sexta-feira, 24 de outubro de 2025

EU TENHO ASAS - POEMA DE ALBERTO ARAÚJO

 

Não tem quem tire as minhas asas.

Elas nasceram comigo,

cresceram com o tempo,

e aprenderam a cortar o vento.

 

Gosto de voar alto.

Não por vaidade,

mas porque lá de cima

o mundo se revela inteiro,

sem cercas, sem muros, sem limites.

 

Gosto do céu,

do azul que não se acaba,

do sol que arde e acaricia,

da chuva que canta no telhado,

dos pássaros que me acompanham

como se soubessem

que somos da mesma matéria.

 

Sou livre.

Não por escolha,

mas por natureza.

A liberdade me habita

como o vento habita as dunas,

como o rio que não aceita prisão.

 

Carrego no peito a alma nordestina.

Feita de barro, de suor,

de riso fácil e resistência antiga.

Sou o som da sanfona

numa noite de festa,

sou o silêncio do sertão

quando a lua se deita.

 

Não me cabem gaiolas,

nem promessas de chão firme.

Prefiro o risco do voo à segurança do ninho.

Prefiro o horizonte à parede.

Sou feito de estrada, de poeira,

de lembranças que dançam com o vento.

E mesmo quando pouso,

meu espírito continua no ar.

 

Porque viver, para mim,

é não esquecer que tenho asas.

E que o céu, com sol ou com chuva,

é sempre o meu lugar.

 

© Alberto Araújo





 

Nenhum comentário:

Postar um comentário