(O palco está iluminado, revelando uma sala simples, talvez a cozinha de uma casa. Maria está a mexer em algo sobre a mesa, enquanto Joaquim entra, com um jornal amarrotado na mão.)
Joaquim:
Bom dia, mulher! Já viste a última?
Maria: Bom dia, Joaquim. Vi o quê? Mais uma daquelas notícias que nos fazem querer voltar para debaixo dos lençóis?
Joaquim: Pior! Ou melhor… depende do ponto de vista. Dizem agora que o bacalhau, o nosso fiel amigo, afinal não é assim tão amigo do coração.
Maria: Ai, valha-me Deus! Mas o que é isto? Primeiro o vinho faz mal, depois faz bem, agora o bacalhau, que sempre foi o nosso sustento nas sextas-feiras… Já não se sabe em que acreditar!
Joaquim: Pois é, Maria. Ontem era o azeite que nos dava anos de vida, hoje já não sei bem. Amanhã, talvez digam que respirar também faz mal!
Maria: (Larga o que está a fazer e olha para Joaquim, com ar incrédulo) Não digas uma coisa dessas, homem! Senão ainda nos metem a pagar imposto pelo ar que respiramos!
Joaquim: (Ri, abanando a cabeça) Essa não seria de admirar, Maria. Com tanta informação a circular, cada um diz uma coisa diferente. Já não sei se o que leio é verdade, se é mentira, se é invenção para vender jornais.
Maria: É verdade, Joaquim. Lembro-me da minha avó dizer que antigamente as notícias demoravam dias a chegar, mas chegavam certas. Hoje, em segundos sabemos de tudo e de nada ao mesmo tempo.
Joaquim: É a tal da “informação em tempo real”, dizem os entendidos. Mas para quê tanta pressa em saber se depois ficamos mais confusos do que esclarecidos?
Maria: Exato! Ontem li numa dessas notícias online que o café tira o sono. Hoje já dizem que ajuda a acordar! Em qual havemos de acreditar, Joaquim? Já não tenho idade para andar a experimentar estas modas todas.
Joaquim: Paciência, Maria. O melhor é fazermos como sempre fizemos: usar o bom senso. Se o bacalhau souber bem e nos fizer felizes à mesa, comemos um bocadinho. Se o café nos der energia para começar o dia, bebemos uma chávena.
Maria:
Falas com sensatez, Joaquim. No meio de tanta informação baralhada, o que vale
mesmo é a nossa experiência e o que nos diz o coração.
Joaquim: É isso mesmo, Maria. E agora, que tal um cafezinho? Dizem que hoje faz bem! (Pisca o olho para Maria.)
Maria: (Sorri) Seja! Mas se daqui a uma hora disserem o contrário, não me venhas culpar!
(Maria e Joaquim riem juntos. As luzes começam a diminuir lentamente.)
(Após o término do diálogo e os aplausos da plateia cessarem, uma voz em off anuncia com carinho e reconhecimento):
A sensibilidade e o humor que acabamos de presenciar foram magistralmente interpretados por duas grandes damas do teatro e da cultura de Niterói: Neide Barros Rêgo e Gracinha Rego.
(As luzes se acendem novamente, focando em Neide Barros Rêgo e Gracinha Rego, que fazem uma reverência emocionada para a plateia.)
©
Alberto Araújo
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