Entender
o que é soneto exige saber as regras fixas desse tipo de poema quanto ao número
de versos, combinação das rimas e organização das estrofes
Existem
alguns poemas que apresentam regras fixas quanto ao número de versos, à
combinação das rimas e à organização das estrofes. Entre eles, está o soneto,
poema que é encontrado desde muito tempo em diversas literaturas e, claro,
também é encontrado na literatura portuguesa e na literatura brasileira.
Soneto
é uma estrutura literária de forma fixa composta por catorze versos, dos quais
dois são quartetos (conjunto de quatro versos) e dois tercetos (conjunto de
três versos).
Foi
provavelmente criado pelo poeta e humanista italiano Francesco Petrarca
(1304-1374).
A
palavra soneto (do italiano “sonetto”) significa pequeno som ao referir-se à
sonoridade produzida pelos versos.
Tipos
de Soneto
O
soneto petrarquiano ou regular é o mais experimentado. No entanto, Willian
Shakespeare (1564-1616) criou o soneto inglês, composto de 3 quartetos
(estrofes de quatro versos) e 1 dístico (estrofe de dois versos).
Há
também o soneto monostrófico, o qual apresenta uma única estrofe composta pelos
catorze versos. E o soneto estrambótico, aquele que conta com versos ou
estrofes adicionais.
Estrutura
do Soneto
Os
sonetos são geralmente produções literárias de conteúdo lírico formados, nessa
ordem, por dois quartetos e dois tercetos.
No
interior da estrutura do soneto, faz se necessário observar alguns conceitos
básicos:
estrofe
verso
métrica
rima
Estrofe
e Verso
Importante
ressaltar que o verso corresponde a frase ou palavra que compõem cada linha de
uma poesia. Enquanto a estrofe é o conjunto de versos de uma das seções do
poema.
Assim,
de acordo com o número de versos que compõem uma estrofe, elas são
classificadas em:
1
verso: Monóstico
2
versos: Dístico
3
versos: Terceto
4
versos: Quarteto ou Quadra
5
versos: Quintilha
6
versos: Sextilha
7
versos: Septilha
8
versos: Oitava
9
versos: Nona
10
versos: Décima
Mais
de dez versos: estrofe irregular
Saiba
mais sobre o tema com a leitura:
O
que é Verso?
Versificação
Estrofe
Verso,
Estrofe e Rima
Métrica
A
métrica é medida do verso a qual corresponde ao número de sílabas poéticas.
No
caso do soneto, os versos são geralmente decassílabos, ou seja, compostos de 10
sílabas poéticas, classificados em:
Versos
Heroicos: sílabas tônicas nas posições 6 e 10.
Versos
Sáficos: sílabas tônicas se encontram nas posições 4, 8 e 10.
Observe
que as sílabas poéticas ou métricas diferem das sílabas gramaticais. A
“escansão” é o termo utilizado para indicar a contagem dos sons dos versos. Ela
é desenvolvida por três regras básicas:
Quando
há duas ou mais vogais átonas ou tônicas no final de uma palavra e do começo de
outra, elas se fundem, formando uma só sílaba poética, por exemplo: A-ma-da
ar-te (4 sílabas poéticas)
Os
ditongos são palavras de uma só sílaba poética, por exemplo: meu, céu, viu.
A
contagem das sílabas é feita até a última sílaba tônica do verso, por exemplo:
“De- tu-do ao- meu- a-mor- se-rei a-ten-to” (verso decassílabo, donde a última
palavra do verso “atento” possui sua sílaba tônica no “ten”, e por isso, a
última “to” não é contada)
Assim,
além dos versos decassílabos, as formas mais conhecidas são:
Redondilha
Menor: 5 sílabas métricas
Redondilha
Maior ou Heptassílabo: 7 sílabas poéticas
Eneassílabo:
9 sílabas poéticas
Hendecassílabo:
11 sílabas poéticas
Dodecassílabo
ou Versos Alexandrinos: 12 sílabas poéticas
Veja
também: Metrificação
Rima
A
rima é a concordância de sons estabelecida entre as palavras do poema.
No
soneto petrarquiano o posicionamento das rimas nos catorze versos, apresentam a
composição: abba abba cdc (cde) dcd (cde)
Os
quartetos são formados por rimas entrelaçadas ou opostas, de forma que o
primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro.
Veja
também: O que é Rima?
Sonetistas
Brasileiros
Alguns
autores brasileiros que se destacaram na produção de sonetos:
Gregório
de Matos Guerra (1636-1696)
Cláudio
Manuel da Costa (1729-1789)
Cruz
e Sousa (1861-1898)
Olavo
Bilac (1865-1818)
Augusto
dos Anjos (1884-1914)
Vinícius
de Moraes (1913-1980)
Sonetistas
Portugueses
Em
Portugal, o soneto foi uma forma literária introduzido pelo escritor Sá de
Miranda, no século XVI, quando voltou Itália.
Alguns
poetas que se destacaram com a produção de sonetos foram:
Luís
de Camões (1524-1580)
Bocage
(1765-1805)
Antero
de Quental (1842-1891)
Florbela
Espanca (1894-1930)
Soneto
de Fidelidade
Um
dos mais emblemáticos exemplos do soneto moderno brasileiro está presente na
música popular brasileira (MPB).
Ele
foi escrito em 1960 pelo escritor e músico Vinícius de Moraes: Soneto da
Fidelidade:
De
tudo ao meu amor serei atento
Antes,
e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que
mesmo em face do maior encanto
Dele
se encante mais meu pensamento.
Quero
vivê-lo em cada vão momento
E
em seu louvor hei de espalhar meu canto
E
rir meu riso e derramar meu pranto
Ao
seu pesar ou seu contentamento
E
assim, quando mais tarde me procure
Quem
sabe a morte, angústia de quem vive
Quem
sabe a solidão, fim de quem ama
Eu
possa me dizer do amor (que tive):
Que
não seja imortal, posto que é chama
Mas
que seja infinito enquanto dure.
Quanto
à classificação, eles podem ser de dois tipos: soneto italiano e soneto inglês.
⇒ Soneto italiano
É
caracterizado pela presença de quatorze versos que, normalmente, possuem dez
sílabas poéticas, ou seja, versos decassílabos ou alexandrinos. Esses versos
são organizados em duas quadras e dois tercetos.
Quadras
Estrofe
de quatro versos que se apresenta geralmente com rimas alternadas (abab) ou
opostas (abba).
Tercetos
Estrofe
de três versos. Podem apresentar a combinação das rimas seguindo o modelo de
Dante em Divina comédia, decassílabos em rima encadeada (aba-bdc-cdc…), no qual
o último verso terceto deve rimar com um verso final (xzx-z), ou podem fazer
combinações de rimas diferentes (aab-ccb, abc-abc, etc.), ou até mesmo serem
apresentados com ausência de rimas.
Veja
este exemplo do soneto de Manuel Bandeira que apresenta a estrutura citada
acima (duas quadras e dois tercetos):
Soneto
Italiano
Frescura
das sereias e do orvalho,
Dos
brancos pés dos pequeninos,
Voz
das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa
mais alta no mais alto galho:
De
quem me valerei, se não me valho
De
ti, que tens a chave dos destinos
Em
que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos
cinzas que em pranto ao vento espalho?
Também
te vi chorar… Também sofreste
A
dor de verem secarem pela estrada
As
fontes da esperança… E não cedeste!
Antes,
pobre, despida e trespassada,
Soubeste
dar à vida, em que morreste,
Tudo,
— à vida, que nunca te deu nada!
Combinação
das rimas dos tercetos
Quando
o soneto possuir tercetos que combinem apenas duas rimas, elas deverão seguir o
esquema cdc-dcd. Veja o exemplo dos tercetos de Manuel Bandeira:
Também
te vi chorar… Também sofreste C
A
dor de verem secarem pela estrada D
As
fontes da esperança… E não cedeste! C
Antes,
pobre, despida e trespassada, D
Soubeste
dar à vida, em que morreste, C
Tudo,
— à vida, que nunca te deu nada! D
Se
os tercetos possuírem mais de três rimas, devem seguir as combinações abaixo:
a)
ccd-eed
Exemplo:
Amar!
Florbela
Espanca
Eu
quero amar, amar perdidamente!
Amar
só por amar: Aqui… além…
Mais
Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!
Amar! E não amar ninguém!
Recordar?
Esquecer? Indiferente!…
Prender
ou desprender? É mal? É bem?
Quem
disser que se pode amar alguém
Durante
a vida inteira é porque mente!
Há
uma Primavera em cada vida: C
É
preciso cantá-la assim florida, C
Pois
se Deus nos deu voz, foi pra cantar! D
E
se um dia hei-de ser pó, cinza e nada E
Que
seja a minha noite uma alvorada, E
Que
me saiba perder... pra me encontrar... D
b)
cdc-ede
Não
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Exemplo:
Ser
poeta
Florbela
Espanca
Ser
poeta é ser mais alto, é ser maior
Do
que os homens! Morder como quem beija!
É
ser mendigo e dar como quem seja
Rei
do Reino de Aquém e de Além Dor!
É
ter de mil desejos o esplendor
E
não saber sequer que se deseja!
É
ter cá dentro um astro que flameja,
É
ter garras e asas de condor!
É
ter fome, é ter sede de Infinito! C
Por
elmo, as manhãs de oiro e de cetim… D
É
condensar o mundo num só grito! C
E
é amar-te, assim, perdidamente… E
É
seres alma, e sangue, e vida em mim D
E
dizê-lo cantando a toda a gente! E
c)
ced-cde
Exemplo:
Busque
Amor novas artes, novo engenho,
para
matar me, e novas esquivanças;
que
não pode tirar me as esperanças,
que
mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai
de que esperanças me mantenho!
Vede
que perigosas seguranças!
Que
não temo contrastes nem mudanças,
andando
em bravo mar, perdido o lenho.
Mas,
conquanto não pode haver desgosto C
onde
esperança falta, lá me esconde D
Amor
um mal, que mata e não se vê. E
Que
dias há que n'alma me tem posto C
um
não sei quê, que nasce não sei onde, D
vem
não sei como, e dói não sei porquê. E
Luís
de Camões
O
soneto italiano é organizado dentro dessas regras fixas em sua composição.
⇒ Soneto inglês
Assim
como o italiano, o soneto inglês também possui quatorze versos, mas
diferencia-se por apresentar três quadras e um dístico final. A combinação
rímica é feita de acordo com duas organizações:
abab
bcbc cdcd ee: conhecido por soneto spenseriano, iniciado por Edmund Spenser.
abab
bcbc cdcd efef gg: conhecido como soneto shakespeariano ou soneto inglês.
Exemplo
de soneto shakespeariano:
Soneto
Inglês No. 1
Manuel
Bandeira
Quando
a morte cerrar meus olhos duros A
–
Duros de tantos vãos padecimentos, B
Que
pensarão teus peitos imaturos A
Da
minha dor de todos os momentos? B
Vejo-te
agora alheia, e tão distante: C
Mais
que distante – isenta. E bem prevejo, D
Desde
já bem prevejo o exato instante C
Em
que de outro será não teu desejo, D
Que
o não terás, porém teu abandono, E
Tua
nudez! Um dia hei de ir embora F
Adormecer
no derradeiro sono. E
Um
dia chorarás… Que importa? Chora. F
Então
eu sentirei muito mais perto G
De
mim feliz, teu coração incerto. G
Atualmente,
a forma mais utilizada na composição dos sonetos é o soneto inglês, pela grande
popularidade do seu uso feito por Shakespeare, que produziu 154 sonetos do
tipo.
Quer
ler mais sonetos e estudar suas características diretamente nos poemas? Comece
lendo Florbela Espanca, Belmiro Braga, Raimundo Correia, Manuel Bandeira e,
claro, o próprio Shakespeare.
FONTE:
https://www.todamateria.com.br/soneto/
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras
Daniela Diana -
Professora licenciada em Letras
COMPARTILHAMENTO:
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