segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

FLORBELA ESPANCA - EFEMÉRIDES DO FOCUS PORTAL CULTURAL - DIA 08 DE DEZEMBRO

No dia 8 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa, nascia Florbela Espanca, uma das vozes mais singulares da poesia portuguesa. Exatamente 36 anos depois, na mesma data, em 1930, a poetisa falecia em Matosinhos, deixando um legado breve em extensão, mas imenso em intensidade. Hoje, ao assinalarmos os 131 anos do seu nascimento e os 95 anos da sua morte, revisitamos uma vida marcada por inquietações, paixões e uma obra que continua a ecoar com força no imaginário literário lusófono. 

Filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição, Florbela cresceu num ambiente conservador, mas desde cedo revelou uma personalidade rebelde e uma sensibilidade fora do comum. A infância em Vila Viçosa, rodeada pela paisagem alentejana, moldou-lhe o olhar poético e inspirou alguns dos seus versos mais patrióticos. A sua vida pessoal foi marcada por sucessivos casamentos, desilusões amorosas e uma constante busca por liberdade, tanto no plano afetivo quanto intelectual. Essa inquietação íntima, longe de a paralisar, tornou-se combustível para uma escrita visceral. 

Embora tenha escrito contos, diários e cartas, é na poesia que Florbela encontra a sua expressão maior. A forma preferida foi o soneto, que ela reinventou com uma musicalidade intensa e uma carga emocional rara. Em seus versos, o amor surge como tema central, mas nunca idealizado: é vivido como desejo, dor, saudade, solidão e morte. Florbela não se contentava com a visão romântica tradicional; ela expunha a mulher como sujeito desejante, capaz de reivindicar prazer e liberdade, algo ousado para o início do século XX.

Florbela Espanca foi pioneira ao dar voz à experiência feminina em toda a sua complexidade. A sua poesia é marcada por erotização e por uma afirmação da mulher como ser pleno, que sente e deseja. Essa postura transgressora valeu-lhe incompreensões e críticas, mas também a tornou símbolo de emancipação. A sua escrita, impregnada de feminilidade e panteísmo, revela uma ligação profunda com a natureza e com o cosmos, como se buscasse no infinito respostas para as angústias humanas. 

Apesar da universalidade dos seus temas, Florbela nunca deixou de exaltar a sua terra natal. O célebre soneto No meu Alentejo é uma glorificação da paisagem e da identidade alentejana, mostrando que, para além da mulher apaixonada e inquieta, havia também uma voz que se reconhecia na tradição e na memória coletiva. Esse patriotismo local convive com poemas de sentido nacional, nos quais Florbela expressa amor por Portugal e pela sua cultura. 

Ao longo da vida, Florbela colaborou com diversas revistas e jornais, publicou contos e traduziu romances estrangeiros. Essa atividade revela a sua versatilidade e o desejo de dialogar com diferentes públicos. Contudo, foi sempre a poesia que lhe garantiu reconhecimento, ainda que tardio. Obras como Livro de Mágoas (1919), Livro de Soror Saudade (1923) e Charneca em Flor (publicado postumamente em 1931) consolidaram a sua reputação como uma das maiores poetisas portuguesas. 

A vida de Florbela foi marcada por crises emocionais, doenças e um sentimento constante de inadequação. A morte do irmão Apeles, em 1927, abalou-a profundamente. A sua escrita, muitas vezes, parece um grito contra a solidão e a incompreensão. No entanto, é justamente dessa dor que nasce uma poesia de altíssima qualidade, capaz de transformar sofrimento em beleza estética. Florbela soube converter as suas inquietações em arte, deixando-nos versos que ainda hoje tocam pela sinceridade e intensidade.

Florbela Espanca morreu em 1930, aos 36 anos, mas a sua obra continua viva. É estudada em escolas e universidades, inspira novas gerações de escritores e leitores, e permanece como símbolo da mulher que ousou desafiar convenções. A sua poesia, quase sempre em forma de soneto, é uma celebração da vida e da paixão, mesmo quando atravessada pela sombra da morte. Florbela é, antes de tudo, poetisa – e é à sua poesia que deve a fama e o reconhecimento que se prolongam até hoje. 

Ao recordarmos Florbela Espanca neste 8 de dezembro, celebramos não apenas a efeméride de seu nascimento e falecimento, mas também a permanência de uma obra que transcende o tempo. A sua vida breve, tumultuosa e inquieta foi transformada em versos de rara beleza, que continuam a falar de amor, desejo, saudade e morte com uma intensidade única. Florbela é, e sempre será, uma das vozes maiores da literatura portuguesa. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural


















FLORBELA ESPANCA: VIDA E OBRA

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, no Alentejo, a 8 de dezembro de 1894. Filha de Antónia da Conceição Lobo e de João Maria Espanca, cresceu num ambiente pouco convencional para a época, já que o pai, casado com outra mulher, só viria a reconhecê-la oficialmente muitos anos depois. Desde cedo revelou talento para a escrita, assinando os seus primeiros textos como Flor d’Alma da Conceição. 

Ainda criança, compôs versos dedicados ao pai e ao irmão Apeles, mostrando uma sensibilidade precoce. A morte da mãe, quando Florbela tinha apenas 13 anos, marcou profundamente a sua juventude. Pouco depois, ingressou no Liceu de Évora, tornando-se uma das primeiras mulheres portuguesas a frequentar o ensino liceal. Ali mergulhou em leituras de autores como Balzac, Dumas e Camilo Castelo Branco, que alimentaram o seu imaginário literário. 

Aos 19 anos casou-se com Alberto Moutinho, colega de escola, mas o casamento não resistiu às dificuldades financeiras e emocionais. A vida amorosa de Florbela seria marcada por sucessivos casamentos e divórcios, sempre acompanhados de crises pessoais que se refletiam na sua poesia. Em 1919 publicou Livro de Mágoas, a sua primeira coletânea de sonetos, rapidamente esgotada. Seguiram-se Livro de Sóror Saudade (1923) e, já depois da sua morte, Charneca em Flor (1931), considerada a sua obra-prima.

A escrita de Florbela é intensamente lírica, centrada no amor, na saudade, no desejo e na solidão. Os seus sonetos, carregados de erotismo e feminilidade, revelam uma voz única na literatura portuguesa, capaz de transformar sofrimento íntimo em arte. Além da poesia, dedicou-se ao conto, à tradução e ao jornalismo, colaborando em diversas revistas e jornais.

A morte trágica do irmão Apeles, em 1927, num acidente de avião, abalou-a profundamente. A partir daí, a sua saúde mental deteriorou-se e Florbela enfrentou várias crises, incluindo tentativas de suicídio. Em 1930, no dia em que completava 36 anos, morreu em Matosinhos devido a uma overdose de barbitúricos. 

Apesar da brevidade da sua vida, Florbela deixou uma obra que continua a emocionar gerações. A sua poesia, quase sempre em forma de soneto, é uma celebração da intensidade dos sentimentos humanos. Hoje, é lembrada como uma das maiores vozes líricas da literatura portuguesa, símbolo de emancipação feminina e de uma escrita marcada pela busca incessante do amor e da liberdade interior.



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