sexta-feira, 24 de outubro de 2025

MÁRIO FAUSTINO - 95 ANOS DE INQUIETUDE POÉTICA E LEGADO ETERNO - HOMENAGEM PÓSTUMA DO FOCUS PORTAL CULTURAL


No dia 22 de outubro de 2025, celebramos os 95 anos de nascimento de Mário Faustino dos Santos e Silva, poeta, jornalista, tradutor e crítico literário nascido em Teresina, Piauí, em 1930. Embora sua vida tenha sido tragicamente interrompida aos 32 anos, em um acidente aéreo no Peru, sua obra permanece viva, pulsante e cada vez mais necessária. Faustino é daqueles raros autores cuja produção, embora breve, reverbera com intensidade nas gerações seguintes, como um raio que atravessa o tempo e ilumina os caminhos da poesia brasileira. 

Mário Faustino não foi apenas um poeta. Foi um pensador da linguagem, um artesão do verbo, um inquieto buscador de sentidos. Sua única obra publicada em vida, O Homem e sua Hora (1955), é um marco do modernismo tardio, onde o lirismo se entrelaça com a reflexão filosófica e a experimentação formal. Seus versos são densos, exigentes, mas profundamente reveladores, como quem escreve não apenas para emocionar, mas para provocar, para transformar. 

Formado intelectualmente em Belém do Pará, Faustino atuou como redator e cronista em jornais como A Província do Pará e A Folha do Norte, entre 1947 e 1956. Foi no suplemento literário deste último que reuniu jovens escritores e críticos como Benedito Nunes, Max Martins, Haroldo Maranhão, Rui Barata e até mesmo Clarice Lispector, consolidando um núcleo de efervescência cultural na Amazônia, em diálogo direto com os grandes centros do país. 

Mais tarde, já no Rio de Janeiro, tornou-se editor do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, onde criou a seção “Poesia-Experiência”. Ali, Faustino não apenas divulgava novos poetas, mas também refletia sobre o papel da poesia na sociedade, sobre os limites da linguagem e sobre a urgência de uma arte que fosse, ao mesmo tempo, estética e ética. Sua atuação como crítico literário foi tão relevante quanto sua produção poética, sempre marcada por uma postura rigorosa, mas generosa, aberta ao novo e ao diverso. 

Embora tenha vivido em diferentes cidades e dialogado com autores de várias partes do mundo, Mário Faustino nunca deixou de carregar em sua poesia as marcas de sua origem piauiense. Teresina, com seu calor, sua paisagem e sua cultura, está presente em sua sensibilidade, em sua forma de ver o mundo. O Piauí, muitas vezes esquecido nos mapas literários do Brasil, encontra em Faustino um de seus maiores embaixadores, alguém que mostrou que a poesia feita no sertão pode dialogar com os grandes temas universais, com a filosofia, com a política, com a metafísica. 

Sua poesia é marcada por imagens poderosas, por uma musicalidade singular e por uma constante tensão entre o sonho e a realidade. Em poemas como “Brasão” e “Legenda”, vemos o poeta construir universos simbólicos onde o tempo, o ser e o destino se entrelaçam em versos de rara beleza e profundidade.


O ABRAÇO CULTURAL DE MÁRIO FAUSTINO NAS RAÍZES DO FOCUS PORTAL CULTURAL

O Focus Portal Cultural, sob a curadoria sensível e visionária do jornalista Alberto Araújo, orgulha-se de carregar em suas raízes nordestinas o abraço cultural de Mário Faustino, poeta maior do Piauí, cuja obra transcende fronteiras e tempos. É nas páginas desse portal que a memória de Faustino encontra acolhida, reverência e continuidade, reafirmando que a cultura nordestina pulsa viva, inquieta e transformadora.

Ao celebrar os 95 anos de nascimento de Mário Faustino, o Focus Portal Cultural reafirma seu compromisso com a valorização da literatura brasileira e com a preservação dos grandes nomes que moldaram nossa identidade poética. Faustino, com sua verve filosófica e sua paixão pela palavra, é presença constante e inspiradora nas trilhas que o portal percorre, como fanal que ilumina o caminho da arte e do pensamento. 

A morte precoce de Mário Faustino, em 1962, interrompeu uma trajetória que prometia ainda muitas contribuições à literatura brasileira. No entanto, seu legado permanece. Estudos acadêmicos, reedições de sua obra, homenagens em instituições culturais, como a Academia Piauiense de Letras, da qual é patrono da Cadeira nº 40,  mantêm viva a memória de um autor que soube, como poucos, transformar a palavra em instrumento de revelação. 

Celebrar os 95 anos de Mário Faustino é mais do que lembrar uma data. É reafirmar a importância da poesia como forma de resistência, como espaço de liberdade e como território de pensamento. É reconhecer que, mesmo com uma obra enxuta, Faustino deixou marcas profundas na cultura brasileira, marcas que continuam a inspirar poetas, críticos e leitores em busca de uma literatura que não se acomoda, que não se rende, que ousa. 

Neste aniversário simbólico, rendemos homenagem a Mário Faustino com a certeza de que sua “hora” ainda não passou. Sua poesia continua a ecoar, a desafiar, a encantar. E o Piauí, terra que o viu nascer, pode se orgulhar de ter dado ao Brasil um dos mais inquietos e geniais poetas de sua história. 

Que sua obra continue a ser lida, estudada e celebrada, não apenas como memória, mas como presença viva no coração da literatura brasileira.

@ Alberto Araújo

  


BIOGRAFIA DE MÁRIO FAUSTINO - O POETA DA HORA INCANDESCENTE 

Mário Faustino dos Santos e Silva nasceu em Teresina, Piauí, no dia 22 de outubro de 1930, como quem chega ao mundo já com a urgência de dizer. Viveu apenas 32 anos, mas sua existência foi um relâmpago de lucidez, inquietação e beleza. Morreu em 27 de novembro de 1962, num desastre aéreo no Peru, como se o destino quisesse interromper, abruptamente, uma voz que ardia demais para durar. 

Poeta, jornalista, tradutor, crítico literário: Faustino foi tudo isso e mais. Um homem que não se contentava com o raso, que buscava na linguagem uma forma de transcendência. Seu único livro de poemas, O Homem e sua Hora (1955), é uma obra de intensidade rara, onde o tempo, a morte, o amor e o pensamento se entrelaçam como fios de uma tapeçaria metafísica.

Mas Mário Faustino não foi apenas poeta, foi também um dos grandes articuladores da poesia brasileira moderna. No Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, criou e dirigiu a seção “Poesia-Experiência”, entre 1956 e 1958, espaço onde a poesia era tratada como laboratório, como risco, como revelação. Ali, ele não apenas divulgava novos poetas, mas também refletia sobre o fazer poético com uma profundidade crítica que poucos alcançaram.

Seu olhar era cosmopolita. Falava fluentemente inglês, francês, alemão, italiano e espanhol. Viajou pelos Estados Unidos, estagiou em grandes jornais, integrou uma embaixada universitária na Europa, trabalhou na ONU em Nova Iorque. Mas nunca deixou de ser brasileiro e nordestino em sua sensibilidade. 

Estudou Direito em Belém, mas não concluiu o curso. Preferiu os jornais, as crônicas, os editoriais. Foi redator em A Província do Pará, editorialista no Jornal do Brasil, chefe do Suplemento Literário, professor na Fundação Getúlio Vargas. Sua vida foi um entrelaçamento de pensamento e ação, de cultura e urgência. 

A poesia de Faustino é filosófica, mas nunca fria. É lírica, mas nunca ingênua. É moderna, mas profundamente enraizada na tradição. Ele dialogava com os grandes Dante, Rilke, Eliot mas também com os contemporâneos, com os jovens, com os que ousavam experimentar. 

Faustino não escrevia versos, ele os incendiava. Sua poesia é marcada por uma tensão entre o humano e o cósmico, entre o instante e o eterno. Em “O Homem e sua Hora”, o eu lírico é um ser em trânsito, em combustão, em busca de sentido diante da vertigem do tempo. 

A hora, para Faustino, não é apenas cronológica: é existencial. É o momento em que o homem se confronta com sua finitude e sua liberdade. É o instante em que o verbo se faz carne, e a carne se faz pensamento. 

Sua linguagem é densa, filosófica, mas nunca hermética. Há uma musicalidade subterrânea em seus versos, uma cadência que lembra os grandes mestres que ele tanto admirava, Dante, Rilke, Eliot.

O CRÍTICO QUE PENSAVA COM PAIXÃO 

No Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, entre 1956 e 1958, Faustino criou a seção “Poesia-Experiência”, espaço revolucionário onde a poesia era tratada como laboratório, como risco, como revelação. Ali, ele não apenas divulgava novos poetas, mas também refletia sobre o fazer poético com uma profundidade crítica que poucos alcançaram. 

Seus textos críticos são verdadeiros ensaios filosófico-literários. Ele pensava com paixão, escrevia com rigor, e lia com generosidade. Sua crítica não era destrutiva, mas construtiva, uma tentativa de compreender o gesto poético em sua radicalidade. 

Faustino acreditava que a poesia era uma forma de conhecimento. Para ele, o poeta não era apenas um esteta, mas um pensador. E sua crítica buscava revelar essa dimensão do poema como pensamento encarnado. 

Falava fluentemente inglês, francês, alemão, italiano e espanhol. Viajou pelos Estados Unidos, estagiou em grandes jornais, integrou uma embaixada universitária na Europa, trabalhou na ONU em Nova Iorque. Mas nunca deixou de ser brasileiro e nordestino, em sua sensibilidade. 

Estudou Direito em Belém, mas não concluiu o curso. Preferiu os jornais, as crônicas, os editoriais. Foi redator em A Província do Pará, editorialista no Jornal do Brasil, chefe do Suplemento Literário, professor na Fundação Getúlio Vargas. Sua vida foi um entrelaçamento de pensamento e ação, de cultura e urgência. 

Essa inquietação cosmopolita não o afastou da realidade brasileira — ao contrário, ampliou sua visão. Faustino via o Brasil como parte de um mundo maior, e a poesia brasileira como capaz de dialogar com as grandes tradições literárias do Ocidente. 

A morte de Mário Faustino, aos 32 anos, num acidente aéreo nos Andes, parece saída de um de seus próprios poemas. Um fim abrupto, trágico, quase mítico. 

Faustino tornou-se símbolo de uma geração que buscava o absoluto, que via na poesia não um ornamento, mas uma forma de conhecimento. Sua vida foi breve, mas sua voz é duradoura.

Hoje, ao revisitarmos sua obra e sua trajetória, vemos que ele foi mais do que um poeta: foi um pensador da linguagem, um artesão do verbo, um visionário que soube enxergar além da hora.

Sua poesia continua a desafiar leitores e críticos. Sua crítica continua a iluminar caminhos. E sua figura permanece como uma das mais intensas da literatura brasileira do século XX. 

Sua morte precoce deixou um vazio, mas também uma lenda. Mário Faustino tornou-se símbolo de uma geração que buscava o absoluto, que via na poesia não um ornamento, mas uma forma de conhecimento.

Hoje, ao revisitarmos sua obra e sua trajetória, vemos que ele foi mais do que um poeta: foi um pensador da linguagem, um artesão do verbo, um visionário que soube enxergar além da hora. 

Sua vida foi breve, mas sua hora, aquela que ele mesmo cantou, permanece.


Mário Faustino foi um cometa, breve, brilhante, inesquecível.







Alberto Araújo e Sávio Soares de Sousa
quando Sávio ofertou o livro: O Homem e sua Hora
e outros poemas de Mário Faustino.




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