ECOS DA INCONFIDÊNCIA NA ACADEMIA
NITEROIENSE: MARCIA PESSANHA DESVENDA A POESIA DE CECÍLIA MEIRELES.
TEXTO DE ALBERTO ARAÚJO
Na tarde de uma memorável quarta-feira, 24 de abril de 2019, a Academia Niteroiense de Letras pulsou com a força da palavra e da história. A renomada Marcia Pessanha, com sua inconfundível verve literária e cultural, presenteou os presentes com uma palestra magistral sobre o "Romanceiro da Inconfidência" de Cecília Meireles.
A palestrante teceu uma análise profunda e envolvente da obra, explorando cada nuance dos versos que ecoam os ideais e as tragédias da Inconfidência Mineira. Sua paixão pelo tema contagiou a plateia, composta por inúmeros acadêmicos e amigos da literatura, entre eles o presidente Juber Baesso, Mariney Klecz, Uyara Schiefer, Leonila Murinely, Wanderlino Teixeira Leite Netto, Neide Barros Rêgo, Alba Helena Correa, Bruno Pessanha, Inês Drummond, Renato Augusto Farias de Carvalho, Aldo Pessanha, Luzia Velloso, Leda Mendes Jorge, Jordão Pablo de Pão, André Santa Rosa, Dulce Matto, Zeneida Seixas, Shirley Baesso, Francisco Vignoli e Shirley Araújo e outros
Para aqueles que não puderam estar presentes ou desejam reviver este momento enriquecedor, a palestra completa está disponível no canal do Focus Portal Cultural no YouTube através do seguinte link: Clicar no link para assistir a palestra completa:
https://www.youtube.com/watch?v=TBOuUjd3ulA&si=l3HiSMtdRG5tsX89
Não percam a oportunidade de se aprofundar na obra de Cecília Meireles com a brilhante análise de Marcia Pessanha. A tarde/noite na Academia Niteroiense de Letras reafirmou o poder da literatura em iluminar o passado e inspirar o presente, e agora você pode fazer parte dessa experiência online.
Esse é o
link da postagem da palestra no Focus Portal Cultural
Clicar
aqui:
https://focusportalcultural.blogspot.com/2019/04/o-poema-o-romanceiro-da-inconfidencia.html
© Alberto
Araújo
25 de abril de 2019
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A
CANÇÃO SILENCIADA DA INCONFIDÊNCIA: A POESIA HISTÓRICA DE CECÍLIA MEIRELES EM
DIÁLOGO COM O PRESENTE.
ANÁLISE
DE ALBERTO ARAÚJO
Cecília
Meireles, farol da sensibilidade poética brasileira, legou-nos em "O
Romanceiro da Inconfidência" uma obra que transcende a mera narrativa
histórica, pulsando com uma musicalidade intrínseca e uma profunda ressonância
humana. Publicado em 1953, este livro singular entrelaça a lírica delicada da
autora com a saga da Inconfidência Mineira, um marco embrionário na luta pela
autonomia do Brasil. Ao adotar a forma dos antigos romances ibéricos, Cecília
não só revisita uma tradição literária, mas também confere à sua narrativa um
ritmo e uma cadência que intensificam a dramaticidade dos eventos,
transformando a história em um lamento épico pela liberdade.
Em
"O Romanceiro", a frieza dos registros históricos cede lugar à
vivacidade da experiência humana. Tiradentes, longe da estátua heroica, emerge
como um homem multifacetado, impulsionado por ideais libertários, mas também
vulnerável à traição e ao peso da repressão. Seus discursos inflamados ecoam ao
lado de suas dúvidas silenciosas, revelando a complexidade de um indivíduo em
confronto com um sistema opressor. Essa humanização se estende aos demais
inconfidentes, cada um com suas motivações e seus laços entrelaçados,
convidando-nos a sentir a intensidade de seus sonhos e a tragédia de seus
destinos.
A
beleza da obra reside também na expressividade da linguagem poética de Cecília
Meireles. Os versos octossílabos e as rimas não são meros adornos, mas a
própria tessitura da narrativa, conferindo-lhe uma musicalidade que evoca a
tradição oral e popular. As metáforas, as imagens sensoriais e o ritmo
cadenciado pintam um quadro vívido da Minas Gerais colonial, imergindo o leitor
na atmosfera da época. A poesia, nesse contexto, torna-se a lente através da
qual a história é revisitada, carregada de emoção e significado.
Numa
perspectiva contemporânea, a sensibilidade de Cecília Meireles ao trazer à luz
as vozes femininas da Inconfidência ressoa com as discussões atuais sobre
gênero e representatividade histórica. As esposas, mães e filhas dos
inconfidentes, antes relegadas às margens da narrativa, ganham protagonismo em
seus sentimentos e em sua participação silenciosa nos eventos. A autora expande
nossa compreensão da Inconfidência, mostrando que a luta por liberdade ecoou em
diferentes esferas da vida colonial.
A
relevância de "O Romanceiro" para o presente é inegável. Os anseios
por liberdade, justiça e autonomia que impulsionaram a Inconfidência continuam
a ser pilares da nossa sociedade. A obra nos convida a refletir sobre os
perigos da opressão, a importância da memória coletiva e a fragilidade dos
ideais diante da traição e da repressão. Em um mundo onde as lutas por direitos
e a vigilância democrática permanecem cruciais, a poesia de Cecília Meireles
ecoa como um lembrete da perene busca por um futuro mais justo.
"O
Romanceiro da Inconfidência" é mais do que um resgate poético de um evento
histórico; é uma obra que pulsa com a humanidade dos seus personagens, a beleza
da sua linguagem e a atemporalidade dos seus temas. Cecília Meireles nos
oferece não apenas uma canção sobre o passado, mas um diálogo poético com o
presente, convidando-nos a refletir sobre os ideais que moldaram o Brasil e que
continuam a inspirar a nossa jornada.
© Alberto
Araújo
CECÍLIA MEIRELES: UMA ALMA POÉTICA QUE DESAFIOU O TEMPO
Cecília Meireles (1901-1964) não foi apenas uma das maiores poetisas do Brasil, mas uma figura multifacetada que transitou com maestria entre a literatura, o jornalismo, a educação e até mesmo a pintura. Sua trajetória singular a consagrou como uma voz delicada e poderosa, capaz de capturar a efemeridade da vida e a profundidade dos sentimentos em versos de rara beleza.
Nascida no Rio de Janeiro, Cecília ficou órfã de pai antes de nascer e perdeu a mãe quando tinha apenas três anos. Criada pela avó materna, encontrou nos livros um refúgio e uma fonte inesgotável de inspiração. Sua paixão pela leitura e pela escrita floresceu desde cedo, culminando na publicação de seu primeiro livro de poemas, "Espectros", em 1919, marcando o início de uma jornada literária luminosa.
Embora tenha se associado brevemente ao movimento modernista em sua primeira fase, Cecília Meireles desenvolveu um estilo poético próprio e inconfundível. Sua poesia, marcada pela musicalidade, pela leveza e por uma profunda melancolia, explorava temas como o tempo, a transitoriedade, a natureza, a infância e o amor com uma sensibilidade ímpar. A influência da tradição lírica portuguesa, especialmente dos trovadores e dos poetas simbolistas, é notável em sua obra, conferindo-lhe um tom nostálgico e etéreo.
Além de sua prolífica produção poética, que inclui obras-primas como "Viagem" (1939), "Vaga Música" (1942) e o épico "Romanceiro da Inconfidência" (1953), Cecília Meireles desempenhou um papel crucial na educação brasileira. Foi professora e idealizadora da primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, demonstrando sua crença no poder transformador da leitura desde a infância. Sua dedicação à educação se estendeu à produção de livros didáticos e à defesa de métodos pedagógicos inovadores.
Sua atuação no jornalismo também foi significativa. Trabalhou em diversos periódicos, escrevendo sobre educação, literatura e questões sociais, sempre com uma visão crítica e engajada. Sua escrita jornalística revelava a mesma elegância e profundidade que marcavam sua poesia.
A vida de Cecília Meireles foi permeada por viagens e encontros que enriqueceram sua visão de mundo e sua arte. Casou-se com o artista plástico Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Após a morte do marido, viveu em Portugal por alguns anos, período que influenciou sua produção literária.
Cecília
Meireles nos deixou em 1964, mas sua obra permanece viva e vibrante, ecoando
através das gerações. Sua poesia continua a encantar leitores de todas as
idades, convidando-os a contemplar a beleza fugaz do mundo e a explorar as
profundezas da alma humana. Sua contribuição para a literatura e a educação
brasileiras é inestimável, consolidando-a como uma das figuras mais importantes
e inspiradoras da nossa história cultural. Sua voz poética, delicada e forte ao
mesmo tempo, continua a nos lembrar da beleza e da fragilidade da existência.
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