domingo, 27 de julho de 2025

A SABEDORIA DOS DIAS LENTOS - PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO

A velhice é como um rio que já correu rápido, já foi correnteza, já transbordou nas margens da juventude, mas que agora segue calmo, refletindo melhor o céu que passa. 

Chega uma hora em que o corpo desaprende a pressa, mas o coração aprende outras urgências: a urgência do abraço, do perdão, da palavra dita antes que seja tarde. As pernas já não alcançam tão longe, mas o olhar vai mais fundo. 

É no ritmo mais lento que percebemos o que sempre esteve ali: o cheiro do café, o canto do sabiá na manhã, a luz que entra pela janela e dança sobre o chão. Coisas que o passo apressado não deixava notar.

Velhice não é só perda, como tantos pensam.

É também ganho:

ganha-se liberdade de ser quem realmente se é, sem medo do julgamento.

Ganha-se paciência, porque se entende que nem tudo depende de nós. Ganha-se, sobretudo, a arte de valorizar aquilo que permanece quando quase tudo vai embora. 

E se o corpo fraqueja, a alma, por vezes, floresce. Brota ali uma coragem tranquila: a de aceitar o que não se pode mudar, a de seguir vivendo, mesmo com ausências, mesmo com saudade. 

No fim, envelhecer é descobrir que o mais precioso nunca foi o tempo que correu depressa, mas o que ficou: a lembrança viva de um amor, o calor de uma amizade antiga, o sorriso guardado na memória. 

E é nisso que mora a beleza suave da velhice: na coragem de continuar amando a vida, mesmo quando ela caminha devagar.

© Alberto Araújo 




 

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