Há três anos, como vem ocorrendo e as fotos o comprovam, mais uma vez meu antigo pinheirinho natalino transmutou-se em livros. Cansada de ser vegetal, a já surrada a arvorezinha deu um basta à rotina. Não quis mais representar, neste Brasil tropical, imagens estrangeiras encharcadas de neve. Nem quer saber de Papai Noel agasalhado com roupas pesadas do Polo Norte. Preferia ser o Vovô Índio, emblema de nossa terra a prodigalizar nativos presentes.
Inteligente, meu pinheirinho natalino percebeu que, no mundo, o que está na onda do dia é assumir as diferenças nas identidades culturais. Então, mais que depressa, resolveu atualizar-se. Contudo, sem perder sua natureza fundamental, ou seja, o fato de ser árvore. Ou, pelo menos, desejava manter algo, mesmo que longínquo de seu passado vegetal.
Meu pinheirinho ficou a meditar. Como modificar-se, sem perder a seiva que circula pelo seu corpo vegetal? De repente, Eureca. Amante que é de livros – igual à sua dona – lembrou-se da Lei de Lavoisier: “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Então, a velha arvorezinha de Natal botou em prática o pensamento do químico francês.
Já que, “na natureza tudo se transforma”, o arbusto resolveu se transformar em livro. Aliás, pensando bem, caros leitores, os livros não têm de fato “parentesco” com árvores ? A celulose, aquela substância de característica fibrosa, existente na maioria dos vegetais, não é a base para a fabricação de papel? E consequentemente para a composição do livro? Portanto, não é sem propósito essa alquimia entre ambos.
A seiva que antes circulava entre as fibras do vegetal no momento transita em outro tipo de árvore. Mudou de nome até mais pomposo: Árvore de Natal Cultural. Ah! Pinheirinho inteligente. Ele sabe das coisas. Na transformação, não perdeu sua identidade originária! A seiva que fluía alimentando a celulose da planta, no livro tornou-se o conhecimento que circula nas fibras do papel.
Extasiei-me diante da árvore. Somente, ele, o antes velho pinheirinho não gostou quando, eu – por mero hábito de reduplicarmos modelos estrangeiros –, coloquei Papai Noel ao lado da nova árvore. Meu antigo pinheirinho, já na forma livresca, estrilou. Deu um faniquito reivindicando a imagem do Vovô Índio tropical para substituir o emblemático Bom Velhinho polar. Por fim, ele aceitou. E eis, na sala, minha Árvore Cultural de Livros florescente e bela, mas ainda com Papais Noéis. O cachimbo põe mesmo a boca torta. Arre....
Em tempo: texto já publicado no face.
CRÉDITO PARA O TEXTO: A CÓPIA DO TEXTO FOI EXTRAÍDA DO PERFIL DA ESCRITORA DALMA NASCIMENTO NO FACEBOOK. ORIGINAL:
https://www.facebook.com/profile.php?id=100013067440740
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