbolos de um país que se inventa e reinventa. Ler Alencar é revisitar o Brasil do século XIX, mas também compreender que a literatura pode ser instrumento de identidade, de memória e de futuro. 

José de Alencar não foi perfeito, mas foi essencial. E é por isso que, 148 anos após sua morte, seu nome ainda ecoa como o “pai da literatura brasileira”. Um título que não é apenas homenagem, mas reconhecimento de que, sem ele, talvez o Brasil tivesse demorado mais a se enxergar nas páginas de um livro.

 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural


Casa de José de Alencar em Messejana, 

hoje um distrito de Fortaleza.


Monumento a José de Alencar na Praça José de Alencar
no Rio de Janeiro.


Theatro José de Alencar - Fortaleza - CE











Nenhum comentário:

Postar um comentário