terça-feira, 17 de junho de 2025

OS NAVEGADORES GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL FORAM OS RESPONSÁVEIS PELA PRIMEIRA TRAVESSIA AÉREA DO ATLÂNTICO SUL, UM FEITO HISTÓRICO QUE LIGOU LISBOA (PORTUGAL) AO RIO DE JANEIRO (BRASIL) EM 1922.


Comemore conosco mais uma efeméride que ilumina as páginas do Focus Portal Cultural! No nosso quadro especial EFEMÉRIDES, o jornalista e editor Alberto Araújo nos convida a viajar no tempo para um feito que redefiniu os limites da audácia humana. Prepare-se para reviver um dos capítulos mais gloriosos da história da aviação e da irmandade entre povos: a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul.

A ODISSEIA DE GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL

Em 17 de junho de 1922, os nomes de Gago Coutinho e Sacadura Cabral se inscreveram para sempre na história. A bordo do hidroavião "Santa Cruz", eles concluíram a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, ligando Lisboa ao Rio de Janeiro. Mais que um feito de engenharia e coragem, essa jornada representou um salto gigantesco na navegação aérea, graças às inovações desenvolvidas por Gago Coutinho, como o sextante aperfeiçoado e o corretor de rumos, que permitiram a navegação precisa sobre o vasto oceano. 

A chegada ao Rio de Janeiro foi um espetáculo de emoção e celebração. Uma multidão aguardava na Praça Mauá, aclamando os heróis que, com sua saga, reforçaram os laços entre Portugal e Brasil, especialmente no ano do Centenário da Independência brasileira. Niterói, por sua vez, também teve seu papel, com uma calorosa recepção na Cantareira e a inauguração da Praça Lusitânia, um testemunho duradouro dessa conexão. 

A travessia foi realizada em 1922, ano das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil, e teve um forte simbolismo de união entre os dois países.

Ambos eram oficiais da Marinha Portuguesa e experientes em navegação e aviação. Gago Coutinho era o navegador e Sacadura Cabral o piloto.

Inovações e Tecnologia 

O grande diferencial dessa travessia foi o desenvolvimento e a utilização de novos instrumentos de navegação aérea por Gago Coutinho. Ele aperfeiçoou o sextante para permitir a orientação do avião em pleno voo, sem a necessidade de visualizar diretamente o horizonte, e inventou um corretor de rumos para retificar desvios causados pelo vento. Esses avanços foram cruciais para a precisão da navegação em longas distâncias sobre o oceano. 

O conceito de "horizonte artificial", utilizado até hoje na aviação, foi, na prática, inventado por Gago Coutinho. 

A VIAGEM 

A viagem teve início em 30 de março de 1922 e foi concluída em 17 de junho de 1922.

A travessia foi feita em hidroaviões. O primeiro, e mais famoso, foi o "Lusitânia" (um Fairey III D). Devido a avarias e acidentes durante a jornada, outros dois hidroaviões foram utilizados: um segundo Fairey III D (apelidado de "Pátria" ou "Pátria-Portugal", embora não oficialmente) e, por fim, o "Santa Cruz", com o qual concluíram a travessia. 

A viagem foi dividida em várias etapas devido à autonomia limitada do combustível. Houve diversas paradas para reabastecimento e reparos, e os aviadores enfrentaram dificuldades e acidentes que levaram à perda dos dois primeiros aviões. As principais etapas incluíram:

Lisboa a Las Palmas (Ilhas Canárias)

Las Palmas a São Vicente (Cabo Verde)

Praia (Cabo Verde) aos Penedos de São Pedro e São Paulo (Brasil), uma etapa particularmente desafiadora e longa.

Penedos de São Pedro e São Paulo a Fernando de Noronha

Fernando de Noronha a Recife

Recife ao Rio de Janeiro (com paradas em outras cidades brasileiras como Salvador e Vitória). 

Embora a viagem tenha durado 79 dias no total (devido às paradas e à espera por novos aviões), o tempo de voo real foi de apenas 62 horas e 26 minutos, cobrindo uma distância total de 8.383 quilômetros. 

A travessia de Gago Coutinho e Sacadura Cabral foi um marco na história da aviação mundial, provando a viabilidade de voos de longo alcance sobre o oceano com precisão, utilizando instrumentos de navegação astronômica portáteis. 

Eles foram recebidos como heróis em Portugal e no Brasil, e seu feito inspirou futuras travessias aéreas. 

A CHEGADA AO RIO DE JANEIRO E NITERÓI 

A chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Brasil, e especificamente ao Rio de Janeiro e Niterói, foi um momento de grande celebração e entusiasmo. Após a árdua e longa travessia do Atlântico Sul, eles foram recebidos como heróis. 

A CHEGADA AO RIO DE JANEIRO

Data e Aeronave: Os aviadores chegaram ao Rio de Janeiro em 17 de junho de 1922, a bordo do hidroavião "Santa Cruz" (o terceiro avião utilizado na travessia, após os acidentes com o "Lusitânia" e o segundo Fairey III D). 

A chegada foi marcada por uma recepção grandiosa e popular. Uma multidão compacta se aglomerou na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, para testemunhar o feito. A imprensa brasileira acompanhou de perto cada etapa da viagem, e o entusiasmo do público foi crescendo à medida que os aviadores superavam os obstáculos. 

A travessia, realizada no contexto das comemorações do Centenário da Independência do Brasil, selou de forma definitiva a amizade entre os povos português e brasileiro. Sacadura Cabral, em entrevista logo após o desembarque, destacou essa união, afirmando: "Brasil e Portugal são, que bem o vejo e sinto, duas nações". 

Os aviadores receberam diversas homenagens e participaram de eventos em várias cidades brasileiras, incluindo Salvador, Vitória e, finalmente, o Rio de Janeiro. Foram feitos almoços, visitas a instituições e muitas celebrações em reconhecimento ao seu heroísmo e à inovação de seus métodos de navegação. Fotografias da época mostram a aclamação popular e os grupos de oficiais e autoridades que os recepcionaram.

A Ligação com Niterói 

Embora a principal celebração e chegada oficial tenha sido no Rio de Janeiro (então capital do Brasil), Niterói, por sua proximidade e por ter sido um importante polo naval e aéreo na época, também teve sua participação e celebrou o feito. 

Há relatos de que Gago Coutinho e Sacadura Cabral, após a chegada ao Rio de Janeiro, foram recebidos em Niterói. Uma lancha os teria ancorado junto ao flutuante da Cantareira (um importante ponto de conexão marítima entre Niterói e o Rio de Janeiro na época), onde uma multidão os aguardava. A praça estava cheia de gente, com muita alegria e grupos folclóricos portugueses cantando e dançando. 

Em Niterói, na região de Icaraí, existe a Praça Lusitânia, que foi inaugurada em homenagem à travessia. Existem registros fotográficos dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral presentes à solenidade de inauguração dessa praça em 1922, o que demonstra a importância do evento para a cidade. O Theatro Municipal João Caetano também foi palco de solenidades durante a visita dos aviadores. 

Mais de um século se passou desde aquele voo épico, e a travessia de Gago Coutinho e Sacadura Cabral permanece como um farol de inspiração. Ao longo desses 103 anos, esse feito não só consolidou o intercâmbio cultural, científico e humano entre Brasil e Portugal, mas também abriu as portas para uma era de maior conectividade global. A audácia e a inovação desses pioneiros continuam a ecoar, lembrando-nos da capacidade humana de superar desafios e construir pontes, sejam elas aéreas ou simbólicas. Que essa memória continue a nos inspirar a novos voos, sempre valorizando o rico legado que nos une. 

Por fim, a chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Rio de Janeiro, e posteriormente a Niterói, foi um marco memorável, não apenas pela audácia da façanha aérea, mas também pelo profundo simbolismo de união e celebração entre Portugal e Brasil.

Sacadura Cabral faleceu dois anos depois, em 1924, em outro voo. Gago Coutinho teve uma longa e notável carreira na Marinha e como historiador. 

Gago Coutinho faleceu no dia 18 de fevereiro de 1959, um dia depois de completar 90 anos, e o funeral transformou-se numa grande homenagem da população de Lisboa ao almirante que, apesar das honrarias, quis ser sepultado apenas com o equipamento de geógrafo. 

O Museu de Marinha em Lisboa possui diversos itens relacionados a essa histórica travessia, incluindo modelos dos hidroaviões e objetos pessoais dos navegadores. 

© Alberto Araújo





O "Monumento da Travessia" em Icaraí, Niterói, comemora a primeira travessia aérea do Oceano Atlântico entre Portugal e Brasil, realizada pelos aviadores portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho em 1922. O monumento está localizado na Praia de Icaraí, próximo à Igreja. Ele é composto por uma placa explicativa de bronze que detalha a importância da travessia.


Alberto Araújo no Monumento da Travessia.

O monumento foi inaugurado em 1º de julho de 1922, marcando a pedra fundamental da comemoração da travessia aérea. A placa, em uma das faces do monumento, descreve a realização da travessia aérea do Atlântico Sul pelos aviadores portugueses.  O monumento é um importante marco histórico e cultural, celebrando a ousadia e a engenhosidade dos navegadores que realizaram essa façanha.


 

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