domingo, 19 de outubro de 2025

O JORNALISMO ESTÁ DE LUTO – ADEUS A JOURDAN AMÓRA

No domingo, 19 de outubro de 2025, o jornalismo brasileiro perdeu uma de suas vozes mais firmes e apaixonadas. Jourdan Norton Wellington de Barros Amóra, referência incontornável da imprensa fluminense, faleceu deixando um legado de coragem, independência e compromisso com a verdade. Sua partida representa uma lacuna profunda no cenário da comunicação, especialmente em Niterói, cidade que ele ajudou a narrar, interpretar e transformar por meio da palavra escrita. 

O Focus Portal Cultural, sob a curadoria do jornalista Alberto Araújo, presta esta homenagem jornalística e cultural à memória de um profissional que fez da notícia sua missão e da liberdade de expressão sua bandeira. O jornalismo está de luto, não apenas pela ausência física de Jourdan, mas pela perda de um espírito que acreditava que informar era servir à democracia.


JOURDAN AMÓRA – O ARQUÉTIPO DA IMPRENSA COMO MISSÃO 

Em um tempo em que a informação se dispersa em cliques e algoritmos, recordar a trajetória de Jourdan Amóra é como abrir um livro raro, onde cada página revela o compromisso ético, a paixão pela verdade e a coragem de enfrentar os silêncios impostos. Esta homenagem, promovida pelo Focus Portal Cultural, é mais que um tributo: é uma reafirmação do papel transformador do jornalismo e da cultura na vida pública. 

Jourdan Amóra não foi apenas um jornalista, foi um arquétipo da imprensa como missão. Desde os primeiros passos na redação, ainda adolescente, demonstrava uma inquietação que o tornaria referência. Escreveu para jornais como Diário do Comércio, Última Hora, Diário Carioca e Jornal do Brasil, enfrentando os desafios da censura com a firmeza de quem sabia que a liberdade de imprensa é um direito inegociável. 

Em 1965, após ser demitido sob acusação de “subversão”, transformou o revés em resistência: comprou o jornal A Tribuna, então o menor entre sete publicações de Niterói. Com estrutura precária, mas com uma vontade imensa de fazer jornalismo independente, reformulou o conteúdo, modernizou a gráfica e ampliou a tiragem. A Tribuna tornou-se símbolo de combatividade e liberdade editorial. 

A CIDADE COMO PERSONAGEM 

Para Jourdan, Niterói não era apenas cenário, era personagem. Ele acreditava que o jornalismo deveria dialogar com a cidade, propor soluções, denunciar injustiças e valorizar a cultura local. Propôs melhorias urbanas, como a expansão da Marquês do Paraná e a integração dos transportes entre bairros e municípios vizinhos. Seu olhar era técnico, político e humano. 

Fundou a Associação Brasileira de Jornais do Interior (ABRAJOI) e criou o Jornal da Terceira Idade, ampliando o alcance da informação para públicos muitas vezes esquecidos. Sua escrita era engajada, mas nunca partidária, era comprometida com a verdade e com o leitor. 

Ao lado de sua esposa Eva de Loures Amóra, que foi seu alicerce emocional e financeiro nos momentos mais difíceis, Jourdan construiu uma história de fidelidade à palavra e ao afeto. Eva, que ele chamava de “a mais longa e leal redação da vida”, faleceu em setembro e, cerca de um mês depois, Jourdan partiu, como se não pudesse continuar sem ela. 

Seus filhos, Gustavo e Luis Jourdan, também fazem parte dessa história, testemunhando e perpetuando o legado de um homem que acreditava que o jornalismo não era apenas profissão, mas vocação.

O jornalista faleceu por volta das 10h30min, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Jourdan era diretor do Jornal A Tribuna e estava internado no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) há cerca de duas semanas.

Nascido em Araçuaí, norte de Minas Gerais, em 6 de maio de 1938, e criado entre Petrópolis, São Gonçalo e Niterói, Jourdan foi repórter, editor, empresário, um amante do jornalismo. Mais que um jornalista, foi o repórter da própria vida. Apaixonado pela notícia, transformou o ato de informar em forma de resistência e amor à cidade. 

Jourdan atravessou censuras, prisões, revoluções tecnológicas e crises políticas sem jamais abandonar o verbo lutar. Agora, deixa um legado para a história do jornalismo brasileiro. 

Seu legado permanece vivo em cada jornalista que escolhe a verdade, em cada leitor que exige profundidade e em cada cidadão que entende que a imprensa livre é um pilar da democracia. 

Como ele mesmo escreveu: “Enquanto houver cidade, haverá pauta. E enquanto houver pauta, haverá Tribuna.”


© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural








 

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