Na manhã do dia 28 de novembro, o Campo de São Bento amanheceu com um brilho diferente. A brisa parecia sussurrar versos entre as árvores, como se a própria natureza soubesse que algo especial estava prestes a acontecer. Na Biblioteca Popular Municipal Anísio Teixeira, em Icaraí, Niterói, os livros se alinharam em silêncio respeitoso, prontos para testemunhar um momento raro: a celebração da vida e da obra de Wanderlino Teixeira Leite Netto, poeta, cronista, historiador e, acima de tudo, presença viva na literatura fluminense.
O evento, parte da edição comemorativa dos 11 anos da biblioteca e dos 452 anos de Niterói, foi idealizado e conduzido pela escritora e acadêmica Dília Gouveia, que com sua voz firme e acolhedora, transformou a entrevista em um ritual de reverência à palavra. Dília não apenas apresentou Wanderlino: ela o costurou ao tecido da cidade, como quem borda com delicadeza o nome de um mestre na memória coletiva.
Dília é dessas personalidades que não apenas mediam, elas encantam. Com sua sensibilidade literária e sua postura intelectual, ela fez da conversa uma travessia poética. Cada pergunta era uma chave que abria portas para o universo de Wanderlino, revelando não só suas obras, mas também suas escrevivências: experiências que se transformam em escrita, vivências que se eternizam em papel.
A apresentadora soube criar um ambiente de escuta ativa, onde o público, composto por leitores, amigos, escritores e acadêmicos, se sentiu parte de uma celebração íntima e coletiva.
WANDERLINO: O ESCRITOR QUE CAMINHA ENTRE NÓS
Nascido no Rio de Janeiro em 1943, mas niteroiense de coração desde os quatro anos de idade, Wanderlino é um desses autores que não apenas escrevem: eles iluminam. Com 26 livros publicados, entre poesia, crônica, conto, ensaio, biografia e pesquisa histórica, sua obra é um espelho da cidade e de seus afetos.
Aposentado da Petrobras desde 1993, ele nunca se aposentou da palavra. Cofundador da Associação Niteroiense de Escritores, membro correspondente de diversas instituições literárias, Wanderlino é um guia para novos autores e inspira leitores.
Na entrevista, ele falou com a serenidade de quem sabe que a literatura é ponte entre tempos. Sua presença na biblioteca, esse templo dos livros, foi como o reencontro de um autor com sua morada espiritual. Ao final, em gesto generoso, sorteou livros entre os presentes, como quem distribui sementes de poesia.
O evento contou com nomes que são
pilares da cultura fluminense:
Márcia Pessanha, Jordão Pablo de Pão, diretor da Niterói Livros; Liane Arêas, Lena Ponte Jesus, Cristiana Seixas, Hilário Francisconi, Luzia Velloso e muitos outros.
O Clube de Leitura, em sua edição especial, foi mais que um espaço de discussão literária: foi um território de afetos. Amigos do autor, leitores apaixonados, acadêmicos e curiosos se reuniram para celebrar não apenas a obra de Wanderlino, mas sua trajetória de vida.
Foi uma manhã de firmeza intelectual e delicadeza emocional. Uma manhã em que a cidade se olhou no espelho da literatura e se reconheceu.
Niterói, com seus 452 anos, é feita de mar, de pedra, de história, mas também de poesia. E Wanderlino é um dos que a escrevem com tinta viva. Sua obra é um mapa afetivo da cidade, onde cada rua pode virar verso, cada memória pode virar crônica.
Ao homenageá-lo em vida, a Biblioteca Anísio Teixeira reafirma seu papel como casa dos encontros, dos livros e dos afetos.
Naquela manhã, a literatura não foi apenas celebrada, ela foi vivida. Dília Gouveia, com sua condução lírica e firme, nos lembrou de que mediar é também criar. Wanderlino, com sua presença serena e sua obra vasta, nos mostrou que escrever é resistir, é existir.
E Niterói, com seus leitores e escritores reunidos, provou que a cultura é feita de encontros, de escutas, de homenagens que se tornam eternas.
Um poeta presente. Uma cidade que lê. Uma biblioteca que pulsa.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
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