quarta-feira, 5 de novembro de 2025

ASSIS BRASIL - O ARQUITETO DAS PALAVRAS E DAS TRAVESSIAS LITERÁRIAS | FOCUS PORTAL CULTURAL

Crédito da Foto - Site do G1

Francisco de Assis Almeida Brasil, era conhecido no meio literário simplesmente como Assis Brasil nasceu em 18 de fevereiro de 1932 em Parnaíba, Piauí e faleceu em Teresina em 28 de novembro de 2021, aos 92 anos, foi mais que um escritor, foi um artífice da linguagem, um construtor de pontes entre o Piauí e o mundo, entre a tradição e a modernidade, entre o regional e o universal. 

Romancista, cronista, crítico literário e jornalista. Conforme a Academia Piauiense de Letras, o escritor teve uma intensa participação na imprensa nacional. Crítico Literário do Jornal do Brasil, 1956-1961; Colunista Literário do Caderno B do Jornal do Brasil 1963-64; Crítico Literário do Diário de Notícias, Rio, 1962- 63; Crítico Literário do Correio da Manhã (Revista Singra e Suplemento Literário), Rio, 1962 e 1972; Crítico Literário de O Globo (Arte e Crítica), 1969-1970; Colunista Literário da Revista O Cruzeiro, Rio, 1965-1976; Crítico Literário do Jornal de Letras, 1964-1989; artigos e ensaios nos seguintes órgãos culturais: Senhor, Mundo Nuevo, Revista do Livro, Leitura, Enciclopédia Bloch, Usina, suplemento de O Estado de São Paulo, Diário Carioca, Tribuna de Imprensa, Jornal do Comércio, Minas Gerais, Correio do Povo, O Povo. 

A vastidão de sua obra, que atravessa o romance, o ensaio, o conto, o livro infantojuvenil e o estudo crítico, revela um autor que nunca se contentou em apenas escrever histórias; ele pensava o próprio ato de narrar. 

Desde o início, com Aventura no Mar e Contos do Cotidiano Triste (ambos de 1955), Assis Brasil revelou um olhar atento à condição humana e às contradições da vida nordestina, ainda que envoltas em atmosferas de fábula ou cotidiano. Mas seria com Beira Rio, Beira Vida (1965) que ele firmaria sua marca mais profunda: um romance em que o Piauí deixa de ser cenário para se tornar símbolo de pertencimento, espaço de afetos e conflitos universais. 

Essa obra inaugura o que se poderia chamar de Tetralogia Piauiense, reunida mais tarde em 1979, com A Filha do Meio-Quilo, O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão. São narrativas que mergulham no sertão, não para repeti-lo, mas para recriá-lo em linguagem moderna, rompendo os limites do regionalismo e alcançando uma expressão de fôlego nacional. 

Enquanto romancista, Assis Brasil foi um cronista da alma sertaneja, mas como ensaísta e crítico literário, tornou-se um intérprete da literatura brasileira e universal. Seus estudos sobre Faulkner, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Joyce — reunidos em obras como Faulkner e a Técnica do Romance (1964), Joyce, o Romance com Forma (1971) e A Técnica da Ficção Moderna (1982), revelam uma mente inquieta, comparatista, sempre em busca das estruturas invisíveis que sustentam a arte da narrativa. 

Em cada ensaio, ele examina o romance como se fosse um organismo vivo, pulsante, que respira entre o estilo e o pensamento. É essa visão que lhe dá um lugar de destaque entre os grandes críticos do século XX. 

Mas Assis Brasil não se limitou à ficção adulta. Sua série “Aventuras de Gavião Vaqueiro”, iniciada em Um Preço pela Vida (1980) e expandida em mais de vinte volumes, introduziu gerações de leitores jovens à aventura literária, unindo o espírito nordestino à imaginação universal. Nesse ciclo infantojuvenil, o autor projeta no menino-herói a síntese do homem piauiense — corajoso, ético, resiliente e, sobretudo, sonhador.

 

Essas narrativas, embora voltadas ao público jovem, mantêm a densidade simbólica e a qualidade literária de seus romances adultos, o que faz de Assis Brasil um dos raros escritores brasileiros que transitam com igual vigor entre o erudito e o popular. 

No campo dos romances históricos, como Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos (1990), Villegagnon: Paixão e Guerra na Guanabara (1991), Paraguaçu e Caramuru (1995) e Bandeirantes, os Comandos da Morte (1999), Assis Brasil reinventou a história do Brasil com a liberdade de um ficcionista. 

Não se tratava de recontar fatos, mas de humanizar as personagens e iluminar os silêncios da memória nacional. O passado, em suas mãos, tornava-se matéria viva, impregnada de poesia e filosofia.

 

Além da ficção e da crítica, Assis Brasil foi educador de gerações. Obras como Redação e Criação (1978) e Teoria e Prática da Crítica Literária (1995) mostram seu compromisso com o ensino e a formação de novos leitores e escritores. Seu Dicionário Prático de Literatura Brasileira e suas antologias poéticas regionais (como A Poesia Piauiense no Século XX e A Poesia Baiana no Século XX) constituem um mapa literário do país, traçado com rigor e sensibilidade.

Ao longo de mais de cem livros, o que se vê é uma coerência invisível: Assis Brasil constrói uma obra que pensa o Brasil pelas margens, da beira-rio à beira-mar, do sertão ao cosmos.

Sua escrita é ao mesmo tempo reflexão e invenção, crítica e criação, documento e sonho. O menino piauiense que um dia olhou o rio Parnaíba viu ali não só a paisagem natal, mas o espelho do mundo literário que viria a construir. 

Hoje, seu legado se projeta como o de um arquiteto da literatura brasileira, cuja obra ultrapassa rótulos e fronteiras. Assis Brasil é um nome que pertence ao Piauí por origem, mas ao Brasil por destino e à eternidade por mérito. 

OBRAS DE ASSIS BRASIL EM ORDEM CRONOLÓGICA 

1955 – Aventura no Mar (Verdes Mares Bravios) – infantojuvenil, Editora Melhoramentos, São Paulo.

1955 – Contos do Cotidiano Triste – contos, Editora Universitária, Rio de Janeiro.

1964 – Faulkner e a Técnica do Romance – ensaio, Editora Leitura, Rio de Janeiro.

1965 – Beira Rio, Beira Vida – romance, Editora O Cruzeiro, Rio de Janeiro.

1966 – A Filha do Meio-Quilo – romance, Editora O Cruzeiro, Rio de Janeiro.

1967 – Cinema e Literatura – ensaio, Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro.

1968 – O Salto do Cavalo Cobridor – romance, Editora O Cruzeiro, Rio de Janeiro.

1969 – Pacamão – romance, Bloch Editores, Rio de Janeiro.

1969 – Graciliano Ramos – ensaio, Organizações Simões, Rio de Janeiro.

1969 – Adonias Filho – ensaio, Organizações Simões, Rio de Janeiro.

1969 – Guimarães Rosa – ensaio, Organizações Simões, Rio de Janeiro.

1969 – Clarice Lispector – ensaio, Organizações Simões, Rio de Janeiro.

1970 – Ulisses, o Sacrifício dos Mortos – novela, Livros do Mundo Inteiro, Rio de Janeiro.

1971 – Carlos Drummond de Andrade – ensaio, Livros do Mundo Inteiro, Rio de Janeiro.

1971 – Joyce, o Romance com Forma – ensaio, Livros do Mundo Inteiro, Rio de Janeiro.

1973 – A Nova Literatura (O Romance) – ensaio, Companhia Editora Americana.

1974 – A Volta do Herói – novela, Expressão e Cultura, Rio de Janeiro.

1975 – Os que Bebem com os Cães – romance, Nórdica, Rio de Janeiro.

1975 – A Rebelião dos Órfãos – novela, Artenova, Rio de Janeiro.

1975 – Tiúbe, a Mestiça – novela, Atual Editora, São Paulo.

1975 – A Vida Não é Real – contos, Clube do Livro, São Paulo.

1975 – A Nova Literatura (A Poesia) – ensaio, Companhia Editora Americana.

1975 – A Nova Literatura (O Conto) – ensaio, Companhia Editora Americana.

1975 – A Nova Literatura (A Crítica) – ensaio, Companhia Editora Americana.

1976 – O Aprendizado da Morte – romance, Nórdica, Rio de Janeiro.

1976 – O Modernismo – ensaio, Companhia Editora Americana.

1978 – Deus, o Sol, Shakespeare – romance, Nórdica, Rio de Janeiro.

1978 – Redação e Criação – didático, Nórdica, Rio de Janeiro.

1978 – Dicionário Prático de Literatura Brasileira – paradidático, Ediouro, Rio de Janeiro.

1979 – Tetralogia Piauiense – reunião dos romances Beira Rio Beira Vida, A Filha do Meio-Quilo, O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão, Nórdica, Rio de Janeiro.

1979 – Vocabulário Técnico de Literatura – paradidático, Ediouro, Rio de Janeiro.

1980 – Os Crocodilos – romance, Nórdica, Rio de Janeiro.

1980 – O Livro de Ouro da Literatura Brasileira (400 anos de história literária) – paradidático, Ediouro, Rio de Janeiro.

1980 – Um Preço pela Vida (Aventuras de Gavião Vaqueiro) – infantojuvenil, Melhoramentos/Salamandra.

1980 – O Primeiro Amor (Aventuras de Gavião Vaqueiro) – infantojuvenil, Melhoramentos.

1980 – O Velho Feiticeiro (Aventuras de Gavião Vaqueiro) – infantojuvenil, Melhoramentos.

1982 – O Destino da Carne – romance, Nórdica, Rio de Janeiro.

1982 – A Viagem da Vida – reunião de novelas infantojuvenis, Melhoramentos, São Paulo.

1982 – A Técnica da Ficção Moderna – ensaio, Nórdica, Rio de Janeiro.

1982 – Tonico e Carniça – infantojuvenil, Ática, São Paulo.

1983 – Mensagem às Estrelas – infantojuvenil, Ediouro, Rio de Janeiro.

1983 – Estilos e Meios de Comunicação – paradidático, Ediouro, Rio de Janeiro.

1984 – Ciclo de Terror – reunião de romances (Os que Bebem com os Cães, O Aprendizado da Morte, Deus, o Sol, Shakespeare e Os Crocodilos), Nórdica.

1984 – O Mistério de Kanitei – infantojuvenil, Ediouro.

1984 – Zé Carrapeta, o Guia do Cego – infantojuvenil, Ediouro.

1984 – O Menino-Candeeiro – infantojuvenil, Ediouro.

1984 – Dicionário do Conhecimento Estético – paradidático, Ediouro.

1985 – Sodoma Está Velha – romance, Nórdica, Rio de Janeiro.

1985 – Os Desafios de Kaíto – infantojuvenil, Ediouro.

1985 – O Camelô São Joaquim – infantojuvenil, Atual Editora.

1985 – A Fala da Cor na Dança do Beija-Flor – infantojuvenil, Companhia Editora Nacional.

1985 – Contatos Imediatos dos Besouros Astronautas (O Menino do Futuro) – infantojuvenil, Nórdica/Vigília.

1986 – O Destino é Cego (Aventuras de Gavião Vaqueiro) – infantojuvenil, Melhoramentos.

1986 – A Primeira Morte (Aventuras de Gavião Vaqueiro) – infantojuvenil, Melhoramentos.

1986 – Na Trilha das Esmeraldas (Aventuras de Gavião Vaqueiro) – infantojuvenil, Melhoramentos.

1986 – Neném-Ruço – infantojuvenil, Atual Editora.

1987 – Histórias do Rio Encantado – contos, FTD, São Paulo.

1987 – O Cantor Prisioneiro – infantojuvenil, Moderna, São Paulo.

1987 – Arte e Deformação (Como Entender a Estética Moderna) – ensaio, Companhia Editora Nacional.

1988 – O Prestígio do Diabo – romance, Melhoramentos.

1988 – Pequeno Pássaro com Frio – infantojuvenil, Editora do Brasil.

1988 – Novas Aventuras de Zé Carrapeta – infantojuvenil, Record.

1988 – Aventuras de Gavião Vaqueiro – reunião de histórias, Círculo do Livro.

1989 – O Mistério da Caverna da Coruja Vegetariana – infantojuvenil, RHJ Livros.

1989 – Lobo Guará, Meu Amigo – infantojuvenil, Contexto.

1990 – Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos – romance histórico, Rio Fundo Editora.

1990 – O Mistério do Punhal Estrela – infantojuvenil, Scipione.

1990 – Manuel e João, Dois Poetas Pernambucanos – ensaio, Imago.

1991 – Perigo na Missão Rondon – infantojuvenil, Moderna.

1991 – Os Esqueletos do Amazonas – infantojuvenil, José Olympio.

1991 – Missão Secreta na Transamazônica – infantojuvenil, RHJ Livros.

1991 – Villegagnon: Paixão e Guerra na Guanabara – romance histórico, Rio Fundo.

1991 – Caminhos para a Imortalidade – ensaio, Hólon Editorial.

1992 – Joyce e Faulkner: O Romance da Vanguarda – ensaios reunidos, Imago.

1992 – Vocabulário de Ecologia – paradidático, Ediouro.

1992 – O Tesouro da Cidade Fantasma – infantojuvenil, Imago.

1992 – Jovita: Missão Trágica no Paraguai – romance histórico, Notyra.

1993 – Tiradentes, Poder Oculto o Livrou da Forca – romance histórico, Imago.

1994 – Redação para o Vestibular – didático, Imago.

1994 – A Caçadora do Araguaia – infantojuvenil, Salamandra.

1994 – O Sábio e o Andarilho – infantojuvenil, Nova Fronteira.

1994 – Quatro Orelhas: Um Guerreiro Craô – infantojuvenil, Ao Livro Técnico.

1994 – A Poesia Maranhense no Século XX – antologia, Imago.

1994 – Coração de Jacaré – infantojuvenil, Salamandra.

1994 – Os Habitantes no Espelho – infantojuvenil, José Olympio.

1995 – Os Nadinhas – infantojuvenil, Scipione.

1995 – A Poesia Piauiense no Século XX – antologia, Imago.

1995 – Teoria e Prática da Crítica Literária – ensaio, Topbooks.

1995 – Yakima, o Menino-Onça – infantojuvenil, Saraiva.

1995 – O Segredo do Galo-Madrinha – infantojuvenil, Scipione.

1995 – Paraguaçu e Caramuru: Paixão e Morte da Nação Tupinambá – romance histórico, Rio Fundo.

1995 – A Sabedoria da Floresta – infantojuvenil, Scipione.

1996 – A Poesia Cearense no Século XX – antologia, Imago.

1996 – Os Desafios do Rebelde – infantojuvenil, Saraiva.

1997 – A Poesia Goiana no Século XX – antologia, Imago.

1997 – Jeová Dentro do Judaísmo e do Cristianismo – ensaio, Imago.

1998 – A Poesia Amazonense no Século XX – antologia, Imago.

1998 – A Poesia Fluminense no Século XX – antologia, Imago.

1998 – O Sol Crucificado – novelas, Imago.

1998 – A Poesia Norte-Riograndense no Século XX – antologia, Imago.

1998 – Corisco, o Último Cavalo Selvagem – infantojuvenil, Saraiva.

1998 – A Poesia Mineira no Século XX – antologia, Imago.

1998 – A Poesia Sergipana no Século XX – antologia, Imago.

1998 – A Poesia Espírito-Santense no Século XX – antologia, Imago.

1999 – A Poesia Baiana no Século XX – antologia, Imago.

1999 – Bandeirantes, os Comandos da Morte – romance histórico, Imago.

1999 – Paraguaçu e Caramuru / Villegagnon – edição conjunta, Imago.

2000 – Nassau / Jovita, a Joana d’Arc Brasileira – edição conjunta, Imago.

2001 – A Vida Pré-Humana de Jesus – O Mistério da Imortalidade – ensaio, Imago.

2001 – Apocalipse – A Espécie Terminal – ensaio, Imago.

2001 – Mário Faustino: Do Piauí para o Mundo – ensaio, Jornal Meio Norte, Teresina.

OUTRAS OBRAS

2001 – Herberto Sales: Regionalismo e Utopia – ensaio, Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro.

2001 – O pintor de retratos — ensaio/romance. Jornal do Comércio

2003 – A margem imóvel do rio — romance. Rede Humaniza

2006 – Música perdida — obra de ficção. Rede Humaniza

2008 – Ensaios íntimos e imperfeitos — ensaios, não-ficção. Jornal do Comércio

2012 – Figura na sombra — ficção. Jornal do Comércio

2016 – O inverno e depois — ficção. Jornal do Comércio


 






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