Há projetos que não apenas abrolham, eles florescem. E há mulheres que não apenas vivem, elas eternizam. Assim é o projeto “Mulheres Extraordinárias — O resgate histórico do legado pela palavra escrita”, idealizado e conduzido com maestria pela jornalista e presidente mundial da Rede Sem Fronteiras, Dyandreia Portugal. Em sua quarta edição, a obra transcende o papel de uma simples coletânea literária: ela se ergue como um monumento à memória feminina, um altar onde o passado e o presente se entrelaçam em reverência e inspiração.
Desde seu lançamento oficial na Feira do Livro de Lisboa, o volume 4 da coletânea tem cruzado fronteiras geográficas e emocionais. Agora, em novembro, será a vez da Cidade Maravilhosa acolher esse relicário de histórias durante a Confraternização de Final de Ano da Rede Sem Fronteiras, sob a organização da Vice-Presidente Cultural Mundial, Ana Maria Tourinho. Um evento reservado, mas de alcance simbólico imensurável, onde serão celebradas não apenas as homenageadas da obra, mas também os laços que unem escritoras, leitores e instituições em torno de um ideal comum: dar voz àquelas que, por muito tempo, foram silenciadas pela história oficial.
Dyandreia Portugal, com sua sensibilidade e visão, não apenas coordena, ela pulsa com o projeto. Em um vídeo comovente, ela compartilha sua jornada como autora desta edição, revelando a escolha de sua homenageada: Inês de Castro. “Agora é tarde, Inês é morta!” Inês de Castro, a primeira e única Rainha póstuma de Portugal, páginas de 211 a 234.
E é nesse ponto que o lirismo do projeto atinge seu ápice. Porque falar de Inês é falar de um amor que desafiou a morte, de uma mulher que, mesmo assassinada, foi coroada rainha de Portugal. É falar de um sentimento que atravessou séculos e que, sob a pena de Dyandreia, ganha contornos de eternidade.
A história de Inês de Castro e Dom Pedro I de Portugal é mais do que um romance trágico, é uma epopeia de paixão, poder e destino. Inês, dama de companhia da esposa do infante Pedro, tornou-se seu grande amor. Mas o coração não obedece à razão, e o escândalo político que se seguiu culminou em sua execução brutal. Pedro, tomado pela dor e pela fúria, vingou-se dos assassinos e, mais tarde, declarou Inês sua legítima esposa, mandando exumar seu corpo para que fosse coroada rainha postumamente. Um gesto que mistura loucura e devoção, mas que eternizou o nome de Inês na história e na literatura.
Dyandreia, ao escolher Inês como sua homenageada, não apenas resgata uma figura histórica, ela a reconstrói com a delicadeza de quem compreende que o passado é feito de carne, sangue e sentimentos. Seu capítulo, um dos mais extensos da obra, é fruto de uma pesquisa apaixonada que começou anos antes, quando visitou os túmulos de Inês e Pedro no Mosteiro de Alcobaça. Ali, diante das sepulturas voltadas uma para a outra, para que, no Juízo Final, os amantes se reencontrem com o primeiro olhar, nasceu a semente de um texto que hoje floresce nas páginas de “Mulheres Extraordinárias”.
Mas o que torna esse projeto ainda mais grandioso é sua capacidade de reunir 102 autoras de diferentes origens, todas unidas pelo desejo de iluminar trajetórias femininas que, embora esquecidas por muitos, são fundamentais para compreendermos a construção da sociedade contemporânea. Cada capítulo é uma vela acesa na escuridão do esquecimento. Cada palavra, um gesto de justiça poética.
Dyandreia Portugal, com sua liderança generosa e seu compromisso com a cultura, transforma a Rede Sem Fronteiras em um verdadeiro farol de protagonismo feminino. Ela não apenas coordena, ela inspira. Sua fala, carregada de emoção e consciência histórica, revela o quanto esse projeto é também um espelho onde cada autora se vê refletida, reconhecendo em si mesma a força das mulheres que homenageia.
E é nesse espelho que também me vejo, tenho uma crônica e um ensaio literário sobre essa história, escritas por vez, moro ao lado do edifício Inês de Castro em Icaraí, está publicada em minha revista cultural. Porque, ao escrever sobre Inês de Castro e Dom Pedro, mergulhei em um oceano de sentimentos que ultrapassam o tempo. Descobri que o amor, quando verdadeiro, não se curva à morte. E que a escrita, quando comprometida com a memória, é capaz de ressuscitar vozes, restaurar dignidades e reencantar o mundo.
“Mulheres Extraordinárias” não é apenas um livro. É um ato de resistência. É um coro de vozes femininas que se recusam a ser silenciadas. É um convite à reflexão, à empatia e à celebração da diversidade de experiências que moldam o feminino em todas as suas formas.
Que este volume 4 continue a sua travessia pelo mundo, tocando corações, despertando consciências e inspirando novas gerações de mulheres, extraordinárias por natureza, por história e por direito.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural






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