Era um daqueles dias que a alma
reconhece antes mesmo dos olhos abrirem. O céu estava azul com um quê de
eternidade, e o sol, em vez de queimar, afagava. Não era feriado, tampouco data
marcante no calendário dos homens, mas para quem sente a vida por dentro, era
um marco silencioso: o dia em que Deus decidiu caminhar descalço sobre a Terra.
Saí sem pressa, com
os pés nus, como quem devolve à terra o respeito esquecido. A grama úmida me
recebeu como um velho amigo, um daqueles que nunca cobrou nada além da presença.
Os beija-flores brincavam de poesia com as flores. Não havia plateia, nem
aplausos, mas havia encanto, e era suficiente.
Vi uma árvore
imensa, como um ancião sereno. Abracei-a. Não sei se foi ela que me sustentou
ou eu que a agradeci por ainda estar ali, firme, ofertando sombra a quem
soubesse parar. E foi nesse abraço de tronco e pele que ouvi um sussurro
antigo: “Tudo o que você precisa, você já tem.”
Mais adiante, as
montanhas emolduravam o silêncio. Elas não pedem nada, só estão. São testemunhas
do tempo, do amor, das guerras, da paz. São a oração dos que não sabem rezar
com palavras.
Os passarinhos
cantavam sem pauta, numa sinfonia livre, como se anunciassem que o simples
ainda salva. E ali, entre o céu e o chão, eu entendi: viver é isso. Respirar
fundo, agradecer, não correr tanto. Ver Deus nas coisas pequenas. Ou melhor,
nas coisas grandes disfarçadas de pequenas.
Naquele dia lindo,
não fiz nada grandioso. Mas senti tudo. E talvez, só talvez, isso seja o mais
próximo que a gente chegue do sagrado.
Porque quando a
gente anda descalço, o coração pisa mais leve.
E quando se abraça uma árvore, é a gente que floresce.
© Alberto Araújo
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