terça-feira, 10 de junho de 2025

RISO DE TEMPO - POEMA DE ALBERTO ARAÚJO



RISO DE TEMPO

POEMA DE ALBERTO ARAÚJO

 

O tempo não me leva —

me convida.

Estende a mão com a leveza de quem sabe

que cada segundo é um brinquedo em movimento.

 

Cruzo as horas como quem atravessa um campo de girassóis:

com os olhos cheios de sol

e os bolsos cheios de histórias.

 

Não tenho medo das rugas:

elas são rabiscos da alegria,

marcas do que sorri demais.

 

O tempo dança em mim.

Troca minhas vestes, meus humores,

me ensina a rir de tudo o que achei que fosse urgente.

 

De cada ano levo uma nova cor no riso,

uma nova gíria que aprendi,

um hábito que virou afeto,

um espanto que virou sabedoria.

 

O tempo me atravessa como um rio

que sabe ser festa,

que me refresca em vez de me afogar.

 

E eu, sem querer ser eterno,

sou inteiro.

 

Não conto os anos —

conto os encantos.

As vezes em que me reinventei,

as manhãs em que acordei curioso,

os encontros que me rabiscaram por dentro.

 

Sou travessia alegre.

Sou passagem que canta.

E quando o tempo me olha,

eu olho de volta com brilho:

 

— “Sim, estou aqui.

Vivo demais pra temer o que muda.”

 

© Alberto Araújo 



 

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