segunda-feira, 2 de junho de 2025

A POESIA INEXTINGUÍVEL - UM CHAMADO À VIDA EXTRAORDINÁRIA EM A SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS - RESENHA E ENSAIO POR ALBERTO ARAÚJO

Sociedade dos Poetas Mortos transcende a tela para se tornar um manifesto, um potente brado por liberdade intelectual. Não é apenas um filme; é um lembrete vívido de que as palavras podem ser muito mais do que meras letras impressas: elas são fagulhas capazes de incendiar a alma e despertar um fervor pela vida.

A verdadeira eternidade, como nos ensina o filme, não reside na conformidade, nem nos currículos engessados ou nas expectativas alheias. Ela floresce na audácia de viver plenamente e sentir intensamente. John Keating, longe de ser um professor comum, emerge como um poeta da rebeldia, um arquiteto de sonhos que destrói grilhões invisíveis que nos prendem à mediocridade. Ele nos mostra que a poesia não busca agradar, mas sim provocar; ela nos lembra da efemeridade do tempo e de que o mundo pertence àqueles que se arriscam. Viver sem paixão, ele argumenta, é uma forma de morte em vida. Lemos e escrevemos poesia não por sua beleza intrínseca, mas porque somos parte da raça humana, e a raça humana transborda paixão.

Antes que o tic-tac do relógio silencie nossas vozes e a rotina nos aprisione, o filme nos convida a subir na mesa, a enxergar o mundo sob uma nova perspectiva e a ousar. Afinal, o maior pecado não é a falha em si, mas a omissão, o nunca ter tentado. Que a sua vida seja extraordinária. 

© Alberto Araújo

 

O LEGADO DE KEATING - UMA REFLEXÃO SOBRE A LIBERDADE DO PENSAMENTO EM "SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS"

"Oh, Capitão! Meu Capitão!" A famosa exclamação que ecoa pelos corredores da Welton Academy é mais do que um tributo a um professor; é um grito de despertar, um chamado à liberdade intelectual e à individualidade. O filme "Sociedade dos Poetas Mortos" (1989), dirigido por Peter Weir e estrelado por um inesquecível Robin Williams no papel do professor John Keating, transcende a tela para se tornar um hino à educação humanista e um questionamento profundo sobre os valores impostos pela sociedade.

Ambientado na conservadora e elitista Welton Academy nos anos 50, o filme nos apresenta um grupo de jovens estudantes oprimidos por um sistema educacional rígido, focado na "tradição, honra, disciplina e excelência". Keating, um ex-aluno da instituição, chega para subverter essa ordem, não com rebelião, mas com poesia. Ele os encoraja a "chupar o tutano da vida", a questionar o status quo e a encontrar suas próprias vozes, despertando neles o espírito crítico e a paixão pela arte e pelo pensamento livre. 

A metodologia de Keating, aparentemente simples, é revolucionária. Ao invés de meramente transmitir informações, ele incita a reflexão, a interpretação pessoal e a coragem de ser diferente. A ressurreição da "Sociedade dos Poetas Mortos" – um clube secreto que Keating integrou em sua juventude – simboliza o retorno a uma forma de aprendizado que valoriza a emoção, a criatividade e a camaradagem. É nesse espaço que os jovens, como Todd Anderson, Neil Perry e Knox Overstreet, começam a desabrochar, cada um à sua maneira, enfrentando os medos e as expectativas que os sufocam. 

No entanto, a mensagem do filme não é apenas sobre a beleza da poesia; é também sobre as dolorosas consequências de desafiar o estabelecido. O clímax trágico, com a morte de Neil Perry e a subsequente demissão de Keating, expõe a brutalidade de um sistema que não tolera a divergência. A cena final, com os alunos subindo em suas carteiras em um gesto de solidariedade e respeito a Keating, é um dos momentos mais icônicos do cinema, representando a semente da liberdade que, mesmo sob pressão, não pode ser completamente extinta. 

"Sociedade dos Poetas Mortos" continua sendo relevante décadas após seu lançamento, pois aborda questões atemporais sobre a educação, a opressão e a busca pela identidade. Ele nos lembra de que a verdadeira excelência não reside apenas em acumular conhecimento, mas em desenvolver a capacidade de pensar criticamente, de expressar-se autenticamente e de ter a coragem de seguir a própria batida. O legado de Keating reside na inspiração que ele deixou: a ideia de que a poesia, em sua essência, é a própria vida, e que cada um de nós tem o potencial de ser um poeta de sua própria existência, se apenas ousar "carpe diem", aproveitar o dia.

PREMIAÇÕES E RECONHECIMENTO 

O filme foi um grande sucesso de crítica e público, recebendo 4 indicações ao Oscar em 1990: Melhor Filme, Melhor Diretor (Peter Weir), Melhor Ator (Robin Williams) e ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original para Tom Schulman. Ganhou o BAFTA de Melhor Filme e Melhor Trilha Sonora Original.

Recebeu 4 indicações, incluindo Melhor Filme - Drama e Melhor Ator - Drama para Robin Williams. Também foi reconhecido em diversos outros festivais e premiações internacionais. 

O roteiro, que valeu o Oscar, é a espinha dorsal do filme. Ele explora temas como a pressão social, a busca pela individualidade, o poder da arte e a importância da educação humanista de forma muito sensível e impactante.

A atuação de Robin Williams como John Keating é frequentemente citada como uma das melhores de sua carreira. Ele conseguiu capturar a essência do professor inspirador e carismático, que com seus métodos pouco convencionais, consegue abrir a mente de seus alunos. Sua capacidade de transitar entre o humor e a seriedade deu vida a um personagem inesquecível.

A famosa frase é uma alusão ao poema de Walt Whitman sobre Abraham Lincoln, e se tornou um ícone do filme, simbolizando a admiração e o respeito dos alunos por Keating, e seu gesto final de desafio à autoridade. A frase foi eleita pelo American Film Institute como a 95ª frase de cinema mais citada.

"Carpe Diem". A expressão latina, que significa "aproveite o dia", é um dos lemas do filme e um dos ensinamentos centrais de Keating. Ela incentiva os alunos a viverem o presente, a buscarem a felicidade e a fazerem suas vidas extraordinárias.

O diretor australiano Peter Weir também conhecido por "O Show de Truman" e "Mestre dos Mares" é fundamental para o sucesso do filme. Sua direção sutil e focada nos personagens contribui para a atmosfera e a profundidade da narrativa.

O período em que o filme é ambientado, anos 50 é crucial para entender a rigidez e o conservadorismo da Welton Academy e da sociedade da época. A pressão sobre os jovens para seguir carreiras "tradicionais" e as expectativas familiares são elementos centrais do conflito. 

As filmagens ocorreram principalmente no colégio de Santo André e no teatro Everett, em Middletown, Delaware, nos EUA. 

O filme também é notável por lançar jovens talentos como Robert Sean Leonard (Neil Perry) e Ethan Hawke (Todd Anderson), que entregaram performances marcantes.

"Sociedade dos Poetas Mortos" é um filme que continua a ser debatido e estudado em contextos educacionais. Ele serve como um contraponto à educação tradicional e um incentivo a métodos de ensino mais criativos e centrados no aluno, que valorizam o pensamento crítico, a expressão individual e a busca por paixões.

O filme explora a luta entre a individualidade e a pressão para se conformar às expectativas sociais e familiares. Os personagens jovens representam diferentes facetas dessa batalha. 

A poesia, a literatura e o teatro são apresentados como ferramentas poderosas para a autoexpressão, a compreensão do mundo e a libertação do espírito. 

Embora inspirador, o filme não se esquiva de mostrar as consequências trágicas da opressão e da falta de apoio aos sonhos individuais, como exemplificado pelo destino de Neil Perry. Isso serve como um alerta sobre a importância de ouvir e respeitar os desejos dos jovens.

"Sociedade dos Poetas Mortos" é, em sua essência, um filme sobre a coragem de ser quem você realmente é, mesmo quando isso significa ir contra a corrente. Sua mensagem atemporal ressoa com o público e continua a inspirar gerações a "chupar o tutano da vida". 

O filme é uma crítica contundente à pedagogia tradicional, que prioriza a memorização, a repetição e a conformidade em detrimento do pensamento crítico e da individualidade. A Welton Academy representa o modelo de ensino autoritário, onde os alunos são meros "depositórios" de conhecimento, sem voz ativa ou espaço para questionamentos. Keating surge como um contraponto a isso, defendendo um ensino que estimule a criatividade, a paixão e a autonomia.

Além do embate entre o professor e a instituição, há um forte componente do conflito entre as gerações. Muitos pais dos alunos da Welton Academy projetam seus próprios sonhos e frustrações nos filhos, impondo-lhes carreiras e caminhos de vida que não correspondem aos seus verdadeiros desejos. O caso de Neil Perry é o mais emblemático, ilustrando as consequências devastadoras dessa pressão familiar.

O filme defende veementemente a necessidade de honrar a própria individualidade e de ser autêntico. Keating encoraja os alunos a encontrarem suas próprias vozes, a se expressarem sem medo do julgamento e a seguirem suas paixões, mesmo que elas sejam impopulares ou desafiem as expectativas.

A poesia não é apenas um tema acadêmico no filme; ela se torna um veículo de resistência e de expressão pessoal. Através da poesia, os alunos descobrem uma forma de canalizar suas emoções, de questionar o mundo ao seu redor e de construir sua própria identidade. A "Sociedade dos Poetas Mortos" em si é um ato de rebeldia silenciosa, um espaço onde a liberdade de pensamento pode florescer. 

Embora o filme seja inspirador, ele não apresenta um final "felizes para sempre". A morte de Neil e a demissão de Keating são cruéis lembretes de que desafiar o status quo pode ter consequências severas. Isso adiciona uma camada de realismo e profundidade, mostrando que a busca pela liberdade individual nem sempre é fácil e pode vir com um alto preço. No entanto, o gesto final dos alunos "subindo na mesa" demonstra que a semente plantada por Keating não foi em vão. 

O personagem de John Keating se tornou um ícone para educadores em todo o mundo. Ele representa o professor ideal, que vai além do currículo, que se importa genuinamente com seus alunos como indivíduos e que os inspira a serem a melhor versão de si mesmos. O filme é frequentemente usado em cursos de pedagogia e debates sobre os rumos da educação. 

Embora o roteiro de Tom Schulman seja original, ele foi inspirado em parte por suas próprias experiências em uma escola preparatória conservadora nos Estados Unidos, o que confere autenticidade à narrativa. 

Conhecido por seu talento para a improvisação, Robin Williams improvisou algumas das falas e gestos de Keating, o que adicionou ainda mais carisma e autenticidade ao personagem.

A cena em que Keating pede para os alunos rasgarem a introdução do livro de poesia, que tenta "medir" a qualidade da poesia de forma cartesiana, é um dos momentos mais marcantes e simbólicos do filme, representando a rejeição à formalidade excessiva em detrimento da emoção e da paixão. 

O filme influenciou diversas outras obras que abordam temas similares de educação, liberdade e individualidade, tornando-se um marco no gênero de drama escolar.

"Sociedade dos Poetas Mortos" vai além de uma simples história sobre um professor inspirador. É uma meditação sobre a natureza da educação, a importância da arte e do pensamento crítico, os perigos da conformidade e o valor inestimável da liberdade individual e da autenticidade. Seu impacto na cultura popular e no debate sobre educação é um testemunho de sua relevância contínua. 

© Alberto Araújo











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