terça-feira, 17 de junho de 2025

A METAMORFOSE DO CONCRETO – O ADEUS ÀS LOJAS E A VERTIGEM DO NOVO - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO

 

Fui ao Plaza Shopping de Niterói recentemente, um lugar que sempre me pareceu um porto seguro da familiaridade — um monumento do consumo onde o tempo parecia passar em câmera lenta. Que engano o meu. Caminhar por seus corredores foi como pisar em um terreno desconhecido, um palco de memórias recém-apagadas. Aquele cheiro característico, que se misturava ao burburinho das vozes, e a iluminação sempre igual — tudo agora tingido por uma estranha melancolia.

A cada esquina, uma pontada de surpresa. Ou melhor: de desalento. Onde antes reinava o azul vibrante da Casas Bahia, com seu crediário fácil e ofertas estrondosas, agora se ergue o sofisticado universo da Dermage. O Ponto Frio, que prometia facilidade e tecnologia, cedeu espaço ao aroma envolvente dos produtos de O Boticário. E o clássico La Mole, com suas massas e seu ambiente familiar, foi engolido pela imensidão de livros e eletrônicos da Kalunga. A lista não para. A operadora Vivo sumiu do primeiro andar — inclusive, há um anúncio prometendo retorno em breve, mas isso já não convence mais. Todas fazem isso. E quando reabrem, é outra firma. Outras portas também estão cerradas, aguardando um novo fôlego, um novo inquilino.

É impossível não sentir um aperto no peito diante dessa dança frenética de cadeiras. Não é apenas a troca de uma loja por outra — é a sensação de que pedaços da nossa rotina, marcos afetivos, estão sendo apagados. 

Lembro-me da busca incansável por um eletrônico, um eletrodoméstico desejado na Casas Bahia; das compras de presentes no Ponto Frio; dos almoços de domingo no La Mole. Tantas e tantas vezes pedimos aquela pizza Trimare — com camarão, bacalhau e salmão — que só o La Mole oferecia. São mais do que estabelecimentos comerciais. São cenários de nossas vidas, testemunhas silenciosas de encontros, frustrações e alegrias.

A culpa é do progresso, nos dizem. Da inelutável roda do tempo que gira sem parar. Ou talvez das mudanças que nos atropelam todos os dias, em uma velocidade que mal conseguimos acompanhar. O digital avança, os hábitos de consumo se transformam, e o que era essencial ontem torna-se obsoleto hoje. As grandes redes, antes inabaláveis, precisam se reinventar, ceder espaço — ou simplesmente desaparecer.

Não é que o novo não tenha seu valor. A Dermage, o Boticário, a Kalunga trazem suas próprias propostas, sua modernidade. Mas há algo de intrinsecamente triste nessa velocidade. É como se a memória não tivesse tempo de se fixar, de criar raízes, antes que a próxima onda de transformação a arrastasse para longe.

Fico pensando nos trabalhadores que viram suas lojas fecharem, nas histórias que se encerram, nos sonhos que se desfazem junto com as vitrines vazias. É um lembrete contundente de que, no turbilhão da era da informação e da transformação digital, a única certeza é a incerteza.

O Plaza, como tantos outros centros comerciais, é um espelho dessa realidade implacável — um espaço onde o efêmero se tornou a única constante, e onde o adeus às lojas famosas virou parte da paisagem cotidiana.

É uma metamorfose do concreto que nos convida a refletir: será que estamos ganhando mais do que perdendo nessa incessante busca pelo novo, ou estamos apenas trocando o conforto do familiar pela vertigem de um futuro em constante construção?

— Qual a sua sensação quando percebe que uma loja que você frequentava não existe mais? 

© Alberto Araújo



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