O sino silencia, um eco distante de bronze em luto. O ar se veste de uma quietude densa, como se a própria natureza prendesse a respiração, contemplando a dor que atravessou a história. Em cada esquina, a sombra da cruz se alonga, um espectro que nos lembra do peso de um amor infinito, carregado em ombros humanos.
Ah, Jesus, o rosto sereno em meio à tormenta, os olhos que outrora brilhavam com a mansidão dos campos da Galileia agora velados por uma tristeza profunda. Sente-se o áspero da madeira em suas costas flageladas, o grito mudo de cada ferida, a gota rubra que tinge a poeira do caminho.
A multidão, outrora ávida por seus milagres, agora vocifera, cega pela incompreensão, pela fragilidade humana que se assusta com a pureza. E Ele caminha, passo a passo, sob o peso de um madeiro que se torna, paradoxalmente, o símbolo da nossa redenção.
Imagino o coração de Maria, um relicário de ternura trespassado por lancinante agonia. Cada passo de seu Filho é uma punhalada em sua alma, um espelho da dor que Ele suporta. O céu se fecha em um manto cinzento, e as lágrimas silenciosas da Mãe parecem se confundir com a iminente tempestade.
No alto do Gólgota, o grito lancinante rasga o véu do templo, estremece a terra, e o sol se esconde, envergonhado diante de tamanha entrega. O silêncio que se segue é ensurdecedor, um vazio que ecoa a dimensão do sacrifício.
Mas nesse silêncio reside a semente da esperança. A morte, outrora um muro intransponível, é vencida pelo amor que se doa até a última gota. A Sexta-Feira Santa não é apenas a lembrança da dor, mas a promessa silenciosa da ressurreição, a certeza de que a luz sempre vence a sombra, mesmo que demore a romper a noite.
É como se essa atmosfera carregada de mistério e fé fosse bordada em versos livres. Capta-se a melancolia do vento, o sussurro das preces, a beleza austera da renúncia. Os versos seriam fios de prata tecendo a tapeçaria da Paixão, revelando a profundidade do amor que se manifesta na mais extrema dor. Uma poesia feita de silêncios eloquentes e imagens que tocam a alma, assim como a Sexta-Feira Santa toca o coração da humanidade.
Prosa Poética de © Alberto Araújo
SOBRE O PINTOR
Peter Paul Rubens (1577-1640) foi um pintor flamengo do estilo barroco, amplamente considerado um dos artistas mais influentes da história da arte europeia. Ele nasceu em Siegen, na Alemanha, mas sua família retornou a Antuérpia quando ele ainda era criança.
Rubens recebeu uma educação humanista e iniciou seus estudos de arte aos 14 anos. Ele teve como mestres Tobias Verhaecht, Adam van Noort e Otto van Veen, que o introduziu à arte do Renascimento italiano. Em 1600, Rubens viajou para a Itália, onde passou oito anos estudando as obras de mestres como Ticiano, Michelangelo e Rafael. Essa experiência teve um impacto profundo em seu estilo, que se tornou conhecido por sua energia, cor e sensualidade.
Ao retornar a Antuérpia em 1608, Rubens rapidamente se estabeleceu como um dos pintores mais importantes da região. Ele recebeu inúmeras encomendas de igrejas, nobres e governantes, criando obras monumentais que frequentemente abordavam temas religiosos, mitológicos e alegóricos. Seu estúdio tornou-se um dos maiores e mais influentes da Europa, com muitos aprendizes e colaboradores trabalhando sob sua direção.
Além de sua prolífica carreira como pintor, Rubens também foi um diplomata talentoso. Ele serviu como embaixador da Espanha e desempenhou um papel importante em negociações de paz entre a Espanha e a Inglaterra, sendo inclusive nomeado cavaleiro por Carlos I da Inglaterra por seus serviços.
A vida pessoal de Rubens também foi marcada por dois casamentos. Sua primeira esposa, Isabella Brant, morreu em 1626. Em 1630, ele se casou com Hélène Fourment, com quem teve cinco filhos.
Peter Paul Rubens morreu em Antuérpia
em 30 de maio de 1640, deixando um vasto legado artístico que continua a
inspirar e influenciar artistas até hoje. Suas obras são encontradas em
importantes museus ao redor do mundo, e ele é lembrado como um dos maiores
mestres do Barroco.
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