terça-feira, 11 de janeiro de 2022

REYNALDO VALINHO ALVAREZ NA CIRANDA DOS AFETOS DA UBE-RJ

 


Ainda me sinto emocionada, ao relembrar os amistosos momentos do dia 6 de janeiro de 2022 quando, na companhia de dois exponenciais poetas da cena nacional – Reynaldo Valinho Alvarez (in memoriam) e Tanussi Cardoso, – fui também agraciada com o Troféu Rio 2021.

 

Meu pensamento agradecido até agora me leva à live, realizada aos premiados pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro UBE-RJ, tendo na presidência a professora-escritora Eurídice Hespanhol. Dotada de liderança e sensibilidade, ela fez circular entre os presentes – embora cada um em sua casa –, a grande Ciranda dos Afetos.

 

Equilibrou harmonicamente, com ternura e segurança, dois momentos antitéticos em que a Morte e a Vida se abraçaram em harmônica confluência: a escrita de Tanussi e a minha conjugadas à dolorosa ausência de Reynaldo Valinho Alvarez, representado pela filha Denise.

 

Iluminando mais ainda a Ciranda dos Afetos, criada por Eurídice Hespanhol, o escritor Edir Meireles cintilou a palavra no húmus da amizade, expandindo-a aos presentes. O cineasta Silvio Tendler rememorou sua intensa ligação com Reynaldo e a importância de Maria José, a esposa intensamente amada pelo Poeta, não só na vida do amigo, como na dele, Silvio. A ela, ele deve o seu despertar para a arte cinematográfica.

 

A saudade de Reynaldo bateu mais forte em mim, quando a rica fala da escritora Maria Amélia Palladino transmutou em palavras o agudo sentimento coletivo das lembranças do amigo. Arqueóloga das letras, ela foi retirando as camadas palimpsésticas da vida e obra do autor. E tudo tão presente na presença dos presentes na grande roda do afeto a girar.

 

Chaja Finkelsztain, gentilmente leu meu currículo. A escritora vice-presidente no Brasil da ALAS – Académie des Lettres et Arst Luso-Suisse, Ana Maria Tourinho, traçou meu perfil muito além do que verdadeiramente, sou. Grande Cirandeira do Amor, Ana Maria cada vez mais brilha no mundo artístico.

 

Com “a poética caneta do tempo” estreou com os versos de “Pérolas & Pimentas, entremeando agora sua imaginação poética à literatura infantil com os excelentes “Aninha, a menina que vendia alfaces” e “Cadê Fady? Tô aqui”.

 

Agora chegou minha vez de entrar na Ciranda. Devido à pequena dificuldade na fala, assumiu minha palavra o editor, Mauro Carreiro Nolasco, ao pronunciar solenemente meu texto. Eis seu início:

 

Há mais de dois mil anos, no dia 6 de janeiro, três emissários do reino de Deus, carregados de presentes, realizaram longa jornada para alcançar grande graça. Hoje, também em 6 de janeiro, humildemente, três emissários do reino da nossa Literatura, por caminhos diferentes, depositaram seus presentes literários na União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro e alcançaram a grande graça do Troféu Rio de Janeiro.

Cumprimento o companheiro de premiação Tanussi Cardoso, autor de tantos significativos versos, inclusive do poema “Grão”, aqui reproduzido:

O que de mim se esvai

é o que fica

Sou a permanência

Dos dias em que escrevo

Diariamente construo

Não a minha vida

Mas o que dela existir

Enquanto morto,

Ressurgiu na voz do Mauro a minha voz, ao celebrar o amigo Reynaldo Valinho Alvarez, o poeta da diáspora, o poeta da saudade metafísica, o poeta da sensação do ilhamento existencial, o Poeta do anseio da paz quase impossível, conforme normalmente eu o qualificava em meus ensaios, pois estes são os temas que lhe atravessam a obra.

 

E nela, Reynaldo, você sempre escreveu o que sentia, molhando a pena na alma. Que pena não estar materialmente nesta tarde memorável.

 

Você partiu de nosso Rio para as Rias Natais, aqueles braços de mar que se vão infiltrando pelas terras da Galícia de seus ancestrais. Partiu, como fazia nas suas constantes viagens, com a amada Maria José, ao berço familiar, porém sempre retornava.

 

Poeticamente ou de verdade, você atravessava o Atlântico e, na romaria do afeto por rias, ilhas, cabos e cidades, chegava à iluminada Compostela. Seu grande campo de estrelas.

 

Lembro-me bem dos seus livros. Sempre lhe dizia que os títulos de suas obras agrupados dariam, ao leitor, a dimensão da sua poesia em busca de algo transcendente, ao encalço do qual seus sonhos iam, como se percebe na construção desta frase por mim elaborada:

 

Você, Reynaldo, PÁSSARO SEM ASAS, nas CIDADES EM GRITO, com O EXÍLIO NA PELE, bem cedo sentiu O SOLITÁRIO GESTO DE VIVER no SOLO E SUBSOLO da vida. Mas tendo por sonho o CANTO EM SI E OUTROS CANTOS e rutilando com O SOL NAS ENTRANHAS, você descobriu a RAZÃO DE NAVEGAR, desbravando O CONTINENTE E A ILHA.

 

Mesmo com o ROTEIRO SOLIDÃO, chegou à grande MEMÓRIA DO ABISMO, tatuada na alma e na carne, como seus versos o atestam, dentre eles “A barca de pedra”, memorando a Galícia dos primórdios.

 

Assim, louvando sua memória nesta tríplice aliança escolhida pela UBE para o Troféu Rio 2021, deixo aqui um fragmento deste poema tão seu:

Sopra o vento em Santa Tecla

Como nunca há de soprar.

Será que há mouros na costa

ou normando a passar?

Serão vikings ou ingleses

querendo desembarcar?

Sopra o vento em Santa Tecla

Como nunca há de soprar.

Será que o Minho se lança

no leito inquieto do mar?

 

Lançando seus versos, Reynaldo, ao grande mar da saudade desta Ciranda de Afetos, criada por Eurídice Hespanhol, assessorada por Marcelo Mourão e sua competente equipe, digo-lhe: Até um dia. Reynaldo amigo. Fique em paz, com a Amada em seu luminoso campo de estrelas da eterna Compostela sonhada.

 

Do Rio às Rias galegas, onde deve estar sua poesia, nós todos da UBE, agremiados por Eurídice, nossa cirandeira-mor, desejamos que você já esteja na Ciranda da Luz Maior,

 

REYNALDO VALINHO ALVAREZ.

Breve, estaremos juntos, cirandando na Grande Paz do Senhor!




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Um comentário:

  1. Muito linda essa escrita retirada da alma lírica de Dalma Nascimento. Aplausos, bravos, bravos! Parabéns grande Alberto e grata pela partilha. Abraço.

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