PRECE: SENHOR, QUE ÉS O CÉU E A
TERRA... | POEMA DE FERNANDO PESSOA COM NARRAÇÃO DE MUNDO DOS POEMAS.
SENHOR, que és o céu e a terra,
que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu. Tu és os
nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu
habitas e onde tudo está – (o teu templo)
– eis o teu corpo.
Dá-me alma para te servir e alma
para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te
ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.
Torna-me puro como a água e alto
como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas
mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros
como irmãos e servir-te como a um pai.
Minha vida seja digna da tua
presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante
de ti como um filho que volta ao lar.
Torna-me grande como o Sol, para
que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa
rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em
mim e rezar-te e adorar-te.
Senhor, protege-me e ampara-me.
Dá-me que eu me sinta teu. Senhor, livra-me de mim.
PRECE – no livro O EU PROFUNDO – Obras em Prosa – em um volume – Editora Nova Aguilar, 2da Edição – 1976, página 33.
PALAVRAS DO MUNDO DO POEMA
Poema do autor português,
Fernando António Nogueira Pessoa| FERNANDO PESSOA poeta, filósofo, dramaturgo,
ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário,
correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português.
Um dos maiores gênios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos
escritores portugueses mundialmente, conhecidos. A sua poesia acabou por ser
decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se
nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto
à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também
no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta
universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão
simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de
olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia
racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação
plausível para ter criado os célebres heterônimos - Alberto Caeiro, Álvaro de
Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterônimo Bernardo
Soares.
Link Do Vídeo: https://youtu.be/Sw3nyCRJ9G4
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COMENTÁRIO DE ALBERTO ARAÚJO
A pureza da alma, de um ser
admirável da poesia universal, leva-nos a conceber que esta primorosa obra
Prece sintetiza os embasamentos leais de muitas religiões, sem, ninguém se
prender a nenhuma religião. Uma colocação: Medida que oferece a criar entre os
seres humanos, a união, a paz, a tolerância e o amor… Já conhecia esse lindo
poema, mas sempre me emociono ao revê-lo. Gostaria apenas de acrescentar aos
comentários uma pequena informação: Pessoa se dizia ateu. Mas antes de tudo um
magnífico Poeta capaz de observar com extrema habilidade suas próprias
fraquezas e nos devolver essa preciosidade de quem pode ver a vida bela como
sempre foi. Apesar de tudo que passamos. Sim, aqui Pessoa se percebe filho de
Deus. Consegue pelos caminhos do sentimento se aproximar de Deus. O segredo do
reconhecimento universal de sua hábil arte poética, certamente, chegou depois
que ele se rendeu aos ensinamentos de Cristo. Antes tinha dúvidas, hoje, tenho
a certeza. ALBERTO ARAÚJO.
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