sábado, 8 de novembro de 2025

05 – ECOS DO PARNASO – ALBERTO FRANCISCO TORRES – A VOZ DE NITERÓI - FOCUS PORTAL CULTURAL

Há existências que não se encerram com o último sopro de vida. Permanecem como clarões na memória coletiva, como notas musicais que ecoam muito depois de finda a melodia. Alberto Francisco Torres foi uma dessas presenças: homem de palavra e ação, cuja trajetória se confunde com a própria respiração cultural de Niterói. 

Não se tratava apenas de um político ou de um advogado, mas de um espírito que compreendia a cidade como palco e a cultura como destino. Quem com ele convivia percebia logo que estava diante de um mestre generoso, capaz de transformar uma conversa cotidiana em aula de humanismo, entrelaçando referências à literatura universal, às sinfonias que atravessam séculos e ao cinema, paixão que lhe iluminava os olhos. 

O Focus Portal Cultural, sob a direção do jornalista Alberto Araújo, ao evocar a série Ecos do Parnaso, não apenas preserva nomes, mas reacende brasas que insistem em arder. Hoje, a chama se volta para Alberto Francisco Torres, cuja vida foi ponte entre tradição e modernidade, entre o rigor da lei e a leveza da arte, entre o silêncio das bibliotecas e o rumor das praças públicas.

Niterói é uma cidade que se abre como livro diante do mar. Suas praias são páginas onde o vento escreve histórias, e suas ladeiras guardam segredos de séculos. Foi nesse cenário que nasceu, em 09 de setembro de 1912, Alberto Francisco Torres. Ali também se despediu, em 25 de novembro de 1998, deixando como herança não apenas instituições, mas uma forma de ver o mundo. 

Filho de Antônio Francisco Torres e Maria Zulmira Torres, cresceu em uma família marcada pela vida pública. Seus irmãos também se destacaram: Paulo Francisco Torres, governador do Acre e do Rio de Janeiro, senador da República; Acúrcio Torres, deputado federal e constituinte. Alberto, porém, escolheu o caminho da palavra e do direito, compreendendo que a lei, quando iluminada pela cultura, pode ser instrumento de liberdade. 

Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (hoje UFRJ), Alberto Torres exerceu a advocacia em diversas comarcas: Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Rio Bonito e Rio de Janeiro. Mas sua vocação maior estava em unir o exercício da lei ao poder da comunicação. 

Em 1954, assumiu a direção do jornal O Fluminense. No ano seguinte, adquiriu o controle acionário e transformou o periódico em verdadeira instituição cultural. Criou o Grupo O Fluminense, que incluía rádio e, mais tarde, uma nova sede no coração da cidade. Sob sua liderança, o jornal tornou-se espelho da vida política e cultural fluminense, espaço de debate e resistência. 

Alberto compreendia que a imprensa não era apenas registro, mas instrumento de transformação social. Sua pena era espada e ponte: combatia injustiças e, ao mesmo tempo, aproximava mundos. 

Eleito deputado estadual e federal em diversas ocasiões, participou da elaboração da Constituição Federal de 1946, promulgada após o fim do Estado Novo e da Constituição Estadual do Rio de Janeiro de 1975, promulgada em 23 de julho de 1975. Sua atuação política foi marcada pela defesa da educação e da cultura. 

Como secretário estadual de Educação, no governo de Roberto Silveira, trabalhou pela valorização do magistério e foi um dos responsáveis pela criação da Universidade Federal Fluminense (UFF). A UFF não foi apenas uma instituição: foi um gesto de afirmação cultural, um marco que transformou Niterói em polo de saber e pesquisa. 

Paralelamente, sua carreira acadêmica floresceu. Foi professor titular de Direito Constitucional na Universidade Católica de Petrópolis, formando gerações de juristas e pensadores. Sua visão da educação como prática de liberdade ecoava em cada aula, em cada debate. 

Na vida literária, Alberto Torres foi presidente da Academia Fluminense de Letras de 1962 a 1970, ocupante da Cadeira 27, cujo fundador é Gomes Leite, e ocupantes: Alberto Lamego, atualmente, o ocupante da Cadeira é Célio Erthal Rocha. Foi presidente da Associação de Empresas de Radiodifusão do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Membro da Academia Niteroiense de Letras ocupou a Cadeira 34, Patronímica de Joaquim Norberto de Souza e Silva. Também ocupou a Cadeira 34, o acadêmico Sávio Soares de Sousa, atualmente a ocupante é Fernanda Sampaio empossada em 12 de dezembro de 2023. 

Alberto participou ativamente de instituições culturais e jurídicas. Sua presença era sempre marcada pela convicção de que Niterói deveria afirmar sua identidade própria, sem se reduzir à sombra do Rio de Janeiro.

Ao longo da vida, recebeu inúmeras homenagens e condecorações: Mérito Naval, Colar do Mérito Judiciário, Medalha João Mangabeira, Mérito Educacional. 

Sua memória permanece viva em instituições que levam seu nome: a Escola Municipal Alberto Torres, em Niterói; o Hospital Geral Alberto Torres, em São Gonçalo; e a Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres, que margeia a praia de Icaraí. 

Esses espaços não são apenas lembranças: são testemunhos de sua importância. Cada vez que alguém atravessa a avenida, cada vez que um paciente é atendido no hospital, cada vez que um aluno entra na escola, a memória de Alberto Torres se renova. 

Em 1987, foi homenageado como Intelectual do Ano pelo Grupo Mônaco de Cultura. Era o reconhecimento de uma trajetória que unia política, jornalismo, direito e literatura em um mesmo fio condutor: o compromisso com Niterói e com o Brasil. 

Sua vida foi música e pensamento, ação e palavra. Faleceu aos 86 anos, em 25 de novembro de 1998, mas sua presença continua a ecoar. Como escreveu o poeta Antonio Machado: “Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao andar.” Alberto fez caminho ao andar, e sua trilha permanece aberta para os que vêm depois. 

Alberto Torres faleceu aos 86 anos, em 25 de novembro de 1998. Pouco antes havia confiado à filha, que também  já é falecida Nina Rita Torres a presidência do Grupo O Fluminense. Nina Rita Torres Patrona da Cadeira 12, Classe de Ciências Sociais, na Academia Fluminense de Letras. 

E, como a história é feita de continuidade, após 38 anos, em 2025, seu sucessor na Academia Fluminense de Letras, o jornalista Erthal Rocha, é homenageado como Intelectual do Ano. Assim se reafirma que a chama acesa por Alberto Torres continua a iluminar os caminhos da cultura fluminense. 

Alberto Francisco Torres foi mais do que um homem público: foi um arqueiro da palavra, um arquiteto de pontes entre gerações. Sua voz não se apagou porque não era apenas dele: era da cidade, era da cultura, era de todos que acreditam que a educação e a arte são os verdadeiros pilares de uma sociedade livre.

Niterói, ao pronunciar seu nome, não apenas recorda um passado, mas reafirma um presente e projeta um futuro. Alberto Torres é, ainda hoje, a voz que ressoa nas esquinas, nos jornais, nas salas de aula, nos corredores das academias. Uma voz que não se apaga. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural

 










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