terça-feira, 9 de dezembro de 2025

EFEMÉRIDES – 09 DE DEZEMBRO - 48 ANOS DO FALECIMENTO DE CLARICE LISPECTOR - FOCUS PORTAL CULTURAL



No dia 09 de dezembro de 1977, o Brasil perdeu uma das maiores vozes da literatura do século XX: Clarice Lispector, escritora cuja obra se tornou referência incontornável da modernidade literária. Sua morte, ocorrida em decorrência de um câncer de ovário, deu-se um dia antes de completar 57 anos. Desde então, sua presença permanece viva na memória cultural brasileira e mundial, como autora que revolucionou a forma de narrar, pensar e sentir através da palavra.

Clarice nasceu em 10 de dezembro de 1920, em Chechelnyk, pequena localidade da Ucrânia, então em processo de integração à União Soviética. Seu nome de batismo foi Chaya Pinkhasovna Lispector, filha de judeus que sofreram os horrores dos pogroms e da guerra civil que devastava a região. Em 1922, quando Clarice tinha apenas dois anos, a família emigrou para o Brasil, buscando refúgio e reconstrução. Fixaram-se inicialmente em Maceió, Alagoas, e depois no Recife, Pernambuco, onde Clarice cresceu e iniciou sua formação intelectual. 

A infância foi marcada por dificuldades, sobretudo pela doença da mãe, que faleceu quando Clarice ainda era menina. Apesar disso, desde cedo demonstrou curiosidade e paixão pelas palavras, pela leitura e pela escrita, revelando uma sensibilidade que se tornaria sua marca registrada. 

Clarice estudou Direito na então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Embora tenha concluído o curso, sua verdadeira vocação sempre esteve ligada à literatura. Ainda jovem, trabalhou como tradutora e jornalista, aproximando-se dos círculos intelectuais cariocas. Aos 24 anos, publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem (1944), obra que imediatamente chamou a atenção da crítica pela linguagem inovadora e introspectiva, recebendo o Prêmio Graça Aranha. 

A trajetória literária de Clarice Lispector é marcada por uma constante busca de expressão do indizível. Sua escrita, muitas vezes considerada hermética, mergulha nas profundezas da subjetividade humana, explorando temas como identidade, solidão, transcendência e o sentido da existência. 

ENTRE SUAS OBRAS MAIS SIGNIFICATIVAS DESTACAM-SE: 

Laços de Família (1960), coletânea de contos que revela o cotidiano familiar e suas tensões ocultas. 

A Paixão segundo G.H. (1964), romance filosófico e perturbador, em que uma mulher enfrenta o vazio existencial diante de uma barata esmagada.

A Hora da Estrela (1977), seu último romance publicado em vida, que narra a história da nordestina Macabéa, figura marginalizada e invisível, tornando-se um dos livros mais estudados da literatura brasileira contemporânea.

Um Sopro de Vida (1978), publicado postumamente, que aprofunda ainda mais sua reflexão sobre o ato de escrever e a relação entre autor e personagem. 

Além dos romances, Clarice produziu contos, crônicas, entrevistas e literatura infantil, sempre com a mesma intensidade e originalidade. Obras como O Mistério do Coelho Pensante e A Mulher que Matou os Peixes revelam sua versatilidade e capacidade de dialogar com diferentes públicos.

Paralelamente à ficção, Clarice atuou como cronista em jornais e revistas, escrevendo textos que mesclavam observações cotidianas, reflexões filosóficas e confissões íntimas. Suas crônicas, reunidas em volumes como A Descoberta do Mundo, são hoje consideradas parte essencial de sua obra, pois revelam a escritora em diálogo direto com seus leitores, sem perder a densidade poética.

Clarice Lispector é frequentemente associada ao Modernismo tardio e ao movimento de renovação da prosa brasileira. Sua escrita rompe com a linearidade narrativa, privilegiando o fluxo de consciência, a fragmentação e a introspecção. Muitos críticos a comparam a autores como Virginia Woolf e James Joyce, embora sua voz seja absolutamente singular. 

Sua obra influenciou gerações de escritores brasileiros e estrangeiros, tornando-se objeto de estudos acadêmicos em universidades de todo o mundo. Clarice é hoje traduzida em diversas línguas, e sua presença na literatura universal é cada vez mais reconhecida.

Nos anos 1970, Clarice enfrentou problemas de saúde, mas continuou escrevendo e publicando. Sua morte em 09 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, foi recebida com grande comoção. O Brasil perdia não apenas uma escritora, mas uma pensadora que soube transformar a palavra em instrumento de revelação do ser humano em sua complexidade. 

Quarenta e oito anos após sua partida, Clarice Lispector permanece como uma das maiores autoras brasileiras do século XX. Sua obra continua a inspirar leitores, escritores e estudiosos, sendo constantemente reeditada e adaptada para teatro, cinema e outras linguagens artísticas. 

Clarice não apenas escreveu livros: ela reinventou a literatura brasileira, abrindo caminhos para uma escrita mais íntima, filosófica e existencial. Sua voz, marcada pela intensidade e pela busca incessante de sentido, ecoa até hoje, lembrando-nos de que a literatura é, antes de tudo, uma forma de viver e compreender o mundo. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural












                Panorama TV Cultura 1977




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