Neste dia 03 de junho, o Focus Portal Cultural celebra os 124 anos do nascimento de José Lins do Rego Cavalcanti, um dos pilares da literatura brasileira.
Nascido no interior da Paraíba, Lins do Rego nos presenteou com um universo literário riquíssimo, profundamente enraizado nas paisagens e nos dramas dos engenhos de açúcar do Nordeste. Sua obra, que transita entre a nostalgia e o realismo cortante, eternizou personagens e cenários que, ainda hoje, ecoam em nossa memória e nos fazem refletir sobre a história e a identidade do Brasil. Venha conosco revisitar a trajetória e o legado desse gigante das letras nacionais, que soube como poucos traduzir a alma de uma região em palavras.
José Lins do Rego Cavalcanti nasceu em Pilar, em 03 de junho
de 1901 e faleceu na Paraíba, em 12 de
setembro de 1957 foi um dos mais renomados romancistas regionalistas da
literatura brasileira. Ao lado de nomes como Graciliano Ramos, Érico Veríssimo,
Rachel de Queiroz e Jorge Amado. Lins do Rego deixou um legado indelével, sendo
inclusive considerado por Otto Maria Carpeaux como "o último contador de
histórias".
Sua obra é profundamente enraizada na experiência do Nordeste açucareiro, retratando a decadência dos engenhos e a vida rural com uma mistura de nostalgia e realismo. Seu romance de estreia, "Menino de Engenho" (1932), embora publicado com dificuldade, rapidamente conquistou o reconhecimento da crítica. Este livro marcou o início do que seria conhecido como o "Ciclo da cana-de-açúcar", uma série de cinco obras que exploram o universo do engenho: "Menino de Engenho" (1932), "Doidinho" (1933), "Bangüê" (1934), "O Moleque Ricardo" (1935) e "Usina" (1936). A regionalidade de sua escrita, contudo, transcende a mera denúncia sociopolítica, revelando uma sensibilidade à flor da pele e uma autenticidade marcante, como apontou Manuel Cavalcanti Proença.
Nascido na Paraíba, José Lins do Rego teve sua infância moldada pela riqueza do engenho de açúcar, herança de seus antepassados, que em grande parte eram senhores de engenho. Esse contato direto com o mundo rural do Nordeste foi a fonte de inspiração para suas narrativas, permitindo-lhe relatar suas experiências de forma crítica e nostálgica através de seus personagens.
Sua trajetória intelectual foi marcada por importantes encontros e colaborações. Ao matricular-se na Faculdade de Direito do Recife em 1920, ele ampliou seus laços com o meio literário pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, autor de "A Bagaceira". Em 1926, mudou-se para Maceió, onde conviveu com figuras ilustres como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda e Jorge de Lima.
Em 1935, José Lins do Rego se estabeleceu no Rio de Janeiro, consolidando sua presença na crítica literária e colaborando com importantes veículos de imprensa, como os Diários Associados e O Globo. Além de sua carreira literária, ele também atuou como Secretário-geral da Confederação Brasileira de Desportos entre 1942 e 1954.
José Lins do Rego é creditado por muitos como o inventor de um novo romance moderno brasileiro. O conjunto de sua obra é um marco na literatura regionalista, por sua capacidade de retratar o declínio do Nordeste canavieiro. Críticos apontam que ele contribuiu para uma nova forma de escrita, caracterizada por um "ritmo oral", possibilitado pela liberdade expressiva do Modernismo de 1922.
Sua magnum opus, "Fogo Morto" (1943), é amplamente considerada o "romance dos grandes personagens" e, segundo Massaud Moisés, "uma das mais representativas não só da ficção dos anos 30 como de todo o Modernismo".
Sua formação intelectual o levou ao Recife, onde estudou Direito e fez amizade com José Américo de Almeida. Mais tarde, em Maceió, conviveu com grandes nomes como Graciliano Ramos e Jorge de Lima. Ao se mudar para o Rio de Janeiro em 1935, consolidou sua carreira, colaborando com a imprensa e atuando como Secretário-geral da Confederação Brasileira de Desportos.
José Lins do Rego é reconhecido por ter inovado o romance moderno brasileiro, criando um estilo com "ritmo oral" influenciado pelo Modernismo de 1922. Sua obra-prima, "Fogo Morto" (1943), é tida como o "romance dos grandes personagens" e um marco da ficção brasileira.
Ainda hoje, a obra de José Lins do Rego ressoa como um testemunho vívido de um período e de uma cultura, com sua prosa rica e personagens memoráveis.
Academia
Paraibana de Letras
É Patrono da Cadeira 39 da Academia Paraibana de Letras, que tem como fundador Coriolano de Medeiros e é atualmente ocupada por Sérgio de Castro Pinto.
Academia Brasileira de Letras
Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 15 de setembro de 1955, para a Cadeira 25.
Obras
FICÇÃO
Menino de
engenho (1932)
Doidinho
(1933)
Banguê
(1934)
O moleque
Ricardo (1935)
Usina
(1936)
Pureza
(1937)
Pedra
bonita (1938)
Riacho
doce (1939)
Água-mãe
(1941)
Fogo
morto (1943)
Eurídice
(1947)
Cangaceiros (1953)
MEMÓRIAS
Meus
verdes anos (1956)
Infanto-juvenil
Histórias da velha Totônia (1936)
CRÔNICA E CRÍTICA
Gordos e
magros (1942)
Poesia e
vida (1945)
Homens,
seres e coisas (1952)
A casa e
o homem (1954)
Presença
do Nordeste na literatura brasileira (1957)
O vulcão
e a fonte (1958)
Conferências
Pedro
Américo (1943)
Conferências
no Prata (1946)
Discurso
de posse na ABL (1957)
Viagem
Bota de
sete léguas (1951)
Roteiro
de Israel (1955)
Gregos e troianos (1957)
OBRAS
PÓSTUMAS
Dias idos
e vividos — antologia (1981)
Ligeiros
traços: escritos de juventude (2007)
Flamengo é puro amor: 111 crônicas escolhidas (2008)
EDIÇÕES ESTRANGEIRAS
Menino de engenho
Niño de
ingenio (espanhol) (Buenos Aires, Emecé, 1946)
Santa
Rosa: Roman (alemão) (Hamburgo, Mölich, 1953)
(Contém
Menino de engenho, Banguê e O moleque Ricardo)
L'Enfant
de la plantation (francês) (Paris, Deux-Rives, 1953)
Plantation
Boy (inglês) (Nova York, Knopf, 1966)
Niño de
ingenio (espanhol) (Havana, Casa de las Américas, 1969)
Il treno
di Recife: due romanzi (italiano) (Milão, Longanesi, 1974)
(Contém
Menino de engenho e O moleque Ricardo)
Pojken på
sockerplantagen (sueco) (Montevidéu, Nordan, 1990)
El niño
del ingenio de azúcar (espanhol) (Madri, Celeste, 2000)
L'Enfant
de la plantation (francês) (Paris, Anacaona, 2013)
Banguê
Banguê:
el viejo ingenio (espanhol) (Buenos Aires, Losada, 1945)
O moleque
Ricardo
Il treno
di Recife: due romanzi (italiano) (Milão, Longanesi, 1974)
(Contém
Menino de engenho e O moleque Ricardo)
Pureza
Pureza: A
Brazilian Novel (inglês) (Londres, Hutchinson, 1947)
Fogo
morto
Fuoco
spento (italiano) (Roma, Bocca, 1956)
Угасший
огонь (“Ugáchi agon”) (russo) (Moscou, Khudojestvenaia literatura, 1967)
Crépuscules
(francês) (Paris, Anacaona, 2017)
Cangaceiros
Cangaceiros
(francês) (Paris, Plon, 1956)
Rhapsodie
in Rot (alemão) (Bonn, Hieronimi, 1958)
Cangaceiros (espanhol) (Havana, Arte y Literatura, 1979)
FILMOGRAFIA
Menino de
engenho (1965). Produção: Glauber Rocha e Walter Lima Júnior. Direção: Walter
Lima Júnior.
José Lins
do Rego (documentário). Prêmio do Instituto Nacional do Cinema como a melhor
direção de curta-metragem em 1969. Produção:
José Lins
do Rego (curta-metragem). Produção: José Olympio Editora. Direção: Walter Lima
Júnior.
Fogo
morto. Produção: Miguel Borges. Direção: Marcos Faria.
José Lins
do Rego: Engenho e Arte (documentário).Produção: TV Escola. Direção: Hilton
Lacerda. TV Escola: José Lins do Rego.
O Engenho de Zé Lins (documentário, 2006). Produção e direção: Vladimir Carvalho. Prêmio de Melhor Montagem no Festival de Brasília de 2006.
© Alberto
Araújo
IMAGENS DE ALGUMAS OBRAS
ENSAIO SOBRE A OBRA "MENINO DE ENGENHO" DE JOSÉ LINS DO REGO
"Menino de Engenho" (1932), a obra-prima de José Lins do Rego, é um marco no regionalismo brasileiro e na literatura modernista do Nordeste. O romance não é apenas uma narrativa de formação, mas um mergulho profundo na memória afetiva e histórica do autor, transpondo suas vivências na decadência dos engenhos de açúcar para as páginas da ficção.
O protagonista, Carlos de Melo, é um alter ego do próprio José Lins. Sua jornada começa com a chegada ao engenho de seu avô após a morte da mãe. Esse deslocamento geográfico e emocional marca o início de sua infância no ambiente rural e patriarcal do Nordeste açucareiro. O engenho, que a princípio representa um refúgio, logo se revela um universo complexo, repleto de figuras singulares, tradições arraigadas e relações de poder intrincadas.
A narrativa é construída em uma linguagem fluida e oralizada, que remete à fala do próprio povo nordestino. José Lins do Rego não se preocupa com a rigidez da norma culta, optando por uma prosa que resgata a musicalidade e a simplicidade da linguagem regional. Essa escolha estilística é crucial para a autenticidade da obra, permitindo ao leitor imergir na atmosfera do engenho e na mentalidade de seus habitantes.
Um dos aspectos mais marcantes de "Menino de Engenho" é a reconstituição de um mundo em ruínas. O engenho Santa Rosa, embora ainda ostente resquícios de seu antigo esplendor, está em processo de decadência. A ascensão da usina, símbolo da modernidade industrial, representa a inevitável superação do sistema patriarcal e agrário. José Lins do Rego, através dos olhos de Carlos, registra essa transição, capturando a melancolia de um passado que se esvai. A nostalgia não é apenas um sentimento individual do personagem, mas um eco da desagregação social e econômica de uma era.
As personagens secundárias são elementos fundamentais para a construção desse universo. A figura do Coronel José Paulino, avô de Carlos, encarna o poder patriarcal, a autoridade inquestionável e a resistência às mudanças. Sua personalidade forte e, por vezes, tirana, molda a infância do menino e representa a própria estrutura do engenho. Além dele, as tias, os agregados, os escravos libertos e os trabalhadores rurais compõem um mosaico humano que reflete a diversidade e as hierarquias sociais da época.
A obra aborda temas como a sexualidade na infância e adolescência, as relações familiares, a violência, a religiosidade popular e a formação da identidade. Carlos, ao longo do romance, experimenta os primeiros amores, as descobertas do corpo, os conflitos com a autoridade e a gradual compreensão das complexidades do mundo adulto. Sua jornada é uma busca por si mesmo em meio às transformações de seu ambiente.
"Menino de Engenho" é, portanto, um documento literário e social de inestimável valor. Através da memória afetiva e da prosa singular de José Lins do Rego, somos transportados para um Brasil rural em transformação, testemunhando a decadência de um sistema e a formação de um indivíduo. O romance não apenas narra uma história, mas evoca sensações, cheiros, sons e cores de um tempo e lugar que, embora distantes, permanecem vivos na memória literária brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário