No quadro EFEMÉRIDES do Focus Portal Cultural, uma homenagem inspirada e dedicada pelo jornalista Alberto Araújo aos grandes nomes que fazem a riqueza da cultura e da história, celebramos neste 16 de novembro os 103 anos do nascimento de José Saramago.
Esse espaço que revive datas e personalidades transcende o simples registro cronológico e se transforma em um ritual de memória e reconhecimento; um convite à reflexão sobre legados que continuam a pulsar no presente. Neste dia, reverenciamos um autor cuja obra e pensamento irradiam uma influência que ultrapassa o tempo e o espaço, um verdadeiro colosso das letras portuguesas e da literatura universal.
José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga, Portugal. Seu percurso foi uma trajetória singular marcada pela paixão absoluta pela palavra e pelo compromisso inesgotável com a verdade da condição humana. Em 1998, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, uma consagração que elevou seu nome ao patamar dos maiores escritores de todos os tempos. Mas Saramago não foi apenas um romancista premiado; foi um renovador da linguagem e dos modos de contar histórias, um pensador crítico que usou sua pena para desnudar as contradições da sociedade, as fragilidades do ser humano e as injustiças históricas.
Sua obra, reconhecida por um estilo inovador e provocador, rompe com padrões convencionais: longos períodos entrelaçados, diálogos imersos no fluxo do pensamento, ausência de sinalização formal de discurso, tudo isso para criar um ritmo único, quase hipnótico, que conjuga ironia e poesia, crítica social e profunda humanidade. Essa forma instigante coloca o leitor diante do desafio de abandonar a passividade, de se envolver plenamente com as tramas e emaranhados das histórias que ele constrói.
Entre suas obras mais emblemáticas está "Ensaio sobre a Cegueira", uma alegoria inquietante e perturbadora que narra a súbita epidemia de uma cegueira branca que atinge uma população inteira. A narrativa quase apocalíptica transcende a pura ficção para se tornar um espelho das fragilidades sociais, morais e éticas do mundo moderno. O livro revela, com brutal honestidade, como a civilização pode ruir perante o medo, a intolerância e o egoísmo, ressaltando a urgência da empatia e da solidariedade. Em momentos históricos recentes, essa obra atravessou gerações e idiomas para se mostrar mais atual e essencial do que nunca.
Outro marco literário de Saramago é “Memorial do Convento”, onde ele mescla magistralmente história, lenda e ficção para traçar um retrato das contradições portuguesas no século XVIII. O romance celebra a resistência do espírito humano frente aos poderes absolutistas e à opressão, além de recuperar memórias históricas muitas vezes esquecidas ou deturpadas. Sua narrativa é também um canto de amor e esperança, uma demonstração do poder da imaginação para resgatar a identidade e desafiar o esquecimento.
Além de sua riqueza literária, Saramago se destacou por seu intransigente posicionamento político e ético. Conhecido por seu espirituoso ativismo, ele jamais se eximiu do papel de intelectual público, defendendo causas humanitárias, questionando regimes e denunciando injustiças com coragem e clareza. Seu pensamento crítico ressoa como um chamado contra a alienação, estimulando o leitor a desenvolver uma consciência ativa e comprometida. Para ele, a literatura era uma ponte entre a arte e a vida, uma ferramenta poderosa para desvendar a realidade e promover transformações sociais.
Neste momento em que refletimos sobre sua obra e legado, a efeméride do Focus Portal Cultural através do jornalista Alberto Araújo reincide no papel vital da memória cultural, daquele ato de celebrar para manter vivos os ensinamentos dos que vieram antes. A voz de Saramago ecoa em inúmeros leitores, escritores e pensadores, desencadeando novas perguntas e perspectivas. Ele nos mostra que a literatura não é mero entretenimento, mas um diálogo permanente com a humanidade, uma provocação para que nunca deixemos de pensar, sentir e agir.
Ao comemorarmos 103 anos de José Saramago, renovamos o nosso compromisso com a arte que transforma e com a palavra que liberta. Que seu exemplo de coragem intelectual e sensibilidade continue a inspirar todas as gerações a buscarem, em meio ao caos e à complexidade do mundo, a luz da sabedoria e da esperança. José Saramago permanece, hoje e sempre, um farol incansável que ilumina os caminhos da cultura, da ética e da imaginação.
© Alberto Araújo

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