Comemore
conosco mais uma efeméride que ilumina as páginas do Focus Portal Cultural! No
nosso quadro especial EFEMÉRIDES, o jornalista e editor Alberto Araújo nos
convida a viajar no tempo para um feito que redefiniu os limites da audácia
humana. Prepare-se para reviver um dos capítulos mais gloriosos da história da
aviação e da irmandade entre povos: a Primeira Travessia Aérea do Atlântico
Sul.
A
ODISSEIA DE GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL
Em
17 de junho de 1922, os nomes de Gago Coutinho e Sacadura Cabral se inscreveram
para sempre na história. A bordo do hidroavião "Santa Cruz", eles
concluíram a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, ligando Lisboa ao Rio
de Janeiro. Mais que um feito de engenharia e coragem, essa jornada representou
um salto gigantesco na navegação aérea, graças às inovações desenvolvidas por
Gago Coutinho, como o sextante aperfeiçoado e o corretor de rumos, que
permitiram a navegação precisa sobre o vasto oceano.
A
chegada ao Rio de Janeiro foi um espetáculo de emoção e celebração. Uma
multidão aguardava na Praça Mauá, aclamando os heróis que, com sua saga,
reforçaram os laços entre Portugal e Brasil, especialmente no ano do Centenário
da Independência brasileira. Niterói, por sua vez, também teve seu papel, com
uma calorosa recepção na Cantareira e a inauguração da Praça Lusitânia, um
testemunho duradouro dessa conexão.
A
travessia foi realizada em 1922, ano das comemorações do Primeiro Centenário da
Independência do Brasil, e teve um forte simbolismo de união entre os dois
países.
Ambos
eram oficiais da Marinha Portuguesa e experientes em navegação e aviação. Gago
Coutinho era o navegador e Sacadura Cabral o piloto.
Inovações
e Tecnologia
O
grande diferencial dessa travessia foi o desenvolvimento e a utilização de
novos instrumentos de navegação aérea por Gago Coutinho. Ele aperfeiçoou o
sextante para permitir a orientação do avião em pleno voo, sem a necessidade de
visualizar diretamente o horizonte, e inventou um corretor de rumos para
retificar desvios causados pelo vento. Esses avanços foram cruciais para a
precisão da navegação em longas distâncias sobre o oceano.
O
conceito de "horizonte artificial", utilizado até hoje na aviação,
foi, na prática, inventado por Gago Coutinho.
A
VIAGEM
A
viagem teve início em 30 de março de 1922 e foi concluída em 17 de junho de
1922.
A
travessia foi feita em hidroaviões. O primeiro, e mais famoso, foi o
"Lusitânia" (um Fairey III D). Devido a avarias e acidentes durante a
jornada, outros dois hidroaviões foram utilizados: um segundo Fairey III D
(apelidado de "Pátria" ou "Pátria-Portugal", embora não
oficialmente) e, por fim, o "Santa Cruz", com o qual concluíram a
travessia.
A
viagem foi dividida em várias etapas devido à autonomia limitada do
combustível. Houve diversas paradas para reabastecimento e reparos, e os
aviadores enfrentaram dificuldades e acidentes que levaram à perda dos dois
primeiros aviões. As principais etapas incluíram:
Lisboa
a Las Palmas (Ilhas Canárias)
Las
Palmas a São Vicente (Cabo Verde)
Praia
(Cabo Verde) aos Penedos de São Pedro e São Paulo (Brasil), uma etapa
particularmente desafiadora e longa.
Penedos
de São Pedro e São Paulo a Fernando de Noronha
Fernando
de Noronha a Recife
Recife
ao Rio de Janeiro (com paradas em outras cidades brasileiras como Salvador e
Vitória).
Embora
a viagem tenha durado 79 dias no total (devido às paradas e à espera por novos
aviões), o tempo de voo real foi de apenas 62 horas e 26 minutos, cobrindo uma
distância total de 8.383 quilômetros.
A
travessia de Gago Coutinho e Sacadura Cabral foi um marco na história da
aviação mundial, provando a viabilidade de voos de longo alcance sobre o oceano
com precisão, utilizando instrumentos de navegação astronômica portáteis.
Eles
foram recebidos como heróis em Portugal e no Brasil, e seu feito inspirou
futuras travessias aéreas.
A
CHEGADA AO RIO DE JANEIRO E NITERÓI
A
chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Brasil, e especificamente ao Rio
de Janeiro e Niterói, foi um momento de grande celebração e entusiasmo. Após a
árdua e longa travessia do Atlântico Sul, eles foram recebidos como heróis.
A
CHEGADA AO RIO DE JANEIRO
Data
e Aeronave: Os aviadores chegaram ao Rio de Janeiro em 17 de junho de 1922, a
bordo do hidroavião "Santa Cruz" (o terceiro avião utilizado na
travessia, após os acidentes com o "Lusitânia" e o segundo Fairey III
D).
A
chegada foi marcada por uma recepção grandiosa e popular. Uma multidão compacta
se aglomerou na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, para testemunhar o feito. A
imprensa brasileira acompanhou de perto cada etapa da viagem, e o entusiasmo do
público foi crescendo à medida que os aviadores superavam os obstáculos.
A
travessia, realizada no contexto das comemorações do Centenário da
Independência do Brasil, selou de forma definitiva a amizade entre os povos
português e brasileiro. Sacadura Cabral, em entrevista logo após o desembarque,
destacou essa união, afirmando: "Brasil e Portugal são, que bem o vejo e
sinto, duas nações".
Os
aviadores receberam diversas homenagens e participaram de eventos em várias
cidades brasileiras, incluindo Salvador, Vitória e, finalmente, o Rio de
Janeiro. Foram feitos almoços, visitas a instituições e muitas celebrações em
reconhecimento ao seu heroísmo e à inovação de seus métodos de navegação.
Fotografias da época mostram a aclamação popular e os grupos de oficiais e
autoridades que os recepcionaram.
A
Ligação com Niterói
Embora
a principal celebração e chegada oficial tenha sido no Rio de Janeiro (então
capital do Brasil), Niterói, por sua proximidade e por ter sido um importante
polo naval e aéreo na época, também teve sua participação e celebrou o feito.
Há
relatos de que Gago Coutinho e Sacadura Cabral, após a chegada ao Rio de
Janeiro, foram recebidos em Niterói. Uma lancha os teria ancorado junto ao
flutuante da Cantareira (um importante ponto de conexão marítima entre Niterói
e o Rio de Janeiro na época), onde uma multidão os aguardava. A praça estava
cheia de gente, com muita alegria e grupos folclóricos portugueses cantando e
dançando.
Em
Niterói, na região de Icaraí, existe a Praça Lusitânia, que foi inaugurada em
homenagem à travessia. Existem registros fotográficos dos aviadores Gago
Coutinho e Sacadura Cabral presentes à solenidade de inauguração dessa praça em
1922, o que demonstra a importância do evento para a cidade. O Theatro
Municipal João Caetano também foi palco de solenidades durante a visita dos
aviadores.
Mais
de um século se passou desde aquele voo épico, e a travessia de Gago Coutinho e
Sacadura Cabral permanece como um farol de inspiração. Ao longo desses 103
anos, esse feito não só consolidou o intercâmbio cultural, científico e humano
entre Brasil e Portugal, mas também abriu as portas para uma era de maior
conectividade global. A audácia e a inovação desses pioneiros continuam a
ecoar, lembrando-nos da capacidade humana de superar desafios e construir
pontes, sejam elas aéreas ou simbólicas. Que essa memória continue a nos inspirar
a novos voos, sempre valorizando o rico legado que nos une.
Por
fim, a chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Rio de Janeiro, e
posteriormente a Niterói, foi um marco memorável, não apenas pela audácia da
façanha aérea, mas também pelo profundo simbolismo de união e celebração entre
Portugal e Brasil.
Sacadura
Cabral faleceu dois anos depois, em 1924, em outro voo. Gago Coutinho teve uma
longa e notável carreira na Marinha e como historiador.

Gago
Coutinho faleceu no dia 18 de fevereiro de 1959, um dia depois de completar 90
anos, e o funeral transformou-se numa grande homenagem da população de Lisboa
ao almirante que, apesar das honrarias, quis ser sepultado apenas com o
equipamento de geógrafo.
O
Museu de Marinha em Lisboa possui diversos itens relacionados a essa histórica
travessia, incluindo modelos dos hidroaviões e objetos pessoais dos
navegadores.
© Alberto Araújo
O "Monumento da
Travessia" em Icaraí, Niterói, comemora a primeira travessia aérea do
Oceano Atlântico entre Portugal e Brasil, realizada pelos aviadores portugueses
Sacadura Cabral e Gago Coutinho em 1922. O monumento está localizado na Praia de
Icaraí, próximo à Igreja. Ele é composto por uma placa explicativa de bronze
que detalha a importância da travessia.
Alberto Araújo no Monumento da Travessia.
O monumento foi inaugurado em 1º
de julho de 1922, marcando a pedra fundamental da comemoração da travessia
aérea. A placa, em uma das faces do monumento, descreve a realização da
travessia aérea do Atlântico Sul pelos aviadores portugueses. O monumento é um importante marco histórico e
cultural, celebrando a ousadia e a engenhosidade dos navegadores que realizaram
essa façanha.