Com profunda gratidão, celebro a existência que generosamente me agraciou. Presenteou-me com a visão, essa janela dupla que, ao abrir-se, revela a nítida dança entre a escuridão e a luz, o firmamento profundo salpicado de estrelas cintilantes, e, no intimo de minha história, a amada esposa Shirley que meu coração reconhece.
Agradeço à vida que me concedeu a audição, um receptor onipresente que acolhe tanto o suave canto noturno dos grilos quanto o alegre trinado dos canários, o ritmo industrial de martelos e turbinas, o eco distante de latidos e a melodia da chuva torrencial, culminando na voz afetuosa daquele que preenche meus dias.
Sou grato pela dádiva do som e do alfabeto, ferramentas que me permitem moldar os pensamentos em palavras faladas, evocar os laços primordiais, à minha mãe que Deus me presenteou, amigo, irmãos e pela luz que ilumina o caminho da alma em direção àquilo que meu ser venera.
Minha gratidão se estende à marcha incansável dos meus pés, companheiros de jornada por esta cidade vibrante, praia ensolarada, montanhas imponentes, a vista do Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Gigante deitado, Museu de Arte Contemporânea, as planícies vastas.
Louvo a vida que me outorgou um coração pulsante, cujo compasso se acelera diante da genialidade humana, da rara beleza do bem contrastando com a fealdade do mal, e da profundidade límpida do seu olhar.
E, finalmente, elevo minha voz em agradecimento pelo riso e pelas lágrimas, dualidade que me ensina a distinguir a alegria da dor, os elementos primordiais que tecem a tapeçaria de meus escritos, que ecoa na vozear de meus amigos, unindo-se em um mesmo coro, a melodia de todos que ressoa em meu próprio canto. Graças à vida, infinitas graças à vida.
© Alberto Araújo
GRAÇAS À VIDA – VIOLETA PARRA
Graças à vida que me deu tanto
Me deu dois olhos que quando os abro
Perfeito distinguo o preto do branco
E no alto céu seu fundo estrelado
E nas multidões o homem que eu amo
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o ouvido que em todo seu alcance
Grava noite e dia grilos e canários
Martelos, turbinas, latidos, aguaceiros
E a voz tão terna de meu bem amado
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o som e o abecedário
Com ele, as palavras que penso e declaro
Mãe, amigo, irmão
E luz iluminando a rota da alma do que
estou amando
Graças à vida que me deu tanto
Me deu a marcha de meus pés cansados
Com eles andei cidades e poças d'água
Praias e desertos, montanhas e planícies
E a sua casa, sua rua e seu pátio
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o coração que agita seu marco
Quando olho o fruto do cérebro humano
Quando olho o bom tão longe do mal
Quando olho o fundo de seus olhos claros
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o riso e me deu o pranto
Assim eu distingo alegria de dor
Os dois materiais que formam meu canto
E o canto de vocês que é o mesmo canto
E o canto de todos que é meu próprio
canto
Graças à vida, graças à vida.
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