Homenagem do Focus Portal Cultural
pelos 117 anos de nascimento do escritor em 27 de junho de 1908.
É com grande alegria e profundo respeito que o Focus
Portal Cultural presta esta homenagem ao inesquecível João Guimarães
Rosa, por ocasião dos 117 anos de seu nascimento. Celebramos não
apenas a data, mas a presença viva de sua palavra no imaginário brasileiro, na
alma do sertão e no coração de quem reconhece a literatura como território
sagrado de travessias humanas.
Mais que escritor, Rosa foi um alquimista da língua,
um desbravador de sentidos, um criador de mundos. Ao reinventar o idioma e
transformar o sertão em paisagem mítica, ele fez do Brasil um lugar ainda mais
vasto dentro da literatura universal. Homenageá-lo é celebrar o poder da
linguagem, da escuta e da beleza que há nos caminhos mais simples, e mais
profundos — da existência.
Num tempo em que o Brasil se procurava
nos mapas da própria alma, nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, um menino que
mais tarde se tornaria o cartógrafo do indizível, o tradutor do sertão e da
alma humana. João Guimarães Rosa não foi apenas escritor foi alquimista da
linguagem, arquiteto de mundos entre as veredas da fala popular e as veredas da
metafísica.
Ao celebrarmos seus 117 anos de
nascimento, o Focus Portal Cultural presta esta homenagem àquele que fez do
silêncio do sertão um rumor eterno na literatura universal.
Poeta, contista, romancista, diplomata
e médico, João Guimarães Rosa é considerado por muitos o maior escritor
brasileiro do século XX. Sua obra não apenas representou o sertão, ela recriou
o sertão em todos os seus paradoxos: bruto e lírico, mítico e concreto, sagrado
e profano.
Desde menino, era fascinado pelas
palavras. Aprendeu línguas como quem colhe estrelas. Estudou francês antes dos
seis anos, mergulhou em gramáticas de mais de 20 idiomas, e afirmava que
estudar línguas era, antes de tudo, um divertimento, um modo de entrar nas entranhas da própria
língua portuguesa.
Foi médico em cidades pequenas e
combatente na Revolução de 1932. Ingressou na carreira diplomática e, em
Hamburgo, conheceu Aracy de Carvalho, com quem casaria e que, heroína
silenciosa da Segunda Guerra, ajudou judeus a escaparem do nazismo. Rosa viveu
entre embaixadas e postos do Itamaraty, mas seu coração nunca deixou o sertão.
Na literatura, sua estreia se deu com
Sagarana (1946), mas foi com Grande Sertão: Veredas (1956) que o mundo o
reconheceu como um dos gênios da narrativa moderna. A linguagem viva, inventiva
e metafórica, construída com rebentos do idioma popular e raízes do latim,
tupi, alemão, sânscrito e outros — tornou-se seu instrumento de revelação e
encantamento.
Guimarães Rosa tratava a palavra como
quem trata um mistério sagrado. Em seus textos, linguagem e pensamento caminham
juntos, como Riobaldo e Diadorim, personagens que representam o eterno enigma
do humano.
Sua obra mistura elementos do realismo
mágico, do regionalismo simbólico, do existencialismo lírico e da metafísica
poética. É literatura de travessia, onde o rio e a alma se confundem. Onde o
sertão é também tempo, morte, fé, amor, ausência, Deus, e tudo aquilo que não
cabe na explicação lógica.
Foi eleito para a Academia Brasileira
de Letras em 1963, mas só tomou posse em 1967. Três dias depois do seu discurso,
onde disse: "A gente morre é para provar que viveu.", faleceu de
infarto, aos 59 anos. Morreu no corpo, mas vive no verbo, no que é eterno da
língua, da cultura, da imaginação.
João Guimarães Rosa não escreveu
livros, ele abriu portais. Portais para dentro do Brasil profundo, para dentro
da alma humana, para dentro do inominável. Seu legado não é apenas literário, é
espiritual, ético, estético.
No sertão que ele ergueu com palavras,
todos somos andarilhos de uma travessia que ainda não terminou. Que seus 117
anos continuem a nos lembrar: "Viver é muito perigoso", mas escrever
é uma forma de renascer, de criar eternidades entre uma página e outra.
Focus Portal Cultural — Em honra à
palavra que ilumina.
© Alberto Araújo
JOÃO GUIMARÃES ROSA — O SENHOR DAS
PALAVRAS E DAS VEREDAS DA ALMA
João Guimarães Rosa nasceu no dia 27
de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais, uma pequena cidade que, como
ele próprio, guardava vastidões em silêncio. Desde menino, carregava um mundo
dentro, feito de sons, signos e mistérios. Era filho de Florduardo Pinto Rosa,
comerciante, e Francisca Guimarães Rosa, conhecida como Chiquitita. Ainda
criança, apaixonou-se pelas línguas e pelos livros, iniciando o estudo de
idiomas com uma precocidade espantosa. Aos seis anos já estudava francês; mais
tarde aprenderia dezenas de línguas, lendo gramáticas por puro deleite.
Formou-se médico aos 19 anos pela
Universidade de Minas Gerais. Exerceu a profissão no interior mineiro,
especialmente em Itaguara, onde o contato com o povo simples, com a fala rústica
e com o sertão vivo, deixou marcas profundas em sua imaginação. Ali, o menino
das palavras se encontrou com os mitos da terra, com o silêncio das veredas e
com os enigmas do viver.
Mas Guimarães Rosa era múltiplo. Além
de médico, foi também militar voluntário na Revolução de 1932 e, em seguida,
tornou-se diplomata de carreira. Serviu em cidades como Hamburgo, Bogotá e
Paris. Em Hamburgo, durante os anos sombrios do nazismo, conheceu Aracy de
Carvalho, brasileira corajosa que salvou dezenas de judeus concedendo vistos
para o Brasil — mulher que se tornaria sua companheira de vida.
Como escritor, estreou em 1946 com o
livro de contos “Sagarana”, recebendo aclamação imediata. Mas foi em 1956, com
a publicação do monumental “Grande Sertão: Veredas”, que Guimarães Rosa entrou
definitivamente para a eternidade literária. Criou ali um romance-rio, um fluxo
existencial entre o bem e o mal, a fé e a dúvida, o amor e o mistério,
encarnado nas figuras inesquecíveis de Riobaldo e Diadorim.
Sua literatura não se contenta em
representar o sertão — ela reinventa o idioma para recriar o mundo. Em suas
obras, o português se expande em neologismos, arcaísmos, construções
inesperadas, fundindo o erudito e o popular num mesmo fio de encantamento. Com
um estilo único e inconfundível, Rosa fundou um novo modo de escrever, onde a
linguagem é travessia, magia e revelação.
Eleito para a Academia Brasileira de
Letras em 1963, adiou por anos sua posse — temia ser dominado pela emoção.
Quando finalmente fez seu discurso, em 1967, emocionou a todos ao afirmar: “A
gente morre é para provar que viveu.” Três dias depois, faleceu de um infarto
fulminante, no Rio de Janeiro, aos 59 anos. Seu corpo descansa no panteão da
ABL, mas sua obra continua viva, vibrante, inatingível.
João Guimarães Rosa foi poeta da
linguagem, pensador da existência, inventor do sertão-mito. Seu legado
atravessa o tempo com a força dos rios que nunca cessam de correr, mesmo depois
de perderem o nome nos mapas. Seu sertão não é só geografia — é condição da
alma. Suas palavras, ainda hoje, nos lembram de que viver é arte, é busca, é
verbo em movimento.
Ao
relembrar João Guimarães Rosa, revisitamos não apenas a história de um homem,
mas o legado de um mestre que nos ensinou a ver o invisível e a ouvir o
silêncio das veredas. Sua obra continua a ecoar em cada leitor que ousa
atravessar o sertão simbólico de suas páginas, encontrando ali um espelho da
própria alma.
O Focus
Portal Cultural, com gratidão e admiração, reverencia este imortal das
letras brasileiras. Que sua palavra siga iluminando gerações, como estrela que
não se apaga no céu da literatura.
© Alberto Araújo