A velhice é como um rio que já correu rápido, já foi correnteza, já transbordou nas margens da juventude, mas que agora segue calmo, refletindo melhor o céu que passa.
Chega uma hora em que o corpo desaprende a pressa, mas o coração aprende outras urgências: a urgência do abraço, do perdão, da palavra dita antes que seja tarde. As pernas já não alcançam tão longe, mas o olhar vai mais fundo.
É no ritmo mais lento que percebemos o que sempre esteve ali: o cheiro do café, o canto do sabiá na manhã, a luz que entra pela janela e dança sobre o chão. Coisas que o passo apressado não deixava notar.
Velhice não é só perda, como tantos
pensam.
É também ganho:
ganha-se liberdade de ser quem
realmente se é, sem medo do julgamento.
Ganha-se paciência, porque se entende que nem tudo depende de nós. Ganha-se, sobretudo, a arte de valorizar aquilo que permanece quando quase tudo vai embora.
E se o corpo fraqueja, a alma, por vezes, floresce. Brota ali uma coragem tranquila: a de aceitar o que não se pode mudar, a de seguir vivendo, mesmo com ausências, mesmo com saudade.
No fim, envelhecer é descobrir que o mais precioso nunca foi o tempo que correu depressa, mas o que ficou: a lembrança viva de um amor, o calor de uma amizade antiga, o sorriso guardado na memória.
E é nisso que mora a beleza suave da velhice: na coragem de continuar amando a vida, mesmo quando ela caminha devagar.
© Alberto Araújo
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