Com emoção e reverência, o Focus Portal Cultural, revista dirigida pelo jornalista e escritor Alberto Araújo, presta uma homenagem póstuma à renomada pianista Ana Maria Brandão, que faleceu no dia 18 de junho de 2025, quarta-feira. Seu corpo foi velado e sepultado no Cemitério do Maruí, localizado na Rua General Castrioto, no Barreto, em Niterói, cidade que tantas vezes ouviu os acordes de sua arte.
Na despedida, estiveram presentes: A filha
Ramona Brandão que veio da França para esse último e silencioso recital de amor
e saudade, também estiveram presentes: Dr. Fernando Dias, esposo de Ana
Brandão, a amiga de longa data: Liane Arêas, uma sobrinha da Ana Maria Brandão,
o tenor Will Martins, que junto à artista se apresentou em inúmeros recitais
pianísticos, e segundo informações, muitos amigos do seu cotidiano.
Ao longo da história da música, alguns artistas fazem do piano não apenas um instrumento, mas uma verdadeira extensão da alma. De Chopin a Clara Schumann, de Nelson Freire a Guiomar Novaes, os grandes pianistas se eternizam ao transformar teclas em emoção, silêncio em melodia, tempo em eternidade. A arte pianística exige mais que técnica — requer sensibilidade, escuta interna, entrega.
No Brasil, esse legado ganha novos contornos a cada geração. E entre os nomes que se consagraram na paisagem sonora brasileira e internacional, Ana Maria Brandão ocupa lugar de destaque. Com mãos que sabiam traduzir os segredos da partitura em poesia sonora, ela não apenas interpretava os clássicos — os revelava, os revivia, os ressignificava. Foi uma artista que viveu para a música e pela música, com disciplina, paixão e excelência.
UM POUCO SOBRE A ARTISTA
Ana Maria Brandão foi uma das mais respeitadas intérpretes da música clássica no Brasil. Com formação sólida e sensível, graduou-se em piano pelo Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro e pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estudiosa incansável, aperfeiçoou-se com mestres como Arnaldo Estrella e Linda Bustani, além de realizar estudos na França, Rússia e Suíça, consolidando uma trajetória de excelência que ecoou dentro e fora do país.
Foi convidada a lecionar no Centro de Estudos Musicais da Universidade Federal Fluminense, onde compartilhou seu vasto saber e sua paixão pelo piano com novas gerações de músicos. Atuou como solista junto a importantes orquestras, entre elas a Orquestra Rio Camerata, a Orquestra do Conservatório Brasileiro de Música e a Orquestra Sinfônica Nacional, com as quais emocionou plateias e deixou uma marca eterna nos palcos da música erudita.
Em novembro de 2016, durante uma
apresentação memorável na Casa Brasil em Madrid, como parte da programação do
Música no Museu Internacional, Ana Maria nos enviou uma mensagem carinhosa, que
agora resgatamos como eco de sua generosidade e reconhecimento:
“Prezado Alberto, não tenho palavras, obrigadíssima por essa linda matéria, bonita esteticamente, com conteúdo completo sobre mim e sobre o Música no Museu, programação, está simplesmente perfeita! E ainda sendo mostrada pelo Focus Portal Cultural, que tem uma visibilidade imensa, é bom demais, irei enviar a todos. Muito grata, amigo, obrigada por seu maravilhoso trabalho, envio abraço grande e os melhores votos de sucesso sempre como jornalista e poeta!!! Até a próxima, am.”
Hoje, suas mãos se calam, mas a música que brotou delas continuará a soar na memória afetiva de todos que a ouviram, e nos registros que preservam sua sensibilidade e virtuosismo. Ana Maria Brandão partiu, mas a beleza que semeou no mundo permanece como herança de luz e harmonia.
A MÚSICA NÃO MORRE - Ana Maria Brandão se despede deste mundo como os grandes músicos o fazem: deixando-nos o eco de sua arte como herança silenciosa e poderosa. Seus dedos já não caminham pelas teclas, mas sua música permanece, nos palcos que aplaudiram sua elegância, nos corações que se emocionaram com sua entrega, nas gerações que se inspiraram em sua dedicação. A arte, quando verdadeira, torna o ser humano imortal. E Ana Maria, com sua vida dedicada à beleza e à grandeza da música clássica, entra para essa galeria dos que jamais serão esquecidos.
O Focus Portal Cultural, em nome da arte, da amizade e da admiração deseja que seu espírito siga em paz, conduzido por sinfonias celestes.
Que sua última partitura tenha sido
escrita com luz.
Que os céus a recebam em dó maior de
paz.
Focus Portal Cultural
Por © Alberto Araújo, jornalista e
escritor.
Magda Belloti (Cantora Lírica); Will Martins (tenor); Ana Caldeira (Diretora do AVATAR); Ana Maria Brandão (pianista); Alberto Araújo (jornalista e escritor) Marcílio Meira (pianista), no AVATAR , dezembro de 2023.
FOCUS PORTAL CULTURAL – EFEMÉRIDES
& TRIBUTOS
Na foto: Ana Maria Brandão se despede com um sorriso, um gesto de paz que fica para sempre na memória da música brasileira.
QUANDO A MÚSICA DIZ ADEUS COM UM
SORRISO
Para Ana Maria Brandão (In memoriam)
"Há despedidas que não são partidas,
mas passagens para um silêncio cheio de música."
— Alberto Araújo.
Ela acenou com a mão, mas foi a alma
quem disse adeus.
Não houve lamento, tampouco sombras. Houve um gesto simples, um sorriso sereno e um olhar que já sabia da eternidade. Foi assim que a pianista Ana Maria Brandão, vestida de luz e leveza, partiu da cena visível da vida, como quem apenas atravessa um palco para tocar em outro plano.
A fotografia — essa moldura de tempo que captura silêncios — eternizou seu último aceno: um gesto suave, branco como sua camisa e seus cabelos, pleno como sua arte. Ali, não há tristeza, mas uma doçura de quem compreende que a vida é um concerto breve e que cada nota tem seu tempo certo de soar.
Ana Maria Brandão não apenas tocava o piano. Ela tocava corações. Sua música não morava nas teclas, mas na alma. Era no intervalo entre uma nota e outra que se ouvia a mulher inteira — sua sensibilidade, sua elegância, sua entrega silenciosa ao mistério do som.
Agora, quem escuta com o coração ainda
pode ouvi-la. No rumor de uma tarde calma, no assobio do vento entre as
árvores, no eco de um piano esquecido em alguma casa antiga... lá está ela,
continuando a tocar, invisível, porém presente.
Ana não nos deixou. Apenas mudou de
sala. Deixou a porta entreaberta, acenou, sorriu — e foi.
E o mundo, em silêncio, aplaude.
Texto de homenagem @ Alberto Araújo
UMA TARDE PARA OUVIR O CORAÇÃO
Recital de Ana Maria Brandão na ADAF — 29 de janeiro de 2017
Há tardes que não se apagam. Ficam na memória como partituras desenhadas no tempo. Assim foi o recital da pianista Ana Maria Brandão, realizado em 29 de janeiro de 2017, na ADAF - Associação David Frischman de Cultura e Recreação – presidente Rolande Fichberg, uma tarde em que a música brasileira se sentou à primeira fila, tirou os sapatos e descansou entre amigos.
Com mãos leves e coração entregue, Ana desenhou uma travessia sonora que percorreu séculos e sentimentos. Começou com Heitor Villa-Lobos e O Canto do Pajé, chamando os ancestrais à escuta. Seguiu com a Fantasia nº 4 do Padre José Maurício, e a polca Niny, de Carlos Gomes, numa reverência aos mestres fundadores.
Mas foi com a valsa Beijos, de Chiquinha Gonzaga, e o cavaquinho travesso de Apanhei-te, de Ernesto Nazareth, que a alma do Brasil sorriu. E então vieram os afetos eternos de Carinhoso (Pixinguinha) e No fundo do meu quintal, de Francisco Mignone, cheios de lembranças, quintais e silêncios que dançam.
Entre valsas, estudos e batuques, a tarde foi se bordando com as notas de Najla Jabor, Jacob do Bandolim, Lindalva Cruz, Nadya de Carvalho, Meyre Brum, Tom Jobim, Ronaldo Miranda, Marlos Nobre e Lorenzo Fernandez — um desfile de grandes nomes traduzidos pelo toque elegante de Ana Maria.
A cada execução, o piano não falava apenas — ele se emocionava. Havia algo além da técnica: uma entrega, uma ternura, uma paz que só os grandes artistas sabem transmitir. Era como se Ana sussurrasse: "escutem com o coração".
Naquela tarde, não houve pressa. Só
música. Só encanto. Só Ana.
E quem esteve ali, ainda hoje ouve — dentro de si — o eco do seu piano.
Texto de memória: Focus Portal
Cultural
Em tributo à pianista Ana Maria
Brandão
Recital realizado na ADAF- Niterói —
29/01/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário