Ao abrir o Facebook na manhã de 18 de junho, o mundo digital se calou por um instante. Lá estava ele o maestro Júlio Gomez saudando o dia não com palavras, mas com notas. Os dedos dançavam suaves, quase etéreos, sobre as teclas, arrancando da alma do piano os primeiros acordes da Bachianas Brasileiras nº 5 (Cantilena), de Villa-Lobos.
E então, a música fluiu como um rio manso ao amanhecer, lavando as arestas do cotidiano, abrindo frestas de luz na mente ainda em neblina. A cada nota, um carinho no ouvido do mundo. A cada pausa, um silêncio cheio de sentido.
Júlio não estava apenas tocando, ele estava oferecendo um bom dia com afeto, elegância e cultura. Um bom dia que ultrapassava a tela e invadia a casa, a rua, o pensamento. Era como se Villa-Lobos sorrisse ao fundo, reconhecendo naquele gesto a reverência à grandeza da música brasileira.
Num tempo em que as redes sociais frequentemente ecoam ruídos e pressas, o maestro nos devolve o tempo da contemplação. Seu toque é um convite: "Respire. Sinta. Viva mais fundo."
E assim, mesmo à distância, ele nos lembra de que beleza também é uma forma de resistência. Que arte também é afeto. E que começar o dia com música é, talvez, a forma mais nobre de dizer: “estamos vivos, e isso ainda é um milagre”.
Obrigado, maestro Júlio Gomez, por
esse bom dia que nos fez melhores. E obrigado, Villa-Lobos, por nos deixar uma
obra que continua acendendo o sol dentro da gente.
Uma crônica do Focus Portal Cultural,
por Alberto Araújo.
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