Lourdes
Castro, artista plástica madeirense, conhecida no panorama nacional como uma
personalidade admirável na arte portuguesa contemporânea. A artista madeirense
foi galardoada com a Medalha de Mérito da Cultura em 2020 pelo "contributo
incontestável" para a cultura portuguesa. Nascida em 1930 no Funchal, ilha
da Madeira, Lourdes Castro estudou pintura na Escola Superior de Belas Artes,
em Lisboa, e viveu na Alemanha e em França, onde foi uma das fundadoras da
revista "KWY", um título composto por três letras que não existiam,
na época, no alfabeto português.
A
artista faleceu em 08 de janeiro de 2022, aos 91 anos, no Hospital Dr. Nélio
Mendonça, no Funchal, onde se encontrava internada. Funchal – Portugal é a sua
cidade natal. Disse a agência Lusa fonte próxima da família. Ao público não foi
divulgado a “causa mortis”.
UM
POUCO SOBRE LOURDES CASTRO
Maria
de Lourdes Bettencourt de Castro nasceu em Funchal, no dia 9 de dezembro de
1930 e faleceu em Funchal, 8 de janeiro de 2022 foi uma premiada artista
plástica portuguesa.
Nascida
no Funchal, na Ilha da Madeira, a sua avó, Laura Estela Magna, foi a primeira
aluna do Liceu do Funchal. Lourdes estudou na Escola Alemã do Funchal até esta
ter encerrado devido à II Guerra Mundial. Após o liceu ficou na Madeira três
anos a trabalhar num jardim de infância.
Frequenta
o curso de Pintura (Curso Superior de Belas Artes) da Escola Superior de Belas
Artes de Lisboa, curso que não viria a terminar por via da sua
"expulsão" em 1956, "pela não conformidade com o cânone
acadêmico que dominava o sistema de ensino de então".
Expõe
individualmente pela primeira vez em 1955, no Clube Funchalense, Funchal,
participando também em algumas exposições coletivas em Lisboa.
Parte
para Munique em 1957 e, pouco depois, instala-se em Paris com o marido, René
Bertholo. No ano seguinte funda, juntamente com René Bertholo, Costa Pinheiro,
João Vieira, José Escada, Gonçalo Duarte, Jan Voss e Christo, o grupo KWY,
participando nas diversas iniciativas do grupo. Em 1960 integra a mostra do KWY
na SNBA, exposição que, segundo Rui Mário Gonçalves, marca o início da década
de 1960 no panorama artístico português. Em 1972 e 1979 foi artista residente
na DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst), em Berlim. Depois de residir
25 anos em Paris, em 1983 regressou ao Funchal.
Últimas
grandes exposições individuais de Lourdes Castro: Sombras à volta de um Centro,
Fundação Serralves, Porto, 2003; O Grande Herbário de Sombras, Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002. Em 2000, representou Portugal na XVIII
Bienal de S. Paulo, juntamente com Francisco Tropa.
OBRA
A
sua obra dos primeiros anos parisienses caracteriza-se por uma forma de
abstração "de raiz informalista". Esse registro "alterou-se
completamente a partir de 1961. Nessa data abandonou, aliás, os suportes
tradicionais da pintura. Sensível à coeva afirmação do Nouveau realismo,
apostou, num primeiro momento, na criação de objetos construídos, a partir da Assemblage:
a arte de reunir objetos diversos para contar histórias de bens de consumo de
uso corrente", que aglomera em caixas, cobrindo-os depois com "uma
camada uniforme de cor (prateados, dourados, azuis…) como se pudessem ser
esculturas de matéria nobre e de uma só peça"; em cada trabalho ela
"confronta o empobrecimento da forma e dos valores das coisas na sociedade
contemporânea com a hipótese de uma alternativa poética. São estas obras
tridimensionais que preparam a desmaterialização concretizada nas suas sombras
projetadas".
O
conceito de sombra irá tornar-se central em praticamente toda a sua produção
posterior; "sombras recortadas ou projetadas, teatros de sombras, sombras
bordadas sobre lençóis fugazes, vários foram os modos e registros de que a
artista se socorreu para relacionar essa percepção do imaterial com a
necessária materialidade do espaço plástico".
Partindo
de experiências ao nível da impressão serigráfica, começa a fixar silhuetas de
amigos projetadas em tela. A partir de 1964 utiliza o plexiglas recortado,
transparente ou colorido, em placas sobrepostas, de modo a dotar as sombras
evocadas de sombras próprias, como acontece, por exemplo, em Sombra Projectada
de René Bertholo, 1965.
Em
1965 realiza um filme experimental com sombras e a partir do ano seguinte as
silhuetas em movimento tornam-se cerne dos seus projetos de encenação, mais
propriamente no teatro de sombras. Estas ações, inspiradas na tradição chinesa
e nos happenings, tornaram-se mais frequentes após uma estada em Berlim, entre 1972
e 1973. A colaboração de Manuel Zimbro efetivou-se nos anos imediatos, sendo os
espetáculos As cinco Estações (1976) e Linha do Horizonte (1981) concebido a
duas mãos.
Entre
1956 até ao presente a artista desenvolve como forma de expressão e de exploração
diversos livros de artista, Lourdes Castro. Todos os livros foram apresentados
na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian em 2015.
Depois
de ter tirado as sombras da sombra, de lhes ter dado cor e transparência, uma
vida independente, a artista inscreve-as em lençóis, através de bordado manual:
A surpresa do desenho de gente deitada, sombras projetadas na horizontal e não
na vertical, tornou-se cada vez mais importante; os contornos de silhuetas presentificam
corpos ausentes registrados, afinal, como memória. A investigação de Lourdes
Castro sobre a sombra sempre se cruzou, de resto, com a reflexão sobre o tempo
e a memória. Veja-se o seu Álbum de Família aonde vem compilando imagens,
pensamentos, excertos, relativos à sombra, a acumulação de pétalas de gerânio
da sua Montanha de Flores, iniciada em 1988, ou ainda a Peça, que concebeu com
Francisco Tropa para a Bienal de S. Paulo de 2000, onde um imenso pano branco
"pousava sobre uma longa mesa fortemente iluminada de modo a sublinhar os
vincos das dobras dessa cobertura".
FOI
GALARDOADA COM OS SEGUINTES PRÊMIOS:
Medalha
do Concelho Regional Salon de Montrouge, Paris, 1995. Grande Prêmio EDP
)Lisboa, 2000
Prêmio
CELPA/Vieira da Silva - Artes Plásticas Consagração, 2004;
Prêmio
Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes em 2015, atribuído pela Igreja Católica.
Distinguida
com o Prêmio Artes Visuais em 2010 pela Associação Internacional de Críticos de
Arte
Em
9 de dezembro de 2020, no dia do seu nonagésimo aniversário, foi anunciada a
sua condecoração com a Medalha de Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura
português. A cerimônia de entrega pelas mãos da ministra da cultura Graça
Fonseca aconteceu a 26 de abril de 2021.
Em
8 de junho de 2021, foi agraciada com o grau de Comendador da Ordem Militar de
Sant'Iago da Espada.
É representada em várias coleções: públicas e privadas, entre as quais: Victoria e Albert Museum (Londres); Museu de Arte Moderna (Havana); Museu de Arte Contemporânea (Belgrado); Museu Nacional de Varsóvia, Museu Nacional de Breslávia (Vroclaw) e Lódz; Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa); Fundação de Serralves (Porto).
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