Inspirado na postagem do Professor Marco Antônio Martins Pereira
Na penumbra de uma sala silenciosa, um jovem contempla o busto de um velho filósofo. O mármore frio contrasta com o calor das dúvidas que fervilham em sua mente. Ele segura o queixo, como quem tenta arrancar da própria carne uma resposta que não vem. Acima deles, gravada em latim, a sentença de Sêneca ecoa como um sussurro eterno: “Nemo nascitur sapiens”. Ninguém nasce sábio.
Essa frase, simples e cortante, carrega o peso de milênios. É uma advertência e um consolo. Um lembrete de que a sabedoria não é dom, é conquista. Não brota como flor espontânea, mas se constrói como catedral, pedra sobre pedra, erro sobre erro, silêncio sobre silêncio.
Vivemos em tempos em que se espera que tudo seja instantâneo. O saber, inclusive. A juventude é pressionada a ter certezas antes mesmo de conhecer as perguntas. A maturidade é confundida com acumular diplomas, e a sabedoria, com decorar frases de efeito. Mas Sêneca, com sua toga e sua serenidade estoica, nos lembra: ninguém nasce pronto. Nem mesmo ele.
A sabedoria é filha da humildade. E a humildade começa quando reconhecemos que não sabemos. Que estamos em construção. Que somos, todos, aprendizes, mesmo os que ensinam. O professor Marco Antônio Martins Pereira, ao compartilhar essa imagem, nos convida a esse mergulho. Não é apenas uma ilustração clássica. É um espelho. O jovem pensativo somos nós. O busto do velho é o que aspiramos ser. E a frase é o caminho entre um e outro.
Há beleza na ignorância reconhecida. Porque ela abre espaço para o aprendizado. O arrogante não aprende, ele já se considera sábio. O humilde, por outro lado, transforma cada tropeço em lição. Cada silêncio em escuta. Cada dor em compreensão.
Sêneca sabia disso. Em suas cartas a Lucílio, ele não se colocava como mestre absoluto, mas como alguém que também buscava. Que também errava. Que também sofria. E é justamente essa vulnerabilidade que o torna sábio. Porque a sabedoria não é saber tudo. É saber que não se sabe.
A imagem publicada pelo professor é mais que uma homenagem à filosofia. É um manifesto contra a pressa. Contra a superficialidade. Contra a ilusão de que basta nascer para entender. Não basta. É preciso viver. E viver intensamente, com olhos abertos e coração disposto.
O jovem da imagem talvez esteja diante de seu primeiro dilema. Talvez tenha perdido alguém. Talvez tenha sido traído. Talvez esteja apenas tentando entender por que o mundo é tão complexo. E o busto do velho não responde. Porque a sabedoria não dá respostas prontas. Ela ensina a fazer as perguntas certas.
“Ninguém nasce sábio” é também um chamado à paciência. Com os outros e consigo mesmo. É entender que o colega que erra não é burro, está aprendendo. Que o filho que desafia não é rebelde, está buscando seu lugar. Que o idoso que repete histórias não é cansativo, está tentando deixar um legado.
A sabedoria é feita de escuta. De tempo. De silêncio. De leitura. De convivência. De dor. De amor. De perdas. De reencontros. É feita de tudo aquilo que não cabe num tutorial de cinco minutos. E por isso é tão rara. E por isso é tão valiosa.
Ao contemplar a imagem, somos convidados a desacelerar. A aceitar que o saber vem aos poucos. Que cada dia é uma aula. Que cada pessoa é um livro. Que cada erro é uma oportunidade. E que, no fim, talvez nunca sejamos completamente sábios. Mas podemos ser, sempre, melhores do que ontem.
Sêneca nos estende a mão através dos séculos. E nos diz, com voz firme e serena: “Você não nasceu sábio. Mas pode se tornar.” Basta querer. Basta buscar. Basta viver.
@ Alberto Araújo
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