De tudo que me cerca, oh meu anseio,
Serei guardião leal, com força tanta,
Que ante o fulgor de qualquer doce encanto,
Meu ser por teu fascínio arda mais cheio.
Viver-te em cada instante, eis meu recreio,
Meu canto exaltará tua alma santa,
E em riso ou pranto, a dor que te quebranta
Ou a alegria pura, terão meu meio.
E quando a fria mão do fim me busque,
Seja a morte, espectro que a vida invade,
Seja a solidão, de quem amar não pude,
Direi do amor que em meu peito se escude:
"Eterna flama não será, que é breve,
Mas finda só se o tempo enfim se move."
SONETO DE FIDELIDADE DE VINICIUS DE MORAES
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Estoril, outubro de 1939
Nenhum comentário:
Postar um comentário