BERNARDINO DA COSTA LOPES nasceu no arraial da Boa Esperança, município de Rio Bonito, no Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1859. Poeta mulato nascido então antes do fim da escravidão, mas filho de pais livres e de classe média baixa, o pai, Antônio da Costa Lopes, escrivão; a mãe, Mariana, costureira e bordadeira, conseguiu ser aceito pela sociedade da época.
Residiu em Santa Ana de Japuíba sob a condição de caixeirinho e, neste mesmo lugar iniciou seus estudos. Mais tarde, mediante concurso, mudou-se para o Rio de Janeiro com a finalidade de exercer cargo no funcionalismo fiscal. Aposentou-se prematuramente como funcionário da 9a seção da Diretoria Geral dos Correios, devido à invalidez ocasionada por uma vida desregrada e boêmia.
Casou-se com Cleta Vitória de Macedo e teve com ela cinco filhos, todos criados apenas pela esposa, pois o poeta havia encontrado a “mulher de sua vida”. Era “Sinhá Flor”, cujo nome real era Adelaide Uchoa Cavalcante, divorciada e já tendo filhos e netos, com a qual teve um relacionamento extremamente conturbado. Foi para ela que B. Lopes escreveu o livro homônimo.
No que diz respeito a sua obra, segundo Andrade Muricy, foi no ano de 1881, quando o Parnasianismo ainda não tinha se afirmado e o Simbolismo esperaria aproximadamente doze anos para seu tímido florescimento, que surge seu livro Cromos. Para Muricy, B. Lopes conseguiu dar à linguagem poética uma feição naturalista e mais familiar, já sem a idealização e a ebriedade românticas, distanciando-se assim de Ezequiel Freire, este um dos poetas de grande influência em sua obra, além dos parnasianos Teófilo Dias e Gonçalves Crespo.
B.
Lopes, juntamente com Emiliano Pernetta, Oscar Rosas, Cruz e Souza, Gonzaga
Duque, J. H. de Santa Rita, Virgílio Várzea, Lima Campos, Artur de Miranda
Ribeiro, Mário Pederneiras e Azevedo Cruz, formam o primeiro grupo de
simbolistas, dentre os quais nosso poeta é quem, à época, seguramente tem mais
prestígio. Mas ressalte-se que sua poesia não é clara nem resolutamente
simbolista. Várias influências se misturam nela de maneira surpreendentemente
harmoniosa. Em outras palavras, B. Lopes trabalhou as vertentes parnasiana e
simbolista ao mesmo tempo, ou seja, o que impossibilitou os críticos de o
classificarem como simbolista ou parnasiano. E foi dentro de toda essa
atmosfera, biográfica e intelectual, profissional e literária, que o poeta
escreveu sua obra poética. Mas toda essa produção, se granjeou a admiração de
vários jovens que então se iniciavam nas letras, não resultou em prestígio nem
respeito por parte da crítica estabelecida. Consta o poeta, no prefácio do
livro Ânforas, do poeta piauiense Jonas da Silva, queixou-se dos críticos, que
lhe negavam sinceridade e espontaneidade. Entre os intelectuais das famosas
rodas boêmias do Rio de Janeiro de fin-de-siècle, B. Lopes até mesmo
ridicularizado, sobretudo pelo implacável Emílio de Menezes.
Em
1916, Bernardino da Costa Lopes foi internado no Hospício Nacional de Alienados
para uma desintoxicação alcoólica. Logo depois voltou à sua casa onde teve uma
crise epilética, ou talvez, segundo Muricy, “um assomo de delírio”. Morreu em
18 de setembro de 1916, com então 57 anos.
OBRA POÉTICA
Cromos
(1881), Pizzicatos (1886), Dona Carmen (1890), Brasões (1895), Sinhá Flor (1899),
Val de lírios (1900), Helenos (1901), Patrício (1904) e Plumário (1905).
LEIA OS SONETOS VIII; X - BRASÕES (1895)
Abrem
duas janelas para a rua,
Com
trepadeira em arcos de taquara;
A
cortina de renda, larga e clara,
Alveja
ao fundo da vidraça nua.
Em
frente o mar, e sobre o mar a lua,
A
estrelejar a onda que não pára;
Aflam
asas por cima e solta a vara,
N'água
brilhante, o mestre da falua.
Ecos
noturnos e o rumor estranho
Da
meninada trêfega no banho
Voam da
praia ao chalezinho dela;
Move-se
um corpo de mulher,no escuro;
Gira,
após, o caixilho; e o luar puro
Ilumina-lhe
o busto na janela!
X
Fim de
tarde serena e violetada ...
No céu
— duas estrelas, e arrepios
Na
safira do mar, toda coalhada
De
emaranhados mastros de navios.
Longe,
entre névoas, traços fugidios
De uma
cidade branca derramada
—
Casas, torreões e coruchéus esguios,
Por
toda a clara fita da enseada.
Aqui
bem peno, aqui, na argêntea praia,
Contra
um rochedo nu, calcáreo e rudo,
Do
poente a frouxa claridade estampa,
Balouçando-se
n'água, uma catraia;
E,
agasalhados no gibão felpudo,
Pescadores
que vão subindo a rampa ...
Do Livro: Brasões
(1895)
POSTAGEM
DEDICADA AOS ACADÊMICOS: LIANE ARÊAS que é uma profunda conhecedora da obra de
B. Lopes; Acadêmico HILÁRIO FRANCISCONI atual ocupante da Cadeira nº 2
patronímica de B. Lopes, na Academia Niteroiense de Letras; In memorian a NEIDE
BARROS RÊGO pela coordenação do Recital com as poesias de B. Lopes.
LIANE
ARÊAS Para os que não sabem proferiu inúmeras vezes palestras sobre o renomado
escritor Bernardino da Costa Lopes - B. Lopes. Tem uma especial conferência
proferida na Academia Niteroiense de Letras sobre o Centenário do Encantamento
do B. Lopes em 05 de outubro de 2016, sob a presidência de Márcia Pessanha. A ilustração comprobatória está no link:
https://www.youtube.com/watch?v=xlJMaZJn6_U
ou link:
https://www.youtube.com/watch?v=xlJMaZJn6_U
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