Minha mãe sempre dizia
que estudar era coisa fina,
que letra no papel era riqueza.
E era mesmo.
Mas não era o que mais brilhava nela.
O que valia de verdade —
e ela mostrava sem fazer discurso —
era o amor.
Teve uma noite, o pai voltando cansado...
Ela não recitou poemas, nem filosofias.
Fez café fresco.
Pôs água quente no fogo.
Preparou o silêncio com cuidado,
preparou a casa como quem reza.
Não falou a palavra.
Mas era amor.
Amor do tipo que não precisa ser dito.
Do tipo que se faz.
Essa, sim —
a palavra de luxo.
"ENSINAMENTO" ADÉLIA PRADO
“Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café,
deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário