sexta-feira, 3 de outubro de 2025

GILDA UZEDA - A CHAMA QUE ILUMINA A PALAVRA E A VIDA - HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL @ ALBERTO ARAÚJO

No dia 02 de outubro, o calendário se curva em reverência: não é apenas mais uma data, mas o marco de um nascimento que trouxe ao mundo uma alma rara, feita de poesia, sabedoria e ternura. Gilda Pinheiro Guedes de Uzeda — escritora, artista plástica, geógrafa, professora, confreira, amiga — é dessas presenças que não se limitam a existir; elas transbordam, espalham-se em ondas de delicadeza e vigor, deixando rastros luminosos por onde passam.

Em nosso grupo de Whatsapp, os Foculistas, sua presença é como um feixe de fulgor expressivo, emanando uma fonte luminosa constante. Cada postagem cultural que fazemos encontra nela não apenas um olhar atento, mas um coração que responde. Gilda não se contenta com o silêncio: oferece sempre um doce “recadinho”, um gesto de carinho que aquece, e logo depois um comentário vasto, profundo, que revela sua capacidade de mergulhar no tema e devolvê-lo enriquecido, como quem transforma pedra em cristal. Sua palavra é sempre mais que resposta: é diálogo, é partilha, é gesto de amor.

E como não agradecer? Como não reconhecer que, sem sua voz, nosso espaço seria menos vivo, menos afetuoso? Gilda é a prova de que a cultura não se faz apenas de obras, mas de encontros; não apenas de livros, mas de almas que se reconhecem e se celebram mutuamente.

Sua trajetória é um testemunho de dedicação à vida e à arte. Professora aposentada do Instituto de Geociências da UFF, soube unir ciência e sensibilidade, razão e intuição. Como escritora, já nos presenteou com dezenove livros, cada um deles um convite à reflexão, à contemplação da natureza, à busca pelo sentido da existência. Obras como Mundo de Dentro, Rastros e Palavras, O vento sopra onde quer ou Seiva da Terra são mais que títulos: são portais para universos onde a simplicidade se revela grandiosa e onde a beleza se encontra nos detalhes mais sutis.

Mas talvez um dos momentos mais marcantes de sua caminhada recente tenha sido o lançamento de Carta a Vincent – A Alma e a Humanidade de um Artista. Tive a honra e o orgulho de produzir esse evento na Fundação Cultural Avatar, em Niterói, e testemunhar como sua escrita dialoga com a eternidade. Nesse livro, Gilda escreve a Van Gogh como se fosse possível atravessar o tempo e tocar-lhe a alma. Não fala apenas do pintor, mas do homem, do ser humano ferido e luminoso, da espiritualidade que pulsa em cada pincelada. É uma carta imaginária, mas tão real em emoção que parece escrita com a própria tinta do coração.

E não é apenas a literatura que a define. Como artista plástica, Gilda ilustra seus próprios livros com desenhos simples e expressivos, como se cada traço fosse extensão de sua respiração. Como acadêmica, ocupa com brilho a Cadeira 05 da Academia Niteroiense de Letras, honrando o patrono Euclides da Cunha e reafirmando a importância da palavra como instrumento de transformação.

Mas, acima de tudo, Gilda é presença. Presença que inspira, que acolhe, que engrandece. Sua escrita é marcada pela poesia, mas sua vida também o é. Há nela uma coerência rara: aquilo que escreve é aquilo que vive. E talvez seja por isso que sua participação em nosso grupo seja tão especial: porque não se trata apenas de comentários, mas de gestos de quem vive a cultura como respiração, como necessidade vital.

Os acrósticos que lhe dediquei em outra ocasião foram apenas tentativas de traduzir em versos o que sinto: amizade, respeito, admiração. Mas sei que nenhuma palavra será suficiente para abarcar a grandeza de sua alma. Ainda assim, insisto, porque a poesia é também um ato de gratidão.

Gilda Uzeda é raiz e é vento. É seiva e é chama. É aquela que nos lembra que a literatura não é apenas um exercício estético, mas um modo de estar no mundo com mais humanidade. É aquela que, ao celebrar Van Gogh, celebra também cada um de nós, pois nos convida a olhar para dentro e descobrir a beleza que resiste mesmo nas dores mais profundas.

Neste aniversário, ergo minha voz em homenagem. Que este texto seja como um abraço tecido em palavras, um canto de reconhecimento e afeto. Que ele diga, ainda que imperfeitamente, o quanto sua presença nos engrandece, o quanto sua obra nos inspira, o quanto sua amizade nos honra.

Gilda, obrigada por ser quem é: escritora, artista, confreira, amiga, mestra. Obrigada por cada recado doce, por cada comentário generoso, por cada gesto de partilha. Obrigada por nos lembrar, todos os dias, que a cultura é um ato de amor.

E que os anos que virão sejam férteis em novas obras, novas descobertas, novas alegrias. Que sua vida continue sendo esse poema vivo, essa tela em constante criação, essa carta aberta ao mundo.

Porque, no fundo, Gilda Uzeda não é apenas uma pessoa: é uma celebração.



SONETO PARA GILDA UZEDA


No lume brando a tua voz se acende,

E em cada gesto a poesia floresce;

Doce presença que jamais fenece,

Luz que consola e que jamais se rende.


Na arte o sopro da tua alma entende

O que em silêncio a natureza tece;

E o coração, que em ternura enriquece,

Faz-se canção que o tempo não suspende.


Mestra da vida, em letras te revelas,

E em cada traço a eternidade brilha,

 Como Van Gogh pintando as próprias telas.


Gilda, és raiz, és fonte que cintila,

És chama pura a iluminar estrelas,

És voz que o mundo em gratidão perfilha.

© Alberto Araújo




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