Para você que ainda não sabe, existe,
bem no coração da citadina Niterói, um território de maravilhamentos: a CASA DO
MORRO. Impregnada de mistérios, sortilégios e mágicas fantasias, lá fizeram
morada duendes, gnomos e bruxinhas. Com poções mágicas, vassouras voadoras e encantamentos,
essas entidades aéreas do maravilhoso circulam pelo florido jardim do majestoso
solar de três andares, onde reina, fulgurante com a tiara dos dons, a
Imperatriz Lia 1ª e única, a fada Mãe da CASA DO MORRO.
Anteontem, véspera do Hallooween, sua
Majestade enviou-me um belo cartão timbrado e desenhado por ela, grande pintora
que é. Convidava para comparecer à sua misteriosa mansão e partilhar do
Festival das Bruxas. Mas das bruxas boazinhas, daquelas que fadam o “fatum”, o
destino da gente. Isso porque “onde tem bruxa tem fada”, já ensinara Bartolomeu
Campos de Queirós em premiado livro infantil.
Junto ao emblema do convite, o anúncio
do “menu” faiscava em letra “bordailuminada": “Vai ter licorzinho de
amoras, biscoito de girassol e pudim de desejos! Vai rolar a festa! Está
marcada pra meia-noite! Venha, Dalminha!”. Como é costumeiro, a Rainha Lia 1ª
sempre me chama pelo diminutivo fraterno. Afinal, somos da mesma confraria do
maravilhoso.
Cristina, minha secretária feiticeira,
especialista-mor em poções, mais do que depressa pegou o miraculoso manual de
receitas. E, por encanto, seu caldeirão de maravilhas já borbulhava no fogão.
Não ficaria distinto – ela dizia mexendo ingredientes – que eu, ilustre
convidada, fosse de mãos vazias.
Na verdade, a mensagem da soberana do
nobre solar viera mesmo a calhar. Já andava saudosa dos meus tempos de mágicos
encantamentos. Não mais corria atrás de Macunaíma, vendo-o fazer coisas de
“sarapantar”. Nem conversava com rei Artur; acompanhando os cavaleiros da Távola
em busca do Graal. Esquecera-me dos
mistérios de Morgana, de Lorelay, a decantada sereia do Reno, da Mélusina do
Poitou francês. Tampouco participara mais, mesmo em noite de lua cheia, da
noite de Santa Valburga, do livro de Goethe, quando Mefistófeles leva Fausto
àquela festa de bruxas e demônios para fazê-lo esquecer a amada Margarida. E
também não mais falava de minha visita à mágica Floresta de Brocéliande, na
Bretanha francesa, acompanhada de minha amiga Laurence.
Entretanto, a mensagem da Rainha Lia
1ª me encheu de saudades. Enquanto a poção de Cristina tomava cor,
reminiscências me inundaram a mente e o coração. Senti-me, de novo, em Brocéliande, cenário de
míticas legendas. Revi os nemetons célticos, antiquíssimos santuários das cerimônias
druídicas, nos quais os arcaicos celebrantes de remotas seitas realizavam
práticas pagãs. Vaguei pelo Val Sans Retour, o vale sem retorno que, segundo a
tradição, Morgana, a fada meio-irmão do Rei Arthur da redonda Távola,
aprisionava seus amantes infiéis. Passeei por Le Miroir aux Fées, o Espelho das
Fadas, lago em que, na imaginação popular, aquelas entidades aladas dançavam,
autocontemplando-se no espelho das águas.
Fui ao túmulo de Merlim, o feiticeiro,
e ao Château de Comper. Mais à frente, lá estava, entre dólmens e menires, o
sepulcro circular, em feitio de mandala, da fada Viviana. Visitei
Folles Pensées, local de loucos pensamentos, e também La Fontaine de
Jouvance a fonte da juventude, capaz – segundo afirma a lenda – de apagar as
rugas do rosto e do coração. Bastava apenas nelas se inclinar, pés descalços,
braços nus, à meia-noite, em estado de graça.
Portanto, o convite de sua
majestade, a rainha do imponente
solar, para ir ao Festival da Bruxas
veio a calhar. E,no momento aprazado ao soar
as badaladas da meia-noite, voei até a CASA DO MORRO para o encontro marcado.
Degustei o manjar favorito: “pudim de desejos”, celebrando a Rainha das Fadas.
No dia seguinte, abro o face e Lia 1ª
e única, me cobra: "Dalminha!, pensamos muito em você, fez falta como
nossa orientadora espiritual (eleita ontem!) e colocamos uma taça de champanhe
de rosas em sua homenagem! Salve, Mestra!"
Mas, Soberana Imperatriz da CASA DO
MORRO, ontem honrei o compromisso. Envolta na diáfana nuvem, que circundava a
celebração, eu assisti, inebriada, ao ritual. Estava pertinho da Rainha dona do
Solar encantado – de vossa Majestade, nobre
Senhora. –, mas na pompa de Imperatriz e tão cercada de gnomos, duendes
e bruxinhas, nem me percebeu. Até "beberisque'i a dourada taça cheinha de
champanhe de rosas. Delicioso, por sinal. Agradeço o título e a homenagem que
me foram tributadas de “Mestra dos Sortilégios da Casa do Morro”. Porém, não os
mereço agora. Irei preparar novos feitiços com as receitas de Cristina.
Viu, como eu fui!?
Até mais, Imperatriz da CASA DO
MORRO... Novos compromissos me chamam!
Breve receberei um honroso Troféu... E que troféu! Depois, eu conto,
Fui... Voei...
Quanto enriquecimento cultural ao acompanhar o seu blogue. Parabéns!
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