Ah, o amor... Essa palavra tão gasta, tão maltratada pelo uso cotidiano. Mas, se pararmos um instante, no meio do burburinho da vida, e permitirmos que ele se manifeste em sua mais pura vibração, descobrimos algo que transcende o mero sentimento. É quase um estado de graça, um silêncio que fala mais alto que todas as declarações.
Não se trata daquele amor açucarado dos contos de fadas, nem da possessão disfarçada de cuidado. O amor em sua essência sagrada é um reconhecimento. Um olhar que encontra outro olhar e, num átimo, sabe. Sabe da fragilidade compartilhada, da beleza imperfeita, da jornada única que se torna, por um instante ou por uma vida, uma dança conjunta.
É a aceitação do outro em sua inteireza, com suas luzes e suas sombras. Não a tentativa vã de moldá-lo a uma imagem idealizada, mas a reverência pela sua individualidade misteriosa. Amar assim é despir-se de expectativas, é oferecer um espaço seguro onde o ser amado pode florescer sem receios, sem a constante necessidade de provar valor.
Há uma doçura silenciosa nesse amor. Um toque leve, um sorriso discreto, a certeza de uma presença que acalma a alma. Não precisa de grandes gestos, de juras eternas proferidas aos ventos. Ele se manifesta nas pequenas gentilezas, no cuidado atento, na escuta paciente. É como a água que nutre a raiz escondida, permitindo que a flor desabroche em seu tempo.
E quando a dor inevitavelmente chega, esse amor sagrado não se esvai. Ele se transforma em amparo, em força silenciosa que sustenta o outro em sua vulnerabilidade. É a mão estendida no momento de queda, o abraço que silencia as lágrimas, a certeza de que, mesmo na escuridão, há uma luz tênue que não se apaga.
Porque o amor, em sua mais alta vibração, é um eco da própria criação. É a força que une os fragmentos, que tece a tapeçaria da existência com fios de empatia e compaixão. É sentir no outro a pulsação da própria vida, a consciência de que somos todos parte de um mesmo mistério.
E talvez,
no fundo, esse amor sagrado não seja algo que se encontra, mas algo que se
permite ser. Um desabrochar interno que se irradia, quebrando as barreiras do
ego e nos conectando, em silêncio e profundidade, com a beleza essencial do
outro. Um presente sutil, que reside na delicadeza de um instante
compartilhado, na certeza muda de um coração que reconhece outro coração.
© Alberto
Araújo
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