Ainda me sinto emocionada, ao relembrar os
amistosos momentos do dia 6 de janeiro de 2022 quando, na companhia de dois
exponenciais poetas da cena nacional – Reynaldo Valinho Alvarez (in memoriam) e
Tanussi Cardoso, – fui também agraciada com o Troféu Rio 2021.
Meu pensamento agradecido até agora me leva à live,
realizada aos premiados pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro
UBE-RJ, tendo na presidência a professora-escritora Eurídice Hespanhol. Dotada
de liderança e sensibilidade, ela fez circular entre os presentes – embora cada
um em sua casa –, a grande Ciranda dos Afetos.
Equilibrou harmonicamente, com ternura e segurança,
dois momentos antitéticos em que a Morte e a Vida se abraçaram em harmônica
confluência: a escrita de Tanussi e a minha conjugadas à dolorosa ausência de
Reynaldo Valinho Alvarez, representado pela filha Denise.
Iluminando mais ainda a Ciranda dos Afetos, criada
por Eurídice Hespanhol, o escritor Edir Meireles cintilou a palavra no húmus da
amizade, expandindo-a aos presentes. O cineasta Silvio Tendler rememorou sua
intensa ligação com Reynaldo e a importância de Maria José, a esposa
intensamente amada pelo Poeta, não só na vida do amigo, como na dele, Silvio. A
ela, ele deve o seu despertar para a arte cinematográfica.
A saudade de Reynaldo bateu mais forte em mim,
quando a rica fala da escritora Maria Amélia Palladino transmutou em palavras o
agudo sentimento coletivo das lembranças do amigo. Arqueóloga das letras, ela
foi retirando as camadas palimpsésticas da vida e obra do autor. E tudo tão
presente na presença dos presentes na grande roda do afeto a girar.
Chaja Finkelsztain, gentilmente leu meu currículo.
A escritora vice-presidente no Brasil da ALAS – Académie des Lettres et Arst
Luso-Suisse, Ana Maria Tourinho, traçou meu perfil muito além do que
verdadeiramente, sou. Grande Cirandeira do Amor, Ana Maria cada vez mais brilha
no mundo artístico.
Com “a poética caneta do tempo” estreou com os
versos de “Pérolas & Pimentas, entremeando agora sua imaginação poética à
literatura infantil com os excelentes “Aninha, a menina que vendia alfaces” e
“Cadê Fady? Tô aqui”.
Agora chegou minha vez de entrar na Ciranda. Devido
à pequena dificuldade na fala, assumiu minha palavra o editor, Mauro Carreiro
Nolasco, ao pronunciar solenemente meu texto. Eis seu início:
Há mais de dois mil anos, no dia 6 de janeiro, três
emissários do reino de Deus, carregados de presentes, realizaram longa jornada
para alcançar grande graça. Hoje, também em 6 de janeiro, humildemente, três
emissários do reino da nossa Literatura, por caminhos diferentes, depositaram
seus presentes literários na União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro e
alcançaram a grande graça do Troféu Rio de Janeiro.
Cumprimento o companheiro de premiação Tanussi
Cardoso, autor de tantos significativos versos, inclusive do poema “Grão”, aqui
reproduzido:
O que de mim se esvai
é o que fica
Sou a permanência
Dos dias em que escrevo
Diariamente construo
Não a minha vida
Mas o que dela existir
Enquanto morto,
Ressurgiu na voz do Mauro a minha voz, ao celebrar
o amigo Reynaldo Valinho Alvarez, o poeta da diáspora, o poeta da saudade
metafísica, o poeta da sensação do ilhamento existencial, o Poeta do anseio da
paz quase impossível, conforme normalmente eu o qualificava em meus ensaios, pois
estes são os temas que lhe atravessam a obra.
E nela, Reynaldo, você sempre escreveu o que
sentia, molhando a pena na alma. Que pena não estar materialmente nesta tarde
memorável.
Você partiu de nosso Rio para as Rias Natais,
aqueles braços de mar que se vão infiltrando pelas terras da Galícia de seus
ancestrais. Partiu, como fazia nas suas constantes viagens, com a amada Maria
José, ao berço familiar, porém sempre retornava.
Poeticamente ou de verdade, você atravessava o
Atlântico e, na romaria do afeto por rias, ilhas, cabos e cidades, chegava à
iluminada Compostela. Seu grande campo de estrelas.
Lembro-me bem dos seus livros. Sempre lhe dizia que
os títulos de suas obras agrupados dariam, ao leitor, a dimensão da sua poesia
em busca de algo transcendente, ao encalço do qual seus sonhos iam, como se
percebe na construção desta frase por mim elaborada:
Você, Reynaldo, PÁSSARO SEM ASAS, nas CIDADES EM
GRITO, com O EXÍLIO NA PELE, bem cedo sentiu O SOLITÁRIO GESTO DE VIVER no SOLO
E SUBSOLO da vida. Mas tendo por sonho o CANTO EM SI E OUTROS CANTOS e
rutilando com O SOL NAS ENTRANHAS, você descobriu a RAZÃO DE NAVEGAR,
desbravando O CONTINENTE E A ILHA.
Mesmo com o ROTEIRO SOLIDÃO, chegou à grande
MEMÓRIA DO ABISMO, tatuada na alma e na carne, como seus versos o atestam,
dentre eles “A barca de pedra”, memorando a Galícia dos primórdios.
Assim, louvando sua memória nesta tríplice aliança
escolhida pela UBE para o Troféu Rio 2021, deixo aqui um fragmento deste poema
tão seu:
Sopra o vento em Santa Tecla
Como nunca há de soprar.
Será que há mouros na costa
ou normando a passar?
Serão vikings ou ingleses
querendo desembarcar?
Sopra o vento em Santa Tecla
Como nunca há de soprar.
Será que o Minho se lança
no leito inquieto do mar?
Lançando seus versos, Reynaldo, ao grande mar da
saudade desta Ciranda de Afetos, criada por Eurídice Hespanhol, assessorada por
Marcelo Mourão e sua competente equipe, digo-lhe: Até um dia. Reynaldo amigo.
Fique em paz, com a Amada em seu luminoso campo de estrelas da eterna
Compostela sonhada.
Do Rio às Rias galegas, onde deve estar sua poesia,
nós todos da UBE, agremiados por Eurídice, nossa cirandeira-mor, desejamos que
você já esteja na Ciranda da Luz Maior,
REYNALDO VALINHO ALVAREZ.
Breve, estaremos juntos, cirandando na Grande Paz do Senhor!
Muito linda essa escrita retirada da alma lírica de Dalma Nascimento. Aplausos, bravos, bravos! Parabéns grande Alberto e grata pela partilha. Abraço.
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