sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

O QUE É SONETO?






Entender o que é soneto exige saber as regras fixas desse tipo de poema quanto ao número de versos, combinação das rimas e organização das estrofes

 

Existem alguns poemas que apresentam regras fixas quanto ao número de versos, à combinação das rimas e à organização das estrofes. Entre eles, está o soneto, poema que é encontrado desde muito tempo em diversas literaturas e, claro, também é encontrado na literatura portuguesa e na literatura brasileira.

 

Soneto é uma estrutura literária de forma fixa composta por catorze versos, dos quais dois são quartetos (conjunto de quatro versos) e dois tercetos (conjunto de três versos).

 

Foi provavelmente criado pelo poeta e humanista italiano Francesco Petrarca (1304-1374).

 

A palavra soneto (do italiano “sonetto”) significa pequeno som ao referir-se à sonoridade produzida pelos versos.

 

Tipos de Soneto

O soneto petrarquiano ou regular é o mais experimentado. No entanto, Willian Shakespeare (1564-1616) criou o soneto inglês, composto de 3 quartetos (estrofes de quatro versos) e 1 dístico (estrofe de dois versos).

 

Há também o soneto monostrófico, o qual apresenta uma única estrofe composta pelos catorze versos. E o soneto estrambótico, aquele que conta com versos ou estrofes adicionais.

 

Estrutura do Soneto

Os sonetos são geralmente produções literárias de conteúdo lírico formados, nessa ordem, por dois quartetos e dois tercetos.

 

No interior da estrutura do soneto, faz se necessário observar alguns conceitos básicos:

 

estrofe

verso

métrica

rima

Estrofe e Verso

Importante ressaltar que o verso corresponde a frase ou palavra que compõem cada linha de uma poesia. Enquanto a estrofe é o conjunto de versos de uma das seções do poema.

 

Assim, de acordo com o número de versos que compõem uma estrofe, elas são classificadas em:

 

1 verso: Monóstico

2 versos: Dístico

3 versos: Terceto

4 versos: Quarteto ou Quadra

5 versos: Quintilha

6 versos: Sextilha

7 versos: Septilha

8 versos: Oitava

9 versos: Nona

10 versos: Décima

Mais de dez versos: estrofe irregular

Saiba mais sobre o tema com a leitura:

 

O que é Verso?

 

Versificação

Estrofe

Verso, Estrofe e Rima

Métrica

A métrica é medida do verso a qual corresponde ao número de sílabas poéticas.

 

No caso do soneto, os versos são geralmente decassílabos, ou seja, compostos de 10 sílabas poéticas, classificados em:

 

Versos Heroicos: sílabas tônicas nas posições 6 e 10.

Versos Sáficos: sílabas tônicas se encontram nas posições 4, 8 e 10.

Observe que as sílabas poéticas ou métricas diferem das sílabas gramaticais. A “escansão” é o termo utilizado para indicar a contagem dos sons dos versos. Ela é desenvolvida por três regras básicas:

 

Quando há duas ou mais vogais átonas ou tônicas no final de uma palavra e do começo de outra, elas se fundem, formando uma só sílaba poética, por exemplo: A-ma-da ar-te (4 sílabas poéticas)

Os ditongos são palavras de uma só sílaba poética, por exemplo: meu, céu, viu.

A contagem das sílabas é feita até a última sílaba tônica do verso, por exemplo: “De- tu-do ao- meu- a-mor- se-rei a-ten-to” (verso decassílabo, donde a última palavra do verso “atento” possui sua sílaba tônica no “ten”, e por isso, a última “to” não é contada)

Assim, além dos versos decassílabos, as formas mais conhecidas são:

 

Redondilha Menor: 5 sílabas métricas

Redondilha Maior ou Heptassílabo: 7 sílabas poéticas

Eneassílabo: 9 sílabas poéticas

Hendecassílabo: 11 sílabas poéticas

Dodecassílabo ou Versos Alexandrinos: 12 sílabas poéticas

Veja também: Metrificação

Rima

A rima é a concordância de sons estabelecida entre as palavras do poema.

 

No soneto petrarquiano o posicionamento das rimas nos catorze versos, apresentam a composição: abba abba cdc (cde) dcd (cde)

 

 

Os quartetos são formados por rimas entrelaçadas ou opostas, de forma que o primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro.

 

Veja também: O que é Rima?

Sonetistas Brasileiros

Alguns autores brasileiros que se destacaram na produção de sonetos:

 

Gregório de Matos Guerra (1636-1696)

Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)

Cruz e Sousa (1861-1898)

Olavo Bilac (1865-1818)

Augusto dos Anjos (1884-1914)

Vinícius de Moraes (1913-1980)

Sonetistas Portugueses

Em Portugal, o soneto foi uma forma literária introduzido pelo escritor Sá de Miranda, no século XVI, quando voltou Itália.

 

Alguns poetas que se destacaram com a produção de sonetos foram:

 

Luís de Camões (1524-1580)

Bocage (1765-1805)

Antero de Quental (1842-1891)

Florbela Espanca (1894-1930)

Soneto de Fidelidade

Um dos mais emblemáticos exemplos do soneto moderno brasileiro está presente na música popular brasileira (MPB).

 

 

Ele foi escrito em 1960 pelo escritor e músico Vinícius de Moraes: Soneto da Fidelidade:

 

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

 

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

 

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

 

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

 

 

 

Quanto à classificação, eles podem ser de dois tipos: soneto italiano e soneto inglês.

 

⇒ Soneto italiano

É caracterizado pela presença de quatorze versos que, normalmente, possuem dez sílabas poéticas, ou seja, versos decassílabos ou alexandrinos. Esses versos são organizados em duas quadras e dois tercetos.

 

Quadras

 

Estrofe de quatro versos que se apresenta geralmente com rimas alternadas (abab) ou opostas (abba).

 

Tercetos

 

Estrofe de três versos. Podem apresentar a combinação das rimas seguindo o modelo de Dante em Divina comédia, decassílabos em rima encadeada (aba-bdc-cdc…), no qual o último verso terceto deve rimar com um verso final (xzx-z), ou podem fazer combinações de rimas diferentes (aab-ccb, abc-abc, etc.), ou até mesmo serem apresentados com ausência de rimas.

 

 

Veja este exemplo do soneto de Manuel Bandeira que apresenta a estrutura citada acima (duas quadras e dois tercetos):

 

Soneto Italiano

 

Frescura das sereias e do orvalho,

Dos brancos pés dos pequeninos,

Voz das manhãs cantando pelos sinos,

Rosa mais alta no mais alto galho:

 

De quem me valerei, se não me valho

De ti, que tens a chave dos destinos

Em que arderam meus sonhos cristalinos

Feitos cinzas que em pranto ao vento espalho?

 

Também te vi chorar… Também sofreste

A dor de verem secarem pela estrada

As fontes da esperança… E não cedeste!

 

Antes, pobre, despida e trespassada,

Soubeste dar à vida, em que morreste,

Tudo, — à vida, que nunca te deu nada!

 

Combinação das rimas dos tercetos

Quando o soneto possuir tercetos que combinem apenas duas rimas, elas deverão seguir o esquema cdc-dcd. Veja o exemplo dos tercetos de Manuel Bandeira:

 

Também te vi chorar… Também sofreste C

A dor de verem secarem pela estrada D

As fontes da esperança… E não cedeste! C

 

Antes, pobre, despida e trespassada, D

Soubeste dar à vida, em que morreste, C

Tudo, — à vida, que nunca te deu nada! D

 

Se os tercetos possuírem mais de três rimas, devem seguir as combinações abaixo:

 

a) ccd-eed

 

Exemplo:

 

Amar!

Florbela Espanca

 

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui… além…

Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente

Amar! Amar! E não amar ninguém!

 

Recordar? Esquecer? Indiferente!…

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

 

Há uma Primavera em cada vida: C

É preciso cantá-la assim florida, C

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! D

 

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada E

Que seja a minha noite uma alvorada, E

Que me saiba perder... pra me encontrar... D

 

b) cdc-ede

 

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Exemplo:

 

Ser poeta

Florbela Espanca

 

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

 

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

 

É ter fome, é ter sede de Infinito! C

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim… D

É condensar o mundo num só grito! C

 

E é amar-te, assim, perdidamente… E

É seres alma, e sangue, e vida em mim D

E dizê-lo cantando a toda a gente! E

 

 

 

c) ced-cde

 

Exemplo:

 

Busque Amor novas artes, novo engenho,

para matar me, e novas esquivanças;

que não pode tirar me as esperanças,

que mal me tirará o que eu não tenho.

 

Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

andando em bravo mar, perdido o lenho.

 

Mas, conquanto não pode haver desgosto C

onde esperança falta, lá me esconde D

Amor um mal, que mata e não se vê. E

 

Que dias há que n'alma me tem posto C

um não sei quê, que nasce não sei onde, D

vem não sei como, e dói não sei porquê. E

 

Luís de Camões

 

O soneto italiano é organizado dentro dessas regras fixas em sua composição.

 

⇒ Soneto inglês

Assim como o italiano, o soneto inglês também possui quatorze versos, mas diferencia-se por apresentar três quadras e um dístico final. A combinação rímica é feita de acordo com duas organizações:

 

abab bcbc cdcd ee: conhecido por soneto spenseriano, iniciado por Edmund Spenser.

 

abab bcbc cdcd efef gg: conhecido como soneto shakespeariano ou soneto inglês.

 

Exemplo de soneto shakespeariano:

 

Soneto Inglês No. 1

Manuel Bandeira

 

Quando a morte cerrar meus olhos duros A

– Duros de tantos vãos padecimentos, B

Que pensarão teus peitos imaturos A

Da minha dor de todos os momentos? B

 

Vejo-te agora alheia, e tão distante: C

Mais que distante – isenta. E bem prevejo, D

Desde já bem prevejo o exato instante C

Em que de outro será não teu desejo, D

 

Que o não terás, porém teu abandono, E

Tua nudez! Um dia hei de ir embora F

Adormecer no derradeiro sono. E

Um dia chorarás… Que importa? Chora. F

 

Então eu sentirei muito mais perto G

De mim feliz, teu coração incerto. G

 

Atualmente, a forma mais utilizada na composição dos sonetos é o soneto inglês, pela grande popularidade do seu uso feito por Shakespeare, que produziu 154 sonetos do tipo.

 

Quer ler mais sonetos e estudar suas características diretamente nos poemas? Comece lendo Florbela Espanca, Belmiro Braga, Raimundo Correia, Manuel Bandeira e, claro, o próprio Shakespeare. 

 



 

 

FONTE:

https://www.todamateria.com.br/soneto/

Por Mariana Rigonatto

Graduada em Letras

 

Daniela Diana - Professora licenciada em Letras

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