domingo, 27 de abril de 2025

RAÍZES NO BARRO, FLORES NO CORAÇÃO CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO


Laços. A própria palavra já ecoa a força invisível que me prende à terra ancestral, mesmo sob o céu de outros Brasis. Não são meras linhas em um organograma familiar, rabiscos desbotados em um álbum antigo. São as cordas vibrantes que ressoam em meu peito, pulsando no ritmo quente do baião, sussurrando os segredos da caatinga sob o sol inclemente.

Cada nome que pronuncio não evoca um registro cartorial, mas sim a presença viva de um universo particular. Sinto o calo nas mãos rudes do meu bisavô lavrador, a doçura melancólica dos cantos de ninar da minha avó, a resiliência silenciosa dos meus pais que desbravaram o Nordeste inteiro e levaram consigo o sabor da farinha de mandioca e o aroma do cuscuz matinal.

Essa herança ancestral não se resume a informações; ela se manifesta em cada fibra do meu ser. No meu jeito de falar, carregado de um sotaque que teima em resistir à homogeneização. No meu paladar, que reconhece de longe o cheiro da excelente galinha ao molho “pardo” temperada pela minha mãe Maria e o suspiro do sabor da tapioca feita na panela de barro. Na minha alma, que se inflama ao som de um aboio e se acalma com a vastidão do céu estrelado do sertão. 

Esses laços não são estáticos, inertes. Eles se estendem como raízes profundas, buscando nutrição na memória afetiva, na saudade que se transmuta em força motriz. Eles florescem em cada gesto de acolhimento, em cada sorriso compartilhado, em cada história contada que perpetua a saga da minha gente. 

E assim, essa árvore genealógica que meu coração transporta para este novo chão não é apenas uma lembrança nostálgica. É a minha bússola, o meu escudo, a prova irrefutável de que a essência nordestina não se perde na distância. Ela se reinventa, se fortalece, e floresce com uma beleza singular, mostrando que as raízes fincadas no barro podem gerar as flores mais vibrantes no jardim da alma. Esses laços, forjados na história e aquecidos pelo amor, são a minha verdade mais profunda, o legado que me define e me impulsiona a seguir adiante, carregando em mim a força e a beleza do meu Nordeste eterno.

 

© Alberto Araújo


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