sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

CANTO DE AMOR - CASIMIRO DE ABREU – RIO DE JANEIRO 1858

 



POESIA CANTO DE AMOR - CASIMIRO DE ABREU – RIO DE JANEIRO 1858. POESIA DECLAMADA PELO PERSONAGEM PROF. EDMUNDO, VIVIDO PELO ATOR ANGELO ANTÔNIO NA NOVELA "O CRAVO E A ROSA" DE WALCIR CARRASCO E MÁRIO TEIXEIRA, REDE GLOBO, 2000.



CANTO DE AMOR - CASIMIRO DE ABREU



I

Eu vi-a e minha alma antes de vê-la

Sonhara-a linda como agora a vi;

Nos puros olhos e na face bela,

Dos meus sonhos a virgem conheci.

Era a mesma expressão, o mesmo rosto,

Os mesmos olhos só nadando em luz,

E uns doces longes, como dum desgosto.

Toldando a fronte que de amor seduz!

E seu talhe era o mesmo, esbelto, airoso

Como a palmeira que se ergue ao ar,

Como a tulipa ao pôr-do-sol saudoso,

Mole vergando à viração do mar.

Era a mesma visão que eu dantes via,

Quando a minha alma transbordava em fé;

E nesta eu creio como na outra eu cria,

Porque é a mesma visão, bem sei que é!

No silêncio da noite a virgem vinha

Soltas as tranças junto a mim dormir;

E era bela, meu Deus, assim sozinha

No seu sono d'infante inda a sorrir!...

II

Vi-a e não vi-a! Foi num só segundo,

Tal como a brisa ao perpassar na flor,

Mas nesse instante resumi um mundo

De sonhos de ouro e de encantado amor.

O seu olhar não me cobriu d'afago,

E minha imagem nem sequer guardou,

Qual se reflete sobre a flor dum lago

A branca nuvem que no céu passou.

A sua vista espairecendo vaga,

Quase indolente, não me viu, ai, não!

Mas eu que sinto tão profunda a chaga

Ainda a vejo como a vi então.

Que rosto d'anjo, qual estátua antiga

No altar erguida, já cabido o véu!

Que olhar de fogo, que a paixão instiga?

Que níveo colo prometendo um céu.

Vi-a e amei-a, que a minha alma ardente

Em longos sonhos a sonhara assim;

O ideal sublime, que eu criei na mente,

Que em vão buscava e que encontrei por fim!

III

P'ra ti, formosa, o meu sonhar de louco

E o dom fatal, que desde o berço é meu;

Mas se os cantos da lira achares pouco,

Pede-me a vida, porque tudo é teu.

Se queres culto - como um crente adoro,

Se preito queres - eu te caio aos pés,

Se rires - rio, se chorares - choro,

E bebo o pranto que banhar-te a tez.

Dá-me em teus lábios um sorrir fagueiro,

E desses olhos um volver, um só;

E verás que meu estro, hoje rasteiro,

Cantando amores s'erguerá do pó!

Vem reclinar-te, como a flor pendida,

Sobre este peito cuja voz calei:

Pede-me um beijo... e tu terás, querida,

Toda a paixão que para ti guardei.

Do morto peito vem turbar a calma,

Virgem, terás o que ninguém te dá;

Em delírios d'amor dou-te a minha alma,

Na terra, a vida, a eternidade - lá!

IV

Se tu, oh linda, em chama igual te abrasas,

Oh! não me tardes, não me tardes, - vem!

Da fantasia nas douradas asas

Nós viveremos noutro mundo - além!

De belos sonhos nosso amor povôo,

Vida bebendo nos olhares teus;

E como a garça que levanta o vôo,

Minha alma em hinos falará com Deus!

Juntas, unidas num estreito abraço,

As nossas almas uma só serão;

E a fronte enferma sobre o teu regaço

Criará poemas d'imortal paixão!

Oh! vem, formosa, meu amor é santo,

É grande e belo como é grande o mar,

E doce e triste como d'harpa um canto

Na corda extrema que já vai quebrar!

Oh! vem depressa, minha vida foge...

Sou como o lírio que já murcho cai!

Ampara o lírio que inda é tempo hoje!

Orvalha o lírio que morrendo vai!...

Rio - 1858.

SOBRE CASIMIRO DE ABREU 

Casimiro José Marques de Abreu, nasceu na Barra de São João, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 4 de janeiro de 1839. Com apenas 13 anos, enviado pelo pai, vai para a cidade do Rio de Janeiro, trabalhar no comércio.

Em novembro de 1853 viaja para Portugal, com o intuito de completar a prática comercial e nesse período inicia sua carreira literária. No dia 18 de janeiro de 1856 sua peça Camões e o Jaú é encenada em Lisboa.

Casimiro de Abreu volta ao Brasil em julho de 1857 e continua trabalhando no comércio. Conhece vários intelectuais e faz amizade com Machado de Assis, ambos com 18 anos de idade. Em 1859 publica seu único livro de poemas “As Primaveras”.

No início de 1860, Casimiro de Abreu fica noivo de Joaquina Alvarenga Silva Peixoto. Com vida boêmia, contrai tuberculose.

Vai para Nova Friburgo tentar a cura da doença, mas no dia 18 de outubro de 1860, não resiste e morre, aos 21 anos de idade.

Principais Obras

Casimiro morreu muito jovem e, portanto, publicou somente uma obra de poesias intitulada As Primaveras (1859). De seus poemas destacam-se:

Meus oito anos

Saudades

Minh'alma é triste

Amor e Medo

Desejo

Dores

Berço e Túmulo

Infância

A Valsa

Perdão

Poesia e Amor

Segredos

Última Folha



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SOBRE ATOR ANGELO ANTONIO

Ângelo Antônio Carneiro Lopes nasceu em Curvelo, 4 de junho de 1964 é um ator brasileiro. Sua carreira teve início em 1986 no teatro, com a peça Aurora da Minha Vida. Na televisão, seu primeiro trabalho foi na telenovela Pantanal em 1990, trabalho pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Revelação Masculina da Associação Paulista dos Críticos de Arte.

Seus personagens mais famosos são: Guilherme "Beija Flor" em O Dono do Mundo, Adelmo em Suave Veneno, Professor Edmundo em O Cravo e a Rosa, e Dr. Eduardo em Alma Gêmea.[2] No cinema, viveu o personagem título em Chico Xavier, e Francisco em 2 Filhos de Francisco, trabalho que lhe rendeu os prêmios de Melhor Ator da Academia Brasileira de Cinema e da Associação Paulista dos Críticos de Arte.


SOBRE A NOVELA "O CRAVO E A ROSA"


O Cravo e a Rosa é uma telenovela brasileira produzida pela TV Globo e exibida no horário das 18 horas de 26 de junho de 2000 a 9 de março de 2001, em 221 capítulos, substituindo Esplendor e sendo substituída por Estrela-Guia. Foi a 57ª "novela das seis" exibida pela emissora.

Escrita por Walcyr Carrasco e Mário Teixeira, com colaboração de Duca Rachid, teve direção de Amora Mautner, Ivan Zettel e Vicente Barcellos. A direção geral foi de Walter Avancini e Mário Márcio Bandarra, com direção de núcleo de Dennis Carvalho. É uma livre adaptação da obra A Megera Domada, de William Shakespeare e um remake de O Machão, telenovela de Ivani Ribeiro exibida nos anos 70 pela Rede Tupi.

Contou com as participações de Adriana Esteves, Eduardo Moscovis, Leandra Leal, Luís Melo, Suely Franco, Luiz Antônio, Júlio Levy e Vanessa Gerbelli.



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