quarta-feira, 9 de julho de 2025

45 ANOS DE SAUDADE - VINICIUS DE MORAES, O POETA QUE FEZ DA VIDA UM POEMA

 

No dia 09 de julho de 1980, o Brasil se despedia de um dos maiores alquimistas da palavra e da canção: Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, o eterno Poetinha. Quarenta e cinco anos depois, a sua ausência é só aparente, pois sua poesia continua viva nas esquinas do samba, no balanço da bossa nova e na memória afetiva de quem já sentiu o poder de um verso bem escrito. 

Poeta, diplomata, compositor, dramaturgo, jornalista, cantor. Vinicius foi tudo isso, mas foi, antes de tudo, alguém que entendeu que viver é arte, e amar é a maior de todas as artes. 

Homem de paixões intensas e de amores incontáveis, Vinicius transformou cada suspiro em matéria-prima para poemas e canções que atravessaram gerações: de “Soneto de Fidelidade” a “Garota de Ipanema”, de “Chega de Saudade” a “Tarde em Itapoã”. 

Amigo de nomes como Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, Chico Buarque e tantos outros, ele foi ponte entre o lirismo clássico dos sonetos e a leveza moderna da bossa nova, entre a boemia dos bares cariocas e o refinamento dos palcos internacionais.

Filho da Gávea, nascido em 1913, Vinicius seguiu a vida com intensidade rara. Viveu em diplomacia, cantou em palcos, escreveu nas madrugadas e fez da própria trajetória um ato contínuo de criação. A sua poesia não se perdeu no tempo: ecoa nos violões, nos corações e nas lembranças que o mantém imortal. 

Hoje, ao relembrarmos seus 45 anos de ausência, celebramos não apenas o poeta que se foi, mas o homem que nos deixou a mais preciosa herança: a certeza de que a vida só vale se for vivida com amor, beleza e poesia. 

VINICIUS DE MORAES: O POETA QUE TRANSFORMOU VIDA EM CANÇÃO 

Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro. Filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário público e violinista amador, e Lydia Cruz de Moraes, pianista, Vinicius cresceu cercado de livros, música e afeto — ingredientes que moldariam para sempre sua sensibilidade.

Desde cedo, demonstrou interesse pela escrita. Na juventude, ingressou no Colégio Santo Inácio, onde participou do coral e encenou peças teatrais. Em 1929, entrou para a Faculdade de Direito do Catete, formando-se em 1933. Nesse mesmo ano, lançou seu primeiro livro de poemas: "O Caminho para a Distância", iniciando uma trajetória literária que nunca abandonaria. 

Ainda jovem, frequentou rodas culturais com nomes como Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, convivência que alimentou sua vocação poética. Em 1938, Vinicius ganhou uma bolsa para estudar literatura inglesa na Universidade de Oxford, na Inglaterra, o que ampliou seu repertório intelectual e artístico.

Em 1943, Vinicius ingressou na carreira diplomática, servindo em Los Angeles, Paris, Roma e Montevidéu. Entre documentos oficiais e recepções, ele jamais deixou de escrever — lançando livros como “Cinco Elegias” (1943) e “Poemas, Sonetos e Baladas” (1946).

Mesmo como diplomata, manteve o espírito inquieto: fez crítica de cinema, roteirizou filmes, escreveu peças e compôs letras de música. Em 1968, foi aposentado compulsoriamente pelo regime militar, acusado de "comportamento boêmio" — episódio que o magoou profundamente, mas que não conteve seu ímpeto criativo. 

A música foi o campo onde Vinicius atingiu maior popularidade. Em 1956, escreveu a peça “Orfeu da Conceição”, cuja trilha sonora foi composta em parceria com o jovem Antônio Carlos Jobim. Dessa união nasceram clássicos como “Se Todos Fossem Iguais a Você” e, mais tarde, a histórica “Garota de Ipanema”, canção que se tornaria um dos maiores símbolos da música brasileira no mundo. 

Vinicius ajudou a erguer as bases da bossa nova, movimento que uniu o lirismo das letras com a sofisticação harmônica, criando uma estética musical inovadora e universal. Sua poesia foi cantada por nomes como João Gilberto, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Elis Regina, Gal Costa, entre muitos outros.

Além de Tom Jobim, Vinicius formou duplas marcantes com Baden Powell (com quem compôs os “Afro-Sambas”), Carlos Lyra, Chico Buarque e Toquinho — este último parceiro fiel até os últimos anos de vida. Com Toquinho, criou canções como “Tarde em Itapoã”, “Como Dizia o Poeta” e “Testamento”, além de realizar shows memoráveis pelo Brasil e exterior. 

Apaixonado pela vida, Vinicius foi também célebre por seus amores: casou-se nove vezes e assumiu com naturalidade sua natureza romântica. Gostava de dizer que “a vida é a arte do encontro”, frase que resume bem sua filosofia: viver intensamente, celebrar a beleza, amar sem medo. 

Boêmio assumido, fumante, apreciador de uísque, Vinicius frequentava bares e rodas de samba, onde sentia pulsar a alma popular do Brasil. Mas foi, antes de tudo, um homem generoso, amigo fiel e atento às dores e alegrias do seu tempo. 

Vinicius de Moraes faleceu no Rio de Janeiro, em 09 de julho de 1980, aos 66 anos. Quarenta e cinco anos depois, continua vivo nos versos de “Soneto de Fidelidade”, nas melodias de “Chega de Saudade”, no frescor de “Garota de Ipanema” e na ternura de “Eu Sei Que Vou Te Amar”.

Sua obra, vasta, profunda e atemporal,  é uma das maiores heranças da cultura brasileira. Poeta, diplomata, compositor, cronista, roteirista, cantor: Vinicius foi, sobretudo, um homem que fez da própria existência um poema — e nos ensinou, com música e palavras, que viver vale mais quando é feito com paixão. 

Ao revisitarmos a trajetória fascinante de Vinicius de Moraes, não falamos apenas de datas ou de feitos artísticos. Falamos de um homem que fez da vida um ato contínuo de poesia, que transformou sentimentos em canções eternas e soube enxergar beleza mesmo nas imperfeições da alma humana. 

É impossível mensurar o tamanho de seu legado: Vinicius permanece vivo nas partituras, nos livros, nas memórias afetivas de quem ouviu suas palavras e sentiu, de perto, a força da sua sensibilidade. 

O Focus Portal Cultural, através do jornalista Alberto Araújo, tem a honra de prestar esta homenagem e fazer uma releitura de sua vida e obra, não apenas como um registro histórico, mas como um gesto de sincera admiração. Que seu lirismo continue a nos inspirar a celebrar o amor, a música e a arte como parte essencial de quem somos.

Focus Portal Cultural

@ Alberto Araújo

Vinicius de Moraes, 1960. Arquivo Nacional

Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, 1962

Maria Bethânia e Vinicius de Moraes, 1972. Arquivo Nacional

Vinicius com o poeta francês Pierre Seghers

Vinicius de Moraes e Toquinho em 1973










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