Hoje cedo recebi o feedback de Riva. Um sábado de chuviscos e de um sol tímido, desses que parecem guardar segredos nas ondas. E ali, entre palavras afetuosas e lembranças vivas, ela compartilhou no grupo Companheiros Elistas a sua história, uma travessia silenciosa que começou aos 18 anos, quando deixou Itaperuna rumo a Niterói, trazendo na bagagem sonhos, coragem e uma vontade imensa de vencer.
“Bom dia de sábado!! Você, companheiro Alberto, com sua linda mensagem sobre a encantadora Praia das Flechas também tocou meu coração, ao me recordar do ano que cheguei a Niterói vindo morar no bairro do Ingá, numa casa bem em frente à Praia das Flechas, com a finalidade de prestar Vestibular UFF Direito. Menina, jovem aos 18 anos, saindo da cidade do interior Itaperuna, deixando pais e família para viver novas experiências na pacata Niterói, antes da construção da Ponte Rio-Niterói. Todas as manhãs eu admirava por alguns minutos a beleza do mar, porém o tempo de contemplação era curto, pois o objetivo principal era estudar para o sucesso no Vestibular, alegria futura com a aprovação. Mas aqueles bons momentos continuam inesquecíveis para mim até os dias de hoje. Aplausos para sua Crônica. Parabéns!!!” — Riva
Riva chegou ao bairro do Ingá com um propósito claro: estudar para o vestibular de Direito da UFF. Mas o destino, sempre generoso com os que se lançam ao desconhecido, lhe ofereceu mais do que livros e provas. Ofereceu uma casa em frente à Praia das Flechas. E ali, entre os compromissos do estudo e a disciplina da rotina, ela encontrou um refúgio breve e poderoso: o mar.
Todas as manhãs, antes de mergulhar nos códigos e constituições, Riva contemplava o oceano. Eram minutos apenas, talvez dois, talvez cinco, mas suficientes para que a alma respirasse. A Praia das Flechas, com sua extensão modesta e beleza serena, tornava-se então uma espécie de bênção silenciosa. Um aceno da natureza dizendo: “Vai, menina. Estuda. Mas não esquece de olhar para mim.”
Naquela época, Niterói ainda era pacata. A Ponte Rio-Niterói não havia sido construída, e a cidade guardava um ritmo mais lento, quase interiorano. Para Riva, vinda de Itaperuna, havia uma familiaridade no silêncio das ruas, mas também uma novidade vibrante no horizonte marítimo. Era como se o mar lhe dissesse que o mundo era maior do que ela imaginava, e que ela podia, sim, conquistá-lo.
A Praia das Flechas, que já havia sido cenário de memórias de Gilda Uzeda, com seus cardumes de peixes, botos e arraias, agora ganhava outra camada de significado. Tornava-se testemunha de uma juventude em busca de futuro. E o mar, sempre presente, assistia em silêncio aos passos de uma jovem que, entre saudade e determinação, construía sua própria história.
Riva não ficou muito tempo ali. Mas o tempo que ficou foi suficiente para marcar sua alma. Hoje, ao ler minha crônica, ela se emocionou. E eu, ao ler sua resposta, entendi que há lugares que não apenas nos abrigam, eles nos moldam. A Praia das Flechas foi, para ela, mais do que cenário. Foi companhia. Foi consolo. Foi inspiração.
E é isso que me encanta nas memórias compartilhadas. Elas revelam que cada praia, cada rua, cada janela pode ser o centro do mundo para alguém. Que o mar, mesmo repetido, nunca é o mesmo, porque quem o olha também muda. E que a juventude, com seus medos e esperanças, encontra na paisagem um espelho e um abrigo.
Riva, sua história é poesia. É crônica viva. É testemunho de que o mar não apenas banha a cidade, ele também lava a alma. Obrigado por compartilhar. Obrigado por lembrar. E obrigado por mostrar que a Praia das Flechas continua sendo, para tantos, um lugar onde o tempo se curva e a memória floresce.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural

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