Não havia
segredo.
Bastava caminhar descalço pelo quintal
e seguir o cheiro doce que vinha do alto.
Lá
estavam elas:
as mangas, gordas de sol,
penduradas como promessas
no galho que se curvava só para me ver chegar.
Eu
estendia a mão como quem colhe o próprio passado.
Mordia com gosto.
O caldo escorria pelo queixo,
e eu ria.
Ria como quem sabe que está exatamente onde devia estar.
Depois,
sem pressa,
abraçava o tronco da mangueira.
Sentia o calor da casca,
a força das raízes invisíveis,
a alma da terra pulsando sob meus pés.
E então
eu dizia,
num sussurro que só Deus e a árvore ouviam:
“Esta é a minha essência.”
Era
verdade.
Ali estava tudo:
o menino,
o tempo,
a fé quieta que mora nas coisas simples.
Minha
mãe, Maria,
aparecia na lembrança com o coração na mão,
sorrindo diante da minha roupa suja de manga
e de alegria.
Santa
Luzia olhava do alto,
como quem confirma:
sim, ele ainda é aquele menino.
Sim, ainda está sob a luz.
O Velho
Monge serpenteando ao longe,
mas sei que sorriu também,
pois ele conhece todas as árvores que me formaram.
E naquele
instante,
abraçado ao tronco,
eu era mais do que lembrança.
Era verdade.
Era raiz.
Era bênção.
© Alberto
Araújo
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