domingo, 16 de novembro de 2025

LUÍS CLÁUDIO PORTUGAL DO NASCIMENTO - A ARQUITETURA DO PENSAMENTO EM DESIGN - RESENHA POR ALBERTO ARAÚJO

O texto em si apresenta quatro volumes densos, quase monumentais, que não apenas ocupam espaço físico, ocupam também um território intelectual raro e exigente. São livros que não se leem com pressa, que não se folheiam como manuais, mas que se enfrentam como tratados. As obras de Luís Cláudio Portugal do Nascimento revelam um pensamento que se constrói como projeto: metódico, crítico, lírico e estrutural. 

O primeiro volume, intitulado: “Manual de Teoria do Design” o método de ensino de projeto em design com base na estrutura do ponto de design, é uma espécie de pedra angular. Nele, Cláudio Portugal propõe uma abordagem didática que parte da menor unidade significativa do projeto, o “ponto de design” como célula geradora de forma, sentido e função. Trata-se de uma tentativa ousada de sistematizar o ensino do design a partir de uma estrutura mínima, quase atômica, que permite a construção de projetos complexos por meio de articulações progressivas. O ponto de design, nesse contexto, não é apenas um elemento gráfico ou geométrico: é um conceito epistemológico, uma unidade de pensamento projetual.

Os volumes seguintes: “Método de ensino do método de pesquisa científica em design” e “Método de ensino do método de projeto em design – estrutura geral do método de projeto clássico em geral”, são desdobramentos dessa proposta. A repetição nos títulos não é redundância, mas uma estratégia enfática: Cláudio Portugal propõe uma pedagogia que se debruça sobre o próprio ato de ensinar, revelando camadas reflexivas sobre o método, sua transmissão e sua estrutura. 

Esses livros aprofundam a metodologia proposta, oferecendo desdobramentos teóricos e aplicações práticas que dialogam com a história do design, com a crítica da forma e com a ética da criação. 

O quarto volume: “Tratado geral ilustrado do conceito de módulo em design:  a restrição da livre variabilidade não imprescindível da forma” é ainda mais ambicioso. Cláudio Portugal se lança em uma empreitada quase filosófica: construir uma ciência do módulo. O módulo, nesse contexto, não é apenas uma unidade de medida ou repetição, mas um princípio organizador, uma chave para decifrar as leis estruturais que regem a forma no design. 

O livro propõe uma teoria unificada da modularidade, articulando conceitos de proporção, ritmo, escala, função e representação. A presença da palavra “tratado” no título não é casual: trata-se de um texto que aspira à totalidade, que busca sistematizar um campo de conhecimento com precisão e profundidade. O adjetivo “ilustrado” também é significativo, não apenas porque o livro contém imagens, mas porque a ilustração é aqui entendida como forma de pensamento visual, como modo de raciocínio gráfico.

As capas dos livros, dispostas sobre uma mesa em ambiente doméstico, revelam não apenas a materialidade da obra, mas também sua arquitetura conceitual. 

Três volumes horizontais, dedicados ao design gráfico, de produto e de comunicação, indicando uma proposta epistemológica singular. 

O quarto volume, erguido como um obelisco, apresenta-se como um tratado ilustrado sobre o módulo, conectando teoria estrutural à prática histórica do design gráfico. 

Essas obras são expressão de uma trajetória intelectual marcada pela interdisciplinaridade e pela radicalidade metodológica. Cláudio não se contenta com os caminhos já trilhados, ele propõe novos mapas, novas gramáticas, novas arquiteturas conceituais. Seu pensamento é ao mesmo tempo técnico e poético, analítico e especulativo, rigoroso e inventivo. 

Essa produção está profundamente conectada à sua biografia. Nascido em Niterói, Rio de Janeiro, em 1960, Luís Cláudio Portugal do Nascimento é um dos nomes mais singulares e multifacetados do pensamento em design no Brasil. Desenvolve projetos na área de design, vídeo, ilustração e animação.

Graduou-se em comunicação visual e desenho industrial pela ESDI-UERJ, onde desenvolveu um sistema de cadeiras especiais para músicos de orquestras sinfônicas, revelando desde cedo sua atenção à ergonomia, à funcionalidade e à poética do objeto. 

Em Paris, obteve na École Nationale Supérieure d'Arts et Métiers (Ensam) a Attestation d'Étude Approfondie, com um projeto inovador de guarda-volumes automático para espaços públicos, imune a atentados terroristas. Em Nova York, doutorou-se em educação de artes pela New York University, com uma tese sobre a ensinabilidade da ética em escolas de design, tema que atravessa toda sua produção acadêmica. 

Lecionou em instituições como UnB, PUC-Rio, Unicamp e ESDI-UERJ, e desde os anos 2000 atua na FAU-USP, onde contribui para a formação de gerações de designers, arquitetos e pensadores visuais. Sua formação complementar inclui pintura, cerâmica, fotografia, teatro, canto, ballet clássico, teoria da cor, impostação vocal e datilografia, uma travessia entre linguagens que desenha a figura de um pensador que habita as fronteiras entre arte, ciência e educação.

Seus projetos de pesquisa em curso abordam temas como: Uma teoria geral dos fenômenos do absolutismo e do relativismo, com implicações para a crítica, a cultura e o design; Um modelo abstrato da inter-relação entre qualidade e quantidade, com aplicações ao pensamento educacional; A análise do impacto de alterações estimáveis em variáveis contínuas sobre variáveis descontínuas em fases não estimáveis; A elaboração de um manual de teoria do design; O desenvolvimento de métodos de ensino da metodologia de pesquisa e do método clássico de projeto em design. 

Esses livros são laboratórios de ideias, oficinas de pensamento, estúdios de crítica. A materialidade dos volumes, sua espessura, seu peso, sua presença física, também é significativa. São livros que exigem tempo, atenção, dedicação. Não se trata de consumo rápido, mas de imersão profunda. Ler Cláudio Portugal é entrar em um universo onde cada conceito é uma peça, cada argumento é uma engrenagem, cada página é um módulo.

Pela excelência de sua produção em ensino, pesquisa e extensão, recebeu o título de Livre-Docente pela Universidade de São Paulo, distinção que representa o coroamento de uma trajetória dedicada à formação crítica, à inovação metodológica e ao compromisso ético com o conhecimento. 

Luís Cláudio Portugal do Nascimento não apenas escreve sobre design, ele projeta o pensamento. E seus livros são os edifícios onde esse pensamento habita.

 

APRESENTAÇÃO: 

Para quem não conhece o Cláudio Nascimento, esse fenômeno na arte gráfica, ele é filho da nossa companheira Dalma Nascimento.


© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural

 




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