Na pulsante Cinelândia, onde o tempo se dobra entre o concreto e a memória, uma fresta de luz se abre no coração da cidade. O Museu Nacional de Belas Artes guardião de silêncios, de formas e de histórias, ergue lentamente suas cortinas após um longo interlúdio. Ainda não é o grande retorno, mas é um gesto, um sussurro, uma promessa.
A Galeria de Moldagens 2, situada na Avenida Rio Branco, 199, torna-se palco de uma exposição que não apenas ocupa o espaço, mas o reinventa: “Breu”, do fotógrafo Vicente de Mello.
Vicente de Mello, com sua lente sensível e poética, transforma o vazio em presença. Durante o período de fechamento do museu, iniciado em 2020, quando as reformas silenciaram os corredores, o artista percorreu os bastidores, os cantos esquecidos, os moldes adormecidos. E ali, no breu literal e simbólico, encontrou imagens que não clamam por luz, mas por olhar. A exposição é um convite à contemplação do invisível, à escuta do silêncio, à dança das sombras.
Cada fotografia é um fragmento de tempo suspenso, uma arqueologia da ausência. O visitante, ao adentrar a galeria, não apenas vê, ele é visto pelas paredes, pelos objetos, pelas moldagens que guardam ecos de séculos. É como se o museu, ainda em reforma, respirasse por essas imagens, dizendo: “Estou aqui, ainda sou”.
De segunda a sexta-feira, das 13h às 17h, com última entrada às 16h30min, o público pode acessar gratuitamente essa experiência. A entrada é por ordem de chegada, sujeita à lotação, como quem espera por um ritual, por um instante de revelação. Não há pressa, não há espetáculo. Há presença.
A Galeria de Moldagens 2, espaço que antes servia como bastidor, agora se torna protagonista. É uma inversão poética: o que moldava, agora é moldado pelo olhar do público. E ali, entre gessos e sombras, o visitante encontra não apenas arte, mas vestígios de um país, de uma cidade, de si mesmo.
A reabertura completa do MNBA está prevista para 2026. Até lá, “Breu” é mais que uma exposição é um fanal no escuro, uma vela acesa na câmara da memória. É o testemunho de que a arte não se cala, mesmo quando os muros se fecham. Ela se infiltra, se transforma, se revela.
O MNBA, com sua arquitetura neoclássica e alma modernista, é mais que um edifício: é um organismo cultural. E como todo organismo, precisa de tempo para se curar, para se renovar. A exposição de Vicente de Mello é como um suspiro entre dois atos, uma pausa lírica que prepara o retorno.
Visitar “Breu” é aceitar o convite
para caminhar entre o visível e o oculto. É reconhecer que, mesmo na penumbra,
há beleza. Que o museu, mesmo em silêncio, canta. E que a arte, como a vida,
resiste, moldada pelo tempo, pela luz, pelo olhar.
Se você passar pela Cinelândia, permita-se esse encontro. Entre no breu. E descubra que, às vezes, é no escuro que enxergamos melhor.
@ Alberto Araújo
%2015.48.09_da8c9893.jpg)
%2015.48.09_1a624cbf.jpg)
%2015.48.10_98884cde.jpg)

Nenhum comentário:
Postar um comentário