O fim de tarde emoldurava o teclado com uma luz dourada e suave, enquanto as melodias familiares de Schubert e Gounod flutuavam no ar. Não eram apenas notas musicais preenchendo o espaço, mas sim uma aura de reverência e beleza que emanava daquele piano. E ali estava ele, Júlio Gomez, um pianista sênior cujos dedos dançavam pelas teclas com a sabedoria de incontáveis horas dedicadas à música.
Seu post ecoou em minha mente enquanto o ouvia tocar e me reportei ao seu comentário íntegro, postado em 17 de abril de 2024: “MÚSICO não é quem toca um instrumento, mas aquele que através de um instrumento toca o CORAÇÃO das pessoas caríssimos amigos.” Que verdade profunda contida nessas palavras! Porque naquela tarde, não era apenas a técnica impecável que nos cativava, mas a emoção que transbordava de cada acorde, de cada pausa. Era a história de uma vida dedicada à música, a paixão incrustada em cada nuance, que alcançava nossos corações de maneira única.
As "Ave Marias", ambas tão distintas em sua melodia e ainda assim carregadas de uma mesma essência espiritual, ganhavam uma nova dimensão sob as mãos de Júlio. A melancolia doce de Schubert se misturava à súplica fervorosa de Gounod, criando uma tapeçaria sonora que nos transportava para um lugar de paz e contemplação. Era mais do que uma apresentação; era uma partilha da alma do músico, um presente generoso oferecido naquele crepúsculo.
Observava as rugas finas ao redor de seus olhos, marcas de incontáveis sorrisos e talvez algumas tristezas, todas agora vertidas naquela música. Cada toque parecia carregar uma memória, uma experiência, uma compreensão profunda da fragilidade e da beleza da vida. Não era apenas um pianista tocando; era um contador de histórias sem palavras, um artesão de emoções moldando o ar com a linguagem universal da música.
Naquele instante, compreendi plenamente o significado das palavras de Júlio. Ele não estava apenas executando peças clássicas; ele estava tecendo fios invisíveis que conectavam sua alma à nossa. Ele estava tocando nossos corações, despertando sentimentos adormecidos, elevando nosso espírito. E essa, meus caros amigos, é a verdadeira essência de um músico: a capacidade de transcender a mera execução técnica e alcançar a profundidade da experiência humana através de um instrumento.
Aquela tarde, de 17 de abril de 2025, embalada pelas “Ave-Marias" tocadas com a maestria e a sensibilidade de Júlio Gomez, foi uma prova viva dessa verdade. Uma relíquia preciosa para guardar na memória.
© Alberto
Araújo
17 de
abril de 2025, data em que o pianista postou as clássicas Ave-Marias. E eu
apreciei e apreciarei para sempre.
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